domingo, 26 de dezembro de 2010

Amar é...


Eu tive que fazer um bate-e-volta em São Paulo logo antes do Natal. Fui na quarta de noite (por causa da “tal” greve dos aeroviários) e voltei no dia 24, sexta, bem cedinho. Confesso que não estava ainda na batida natalina, mas comecei aos poucos a observar algumas curiosidades ao meu redor. Aliás, eu adoro observar as pessoas e seus rituais. No supermercado, fico cuidando que as pessoas colocam nos seus carrinhos para tentar adivinhar hábitos e gostos. No aeroporto, pode ser igualmente curioso. Pra começar, o perfil das pessoas que viajam neste período é bem diferente. Ao contrário dos executivos que lotam os aeroportos nos dias “comuns”, o que eu encontrei nesta viagem foram famílias inteiras viajando, cheias de expectativas e sonhos. Tinham olhares diferentes e, provavelmente, boa parte delas não tinha como rotina pegar um avião. Tudo bem. Até aí tudo normal. Quando cheguei no aeroporto de Porto Alegre na sexta bem cedinho, ainda meio dormindo, me dei conta do quanto o tal Natal mexe de verdade com as pessoas. E do quanto elas precisam desta “desculpa” para se reencontrarem e celebrarem. Na chegada, praticamente de madrugada (eram 8 horas da manhã) próximas à porta de saída da sala das bagagens, duas menininhas lindinhas e super arrumadas aguardavam ansiosas e sorridentes alguém que estava chegando. Eram uma atração à parte,. Super simpáticas, praticamente invadiram a área “proibida”. Assim como elas, muitas outras pessoas aguardavam emocionadas parentes e amigos que, provavelmente, não viam há tempos. Tinha faixa, flor, gente chorando, tirando foto. Uma loucura. Foi aí que eu “acordei” e me dei conta de que o tal do verdadeiro espírito de reunião do Natal existe, sim. Quando significa matar as saudades, abraçar pessoas queridas, vestir bebês lindos de papai noel (e tirar muitas fotos pras tias bobas) e, ainda que por pouco tempo, reunir a família. Pode ser uma família meio “postiça” (tem um bando de gente conhecida viajando que acabou passando o Natal com uma família emprestada), ou aquela família tradicionalzona mesmo, com vó, tios, cunhados inconvenientes (sempre tem um pra confirmar a regra), irmãos, namorados, enamorados, amigos. Se não temos tempo para falar para as pessoas queridas que as amamos, eis uma bela oportunidade para fazê-lo. E para reaprender a conviver em família, com todas as qualidades e defeitos que vêm no pacote. Afinal, amar é conviver com os defeitos do outro e ainda assim sermos capazes de ver e valorizar o que ele tem de bom.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mamães Noeis

Eu já escutei várias vezes a pergunta: "quem você gostaria de ser se não fosse você?" Olha, na verdade, sem nenhuma falsa modéstia, eu quero ser eu mesma. E quero ter orgulho disto. É pra isto que estamos aqui, não? Pra nos tornarmos pessoinhas melhores com o passar do tempo. Claro, eu não quero assumir a personalidade de ninguém (ufa), mas tenho que admitir que tem um monte de gente que me inspira, provoca, me emociona. Muitas destas pessoas são mulheres que passaram e/ou continuam na minha vida. Que me perdoem os homens (e eles têm uma importância enorme pra mim :), mas hoje eu resolvi valorizar as mulheres. Como está bem pertinho do Natal (sentiu o cheiro do peru assando?), decidi chamá-las carinhosamente de mamães noeis. Todas elas me deram muitos presentes. O mais bacana é que elas têm perfis completamente diferentes. Muitas não se conhecem e, provavelmente, não chegarão a se conhecer. E todas ajudaram a tecer esta Deinha que vos fala hoje. Algumas (poucas) secaram minhas lágrimas (a Deinha ainda é meio durona), mas todas riram comigo. Umas são companheiras de viagem. Outras, conselheiras, protetoras, boas ouvintes, sábias. Eu já tinha comentado num post anterior que eu tinha rascunhado um monte de coisas no avião no domingo passado. Comecei a fazer uma retrospectiva do ano e cheguei no nome de várias criaturinhas adoráveis. Cada uma do seu jeito. Vou logo avisando: vou esquecer alguém. Mesmo assim, decidi arriscar e nominá-las. Tem a mãe de verdade, a Irma, que é mãe coragem e uma fonte inesgotável de crescimento pra mim (cresço quando aprendo a lidar com ela, a amá-la acima de qualquer coisa). Tem a Carla, mana que tem se revelado sensata e amorosa nas nossas longas conversas telefônicas. Tem as irmãs postiças que a vida me deu: Januza, Lu, Dani "Jacutinga" e Angel, quatro mosqueteiras com quem dividi alegrias e tristezas. A Dani, além de todas as alegrias, nos deu ainda a Manu, um serzinho iluminado que enche de amor as nossas vidas. E a Lu, quem diria,  agora é mãe do Matheus, "o verdadeiro homem das nossas vidas". E tem ainda a prima/afilhada Soneli, mãe do delicioso João, meu afilhado querido - e lindo. Tem a Dani Furlan, amiga e bruxa, a Elizabeth, uma irmã mais velha postiça que a vida me deu. Tem as outras "mães" que me adotaram: a Preta, em Porto Alegre, e a Jurema, em São Paulo. Elas cuidam de mim. E tem as meio-mães, amigas, e quase sogras queridas, a Elisabete e a Rosinha, cada uma do seu jeito e todas elas super amorosas. Tem o trio Cris, Lia e Elisa, presentes do mestrado. E as queridas Helen, Cla, Patrícia e Mary, que me acompanham no trabalho há anos e me conhecem quase como as palmas das suas mãos. Ainda fruto do trabalho, a Ana e a Nati e, recentemente, a Carol. Anjos na minha vida. Tem as primas, madrinhas, tias - Loloca, Evelise, Clarissa, Tia Carminha e Tia Sônia. Todas moram longe, beem longe, mas se reaproximaram pelo Facebook e por outros meios digitais. Moderno isto. Foi também esta onda digital que me colocou em contato com ex-colegas do primeiro grau. Ex-professoras, pessoas que realimentaram minhas lembranças do passado. Pra fechar, tem a Monique, meu presente de final de ano. Uma guerreira iluminada que a vida me apresentou e que me surpreende a cada dia. Claro. Faltou um montão de gente. Tem aquelas que eu esqueci e as que eu nem conheci ainda. Não importa. Eu fiquei com vontade de falar e agora já foi. Pra todas elas, que se doaram generosamente para mim em algum momento das suas vidas, o meu obrigada. E todo o meu carinho neste Natal. Vocês são demais.

Correndo atrás do rabo

O meu dia hoje (ontem? ok, quarta) foi bem atípico. Pela primeira vez em muitos anos eu não fui a responsável pelo encontro de fim de ano da equipe. Deleguei absolutamente tudo a uma comissão interna, que tinham como objetivo construir do seu jeito o nosso ritual. Diria mais. Não é fácil me surpreender e eles sabem bem disto. Já fizemos de um tudo, com muita interação e adrenalina. Mesmo assim, eles me pegaram.  Foi em Porto Alegre. Sabendo do ritmo "anormal" que estamos vivendo neste fim de ano (fim de ano?), eles usaram outra fórmula, muito simples e bem tranquila. Nos "raptaram" num barco pelo Guaíba e nos levaram para um lugar lindo e sereno às margens do lago. Lá passamos um dia totalmente "zen". E fizeram mais. Convidaram um indiano, mestre em yoga, que passou a manhã inteira conosco, praticando, conversando, nos ajudando a ficarmos mais leves. Mais bacana ainda foram as paradas que, habilmente, o indiano, ou Dada, nos propiciou. Contou "causos", fez rituais e mostrou, metaforicamente, o quanto corremos sem saber para onde estamos indo. Segundo ele, na Índia, os veados produzem um perfume através de uma glândula que fica no cento do peito (cientificamente falando não deve ser bem isto, mas o que vale é a moral da história). Eles sentem o tal perfume e correm desesperadamente para "encontrá-lo". Só que o perfume está neles. Faz parte deles. E eles não veem. Quantas vezes não corremos "atrás dos nossos próprios rabos", dando círculos, batendo cabeça ou exercitando qualquer que seja a expressão cujo resultado é o mesmo: cansaço e sensação de fracasso? Hoje, durante nosso "percurso" com o Dada, ele nos fez parar e pensar sobre o ano que passou. Alguém já conseguiu fazer isto? Como ajeitar as meias no roupeiro, organizar as ideias ajuda a abrir caminho para o novo. Eu, que não tinha parado ainda, me peguei descobrindo o quão intenso foi 2010 na minha vida. Vivi altos e baixos de verdade, amei, sofri, viajei, conheci pessoas, assumi uma nova vida em uma nova cidade. Em resumo, em 2010, eu me permiti viver. Pro ano que vem, eu quero continuar com esta mesma coragem e intensidade. Quero ter aprendido com os erros, mas não quero cascas nem gosto amargo na boca. Quero ter consciência, paz de espírito e sabedoria para falar e calar nas horas certas. Resumindo, quero ser eu mesma, mas bastante desta "eu" que eu descobri há pouco e gostei. Se possível, quero fechar o ano que vem surpreendendo a mim mesma, mais uma vez.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Impermanência

Eu fui numa peça de teatro no ano passado que me marcou muito. Chamava-se "A Alma Imoral" e retratava, através de um monólogo, o livro do rabino Newton Bonder. Na peça, a atriz se dizia uma judia budista, ou algo assim. Eu tenho cada vez menos convicção de que religião eu sou de fato. Talvez eu não seja de nenhuma, ou um pouco de todas. Tendo, fortemente, a simpatizar com alguns conceitos budistas. Li alguns livros, conheci pessoas bacanas e visitei alguns templos. Estou até provocada a fazer viagens mais distantes neste mundo desconhecido, no sentido literal da frase. Um dos conceitos budistas que mais me chama a atenção é a questão da impermanência. Fomos "talhados" para acreditar que as coisas duram para sempre. O amor, os amigos, a vida. Se eu descubro quem escreveu a frase "e foram felizes para sempre", juro que eu pego. Ou a pessoa vivia num mundo rosa ou estava sendo bem irônica. Pois bem. Não duram. Na verdade, não nasceram para durar. Estamos aqui para cumprir um ciclo e, de preferência, para sairmos melhores do que entramos ao final dele. Não só na vida, mas em cada uma de nossas relações. Óbvio que amores maduros, que resistem ao tempo com respeito e companheirismo são lindos. Mas são verdadeiros achados. Amigos, idem. Eu tenho muitos conhecidos e poucos amigos de verdade. E tenho conseguido, felizmente, fazer novos diante da impermanência da minha vida nos últimos tempos. Tendo a achar que nos disseram que as coisas eram para sempre para que não sofrêssemos, para que pudéssemos acreditar que se ficássemos assim, quietinhos, embaixo da cama, não seríamos descobertos e continuaríamos numa mesma frequência. Nem mais nem menos. Aliás, eu conheço um monte de gente que tenta viver assim. Mas não adianta. O mundo ao redor do "debaixo da cama" muda, é impermanente. Agora que o fim de ano está chegando (chegou?) eu tenho questionado uma série de coisas. A origem dos rituais natalinos, a impermanência do tempo, que se esvai cada vez mais rápido, e o quanto desperdiçamos nossas vidas. Com bobagens, medos, minhocas da cabeça e sabotando nossa felicidade quando ela está ali, batendo na porta. Podia ser mais fácil. Eu continuo tentando. Alguém me acompanha?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O silêncio fala

Eu fiz a minha dissertação do mestrado sobre o ruído na comunicação entre empresas. Tentei encontrar, nas relações internas e, depois, nas relações com os clientes, o que "pegava" de verdade quando o assunto era entendimento de alguma coisa. Uma empresa, na verdade, representa um pedacinho da sociedade. É um micro ambiente muito similar àqueles que convivemos em nossas vidas. Com a família, com os amigos. Não adianta. Somos seres humanos e, como tal, um tanto iguais. Ok, tem diferenças importantes. Culturais, sociais e, hum, de sexo. Parece que homens e mulheres pensam / falam um pouco diferente. Ok, ok. Amenizei. Um monte. Na real, os homens não falam muito. Mal expressam alguns grunidos entre uma expressão e outra e cabe, a nós, mulheres e hábeis comunicadoras, decodificar o que foi emitido. Pois bem, tenho a dizer, minhas caras, que não somos tão hábeis assim neste quesito. E que, às vezes, este ruído de comunicação entre os sexos faz mal pra todo mundo. "Ah, mas eu pensei que..." Pensou nada. Fala. Uma pessoa que eu amo de paixão um dia me disse uma coisa muito sábia: os homens são burros, não entendem. Então, disse ele, fale. Tudo. Acho que a recíproca é verdadeira. Também queremos que eles falem ou que façam gestos que falem por eles. Mandar flores, um recadinho no celular, qualquer coisa. É o que o silêncio fala. Por outro lado, às vezes o silêncio pode ser um belo aliado. Quando nos calamos, estamos dando espaço para que nossos sentimentos verdadeiros fluam e, assim, evitamos magoar quem a gente ama. Beleza. Este silêncio é válido. Quase nobre, eu diria. Palavras têm poder. Machucam, cortam, magoam. Mas tem horas precisam ser ditas. Porque a gente precisa ouvir. Coisas boas, elogios, e um "eu te amo" de vez em quando só pra não perder a liga. Boa semana.
* by the way, fiquei uns dias em "silêncio" no blog justamente porque precisava organizar minhas ideias. Mas voltei cheia de assuntos que eu rascunhei durante o voo ontem à tarde, vindo para Porto Alegre. Vou postando aos poucos, à medida em que eu for digerindo tudo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Jornada das heroínas

Ontem eu fiquei algumas horas no telefone com algumas pessoas queridas. Telefone não, skype, senão o bolso não aguenta. Me dei de presente estas horinhas simplesmente porque estava exausta e não tinha coragem de sair na rua. Tudo parado, engarrafado. Foi bem bom. Estava com saudades desta coisa de jogar conversa fora, sem hora para acabar. Uma das pessoas com quem eu falei foi a Elisa, amigona de Curitiba. Ela vai ser a mãe da Fefê, que deve nascer a qualquer momento. E é uma das heroínas que eu encontrei na vida. A Elisa, na verdade, representa uma série de amigas minhas, mulheres poderosas que estão construindo suas jornadas. Ela comentou que ficou bem curiosa sobre os assuntos que eu andei escrevendo. Sobre o feminino, a jornada do heroi, as mulheres. Coincidência ou não, ontem eu também retomei a leitura do livro "O feminino e o sagrado", que já comentei no blog. Ele narra as histórias de vida de mulheres com diferentes experiências e que têm, em comum, grandes conquistas. Todas elas passaram por mudanças e tiveram que reinventarem-se a partir delas. Sofreram, quebraram a cara, buscaram alternativas espirituais, fortaleceram-se e recomeçaram suas vidas. Diferentes, melhores, mais fortes. Em comum, também, elas tiveram coragem de enfrentar seus fantasmas, de entrar na floresta e de, em alguns momentos importantes, buscarem dentro de si respostas que não encontraram lá fora. Eu tenho gostado muito de ficar sozinha, remoendo minhas ideias, pensando na vida. Parece que quando eu estou no meu cantinho, comigo mesma, uma paz invade minha alma e eu consigo respirar de verdade. Nestas horas, tenho pensado na minha jornada. E em como queimar um pedaço da minha fantasia de Mulher Maravilha. Combinei com a Elisa que poderíamos fazer um ritual e incendiarmos juntas as nossas fantasias. Para construir outras, diferentes, inesperadas, mais leves. Pra isto, vamos precisar trocar ideias e, literalmente, nos despirmos de pre-conceitos. Considerando que grande parte destas mulheres maravilhosas que eu citei está num momento bem parecido na vida, acho que vai ter muita fumaça por aí. Não nos assustemos. Renascer das cinzas é tão mitológico quanto percorrer a jornada do heroi. E pode ser ainda mais divertido.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chuva de adrenalina

Ontem choveu aos cântaros aqui na terra da garoa. Fazia tempo que eu não via tanta água. Ela vinha de todos os lados e criava uma cortina na minha janela que fazia tudo a mais de 10 metros desaparecer por completo. Claro, o trânsito virou um caos, as pessoas não chegaram, se atrasaram, reclamaram. Hoje, choveu de novo. Não tanto quanto ontem, mas o suficiente para alterar os ânimos das pessoas. Na volta para casa, já meio tarde da noite, fui fechada por uns três carros no trânsito e vi um acidente bem feio que tinha acabado de acontecer. Nossa. Os nervos estão mesmo à flor da pele. Tem a ver com a tal histeria natalina, que eu detesto (ah!!! tenho que comprar presentes... ah!!!! preciso lembrar do peru...). Pode ter a ver também com o tal fechamento de ciclos que a conjunção astral do momento está criando. Muita coisa. Ok, Mas deu, né? Danem-se o peru, os astros, os presentinhos. Pra mim, o ano não tem a menor pinta de que está acabando. É meio estranho me dar conta de que o Natal já é na semana que vem e eu estou ainda tão ligada. Eu mais alguns milhões de pessoas. Quando eu estava no colégio, o fim de novembro já anunciava um período de paz. Conseguíamos nos preparar de verdade para o fim do ano. Agora, não dá tempo. Parece que seremos anestesiados a qualquer momento e, quando nos dermos conta, já estaremos em 2011. Pior, hoje quase não usamos cheque. Como lembrar que o ano mudou se não vamos deixar previamente preenchidas das datas das folhas do talão? Eu só sei que eu quero um pouco de paz. E vejo, pelos desabafos on line e off line, que este não é um desejo só meu. Parece que não tem mais como acelerar. Vai ter correria, sim, talvez alguns voos atrasem, as estradas estarão cheias e os estacionamentos dos shoppings, impraticáveis. Então, se esta é a realidade, e sabemos disto, pra que sofrer? Nos desesperando ou não, o ano vai virar, a chuva vai continuar caindo e os astros vão fazer as conexões que forem necessárias. E sequer vão nos consultar. Então, se eu fosse você, fugiria da chuva de adrenalina e experimentaria aventurar-me num banho de chuva de verdade.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gente que gosta de gente

Neste final de semana eu acabei vivendo uma rotina atípica. Fiquei algumas horas num hospital, dando conforto psicológico para as familiares de uma paciente que iria se operar. Coisas da vida. Virei a noite com elas, conversando, falando sobre o sexo dos anjos, confortando. Minha única preocupação era deixar aquela espera o mais leve possível. Até porque eu já passei por situações similares e sei bem o quanto os ponteiros do relógio travam em horas como esta. O fato é que eu pude viver uma verdadeira experiência antropológica. Convivi com diferentes personagens e me surpreendi, positiva e negativamente, com as pessoas. Foi num hospital. Mas poderia ter sido num hotel, num restaurante. Só que lá, pela situação, tudo ficou ainda mais delicado. Pois bem, encontrei médicos dedicados e dispostos a colaborarem uns com os outros, que, mesmo virados e morrendo de sono, preocuparam-se em atualizar a família sobre o que estava acontecendo. Mas, contrapondo-se à delicadeza e generosidade da equipe médica, fui (junto com a família) "gentilmente" convidada a me retirar da sala de espera por um segurança 2X1 (2 metros de altura X 1 de largura). Segundo ele, "cumpria ordens" (sabe-se lá de quem) e, como era madrugada, não poderíamos aguardar onde estávamos. Fomos para  o espaço da emergência, junto com os demais pacientes. Luz forte na cara, ar condicionado no neve. No nosso cantinho anterior, estava escurinho, silencioso e, quando o troglodita se aproximou, finalmente a prima da familiar, tida como uma filha, ameaçava cochilar. Não estou questionando as regras nem a organização das instituições. Estou falando em civilidade, sensibilidade, em seres humanos. Se uma enfermeira tivesse se aproximado gentilmente e comentado o caso, teríamos saído e buscado outro lugar para aguardar. Mas não foi o que aconteceu. Pior, a cada troca de turno, tínhamos que nos apresentar de novo e comentar o quão atípica era aquela situação bla bla bla. Saí de lá exausta, sugada, triste, inconformada.Tá faltando comunicação. Tá faltando gente que gosta de gente. Cada vez mais parece que somos números, senhas, códigos. Dia destes eu fui apresentada a um planejamento de design estratégico de uma menina brilhante. Coincidência ou não, ela tinha proposto um plano para, com pequenas medidas, dar mais conforto e tranquilidade a pacientes de um hospital durante a realização dos exames. Coisas simples, mas muito humanas. Será que algum dia alguém vai se dar conta disto? Será que as pessoas voltarão a se falar e a se tratarem como gente de verdade? Viramos máquinas ligadas no automático. Hellooooo! Alguém sabe onde desliga esta coisa?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cartas na rede

Quando eu tinha uns 15 anos, meu namorado na época foi fazer faculdade em Porto Alegre. Eu ainda morava no interior do RS e falávamos por telefone (eventualmente, porque era caro) e por carta. Sim. Aquele papelzinho branco cheio de palavras a caneta dentro de um envelope, enviado pelo correio. Era bem legal o ritual de esperar a tal carta chegar e saber das novidades. Ainda falando do TEDx Da Luz em São Paulo, "me caíram os butiás do bolso*" com a apresentação de Johanna Blakley, especialista em tendências. Ela falou do fim dos gêneros, do quão defasadas estão as pesquisas que ainda usam categorias demográficas. Hoje, sua faixa etária, faixa salarial e saber quantas geladeiras você tem em casa diz muito pouco sobre você. Mas basta entrar no Facebook para, em alguns segundos, descobrir o que alguém está pensando ou sentindo. Mais ainda, as redes sociais conectam as pessoas de forma quase instantânea. Tenho usado mais o Facebook para "conversar" com pessoas, por chat ou através de comentários que o próprio Skype, telefone ou SMS. Parece que eu estou mais próxima delas quando falo depois de "tirar uma febre" dos seus estados de espírito. Segundo Jaohanna, no TED, nos conectar com pessoas de acordo com nossos interesses faz muito sentido. E a mídia não precisa mais fazer esta conexão. Talvez ela nem sirva mais para este propósito. Nas redes sociais, tem o que eu gosto. Monitorado. As "taste communities" aproximam pessoas por valores interesses compartilhados. E isto fala muito de você. Saber quais as coisas pelas quais as pessoas se apaixonam, o que elas fazem no tempo livre, isto sim faz muito sentido. Talvez não estejamos mais trocando cartas. Eu, como boa nostálgica, ainda tenho o hábito de enviar postais quando viajo, para não perder o hábito. Mas tenho a sensação de que estamos retomando a proximidade com as pessoas simplesmente utilizando novas formas de postar nossos sentimentos. Mudou o meio. Não a nossa necessidade de falarmos. A diferença é que agora temos espectadores acompanhando nossas vidas. O que, para mim, ainda soa meio estranho.

* "me caíram os butiás do bolso" é uma expressão beeeeeeem gaúcha. Butiá, pra quem não sabe, é uma frutinha amarela, pequena, geralmente usada para fazer "licor de butiá". A expressão representa surpresa, espanto. Imagino a cena que deu origem à frase: alguém com os bolsos cheios de butiás tomando um susto tão grande por alguma coisa que deixa todos caírem no chão. A expressão "correta" mesmo é "me caiu os butiás do bolso". Mas dei uma ajeitada pra não ficar assim tão feio :)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Que sutiã, que nada!

Fui convidada para participar do encontro em São Paulo que passaria, ao vivo, o TED Women, nos Estados Unidos. Assim como foi feito aqui, muitas outras praças no mundo inteiro compraram os direitos de transmitir o evento para um grupo de mulheres, em sua imensa maioria,  para, além de assimilar o que foi dito, proporcionar uma troca entre as participantes. Por aqui, a corajosa empreendedora da ideia foi a Mariana Cogswell, uma daquelas pessoas iluminadas que não passam em vão pela vida da gente. A Mariana juntou-se com mais algumas outras sonhadoras / realizadoras e, assim, entre um café e outro, decidiram "peitar" a ideia e tocar adiante. Eis que surgiu o TEDx Da Luz. Felizmente, aos 47s do segundo tempo conseguiram um patrocínio, que facilitou um pouco a jornada heroica de todas elas. O encontro, desenhado nos moldes do TED, apresentou uma série de provocações, cada uma delas com no máximo 15 minutos. O intuito é disseminar ideias que mereçam ser espalhadas. E foram muitas. Eu não consegui assistir a todas as palestras. Difícil sair dois dias inteiros. Mas aproveitei boa parte do evento e, além de assimilar muuuuita informação, conheci pessoas bem legais. Tá, do que foi falado? De muita coisa. Mas, basicamente, de como as mulheres e meninas estão redesenhando o futuro. O que as gestadoras (e não gestoras) do futuro estão pensando? O que elas querem? Do que se alimentam? No palco, diferentes identidades. Quase todas inteiramente vestidas de preto, para ressaltar ainda mais o que estava sendo dito, pensado, colocado pra fora. Médicas, antropólogas, urbanistas, designers, especialistas em robótica, ativistas políticas, mulheres, enfim. O mais bacana desta história toda (que eu continuo degustando sem pressa na minha cabeça) é que nenhuma delas tinha um tom agressivo. Ninguém falou em feminismo. Mas em feminino. As mulheres chegaram ao poder, sim. Mas precisaram se masculinizar muitas vezes para tanto. O que foi exposto / provocado no encontro é um resgate do que é feminino de verdade e do quanto as qualidades ligadas a este ser podem ser ricas para a sociedade. Alguém falou em queimar sutiãs? Claro que não. Até porque, hoje em dia, eles estão caros demais para serem desperdiçados.

* as fotos do evento em SP já estão na rede: http://www.flickr.com/photos/carolina_andrade/sets/72157625430463925/with/5244567225/

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cestinha de realizações

Existem "n" formas de colocar pra fora o que estamos sentindo. Escrevendo, falando, ficando quietinho, remoendo. Boa parte delas acaba fazendo mal pra gente. Pior, às vezes faz mal para os outros. Normalmente para pessoas que amamos muito. As palavras têm poder. Tem gente que fala que quando estamos com muita raiva de alguém o melhor a fazer é escrever todas as barbaridades que falaríamos para esta pessoa num papel. Chutar o balde mesmo, sem piedade. Depois, é só ler tudo de novo e, dependendo do quanto aquele sentimento tiver acalmado, rasgar o papel, colocar fogo ou usar a criatividade e fazer um ritual destrutivo qualquer. Assim, estaríamos colocando para fora sentimentos ruins (e não criaríamos úlceras) e não magoaríamos (tanto) pessoas queridas. É que geralmente este tipo de ação tem a ver com colocar para fora coisas ruins. Dia destes uma amiga me propôs uma tentativa tão simples quanto, só que mais construtiva. Ela me provocou para comprar uma cestinha, bonitinha, e escrever em pequenos papeis as minhas realizações. Coisas bacanas, que me tocaram, me fizeram feliz. Um elogio que eu tenha recebido, um dia em que eu tenha acordado e me sentido mais bonita, uma boa ação que eu fiz, um presente que eu me dei. Sei lá. Só coisas boas. A ideia é fazer o processo quase ao inverso. Juntar este monte de coisas boas na tal cestinha e, num daqueles dias em que o mundo parece meio cinza, sentar e abrir cada um dos tais papeis, pra reviver os momentos bons e deixar a vida mais leve. Vale quase tanto quanto uma barra de chocolate. E não engorda. Agora que o fim de ano está chegando, de repente a ideia pode "dar cria" e tornar-se um gostoso momento com a família e os amigos. Por que não abrir os tais papeis (e a alma) durante a noite do Natal para compartilhar com quem você ama seus bons momentos de 2010?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Julieta de bobes

Ainda remoendo tudo o que eu anotei durante a palestra sobre a jornada do heroi das mulheres na semana passada, conversei com várias pessoas durante o fim de semana e "reapresentei" a elas o que eu descobri durante o encontro. Muito divertidas as reações e ver as fichas caindo. Ninguém disse que o que foi dito é "verdade assim verdadeira", mas que tem algum sentido, ah, isto tem. Uma das coisas mais divertidas / assustadoras do que foi comentado foi que as relações que nos ensinaram como sendo "modelos" em nossas vidas, como Romeu e Julieta, terminaram no seu auge. Ou seja, eram paixões proibidas e intensas e, como tal, acabaram mal. Geralmente com uma tragédia. A pergunta que não quer calar é: o que teria sido da Julieta se tivesse se casado com Romeu? Imaginemos que eles tenham conseguido convencer a família de seu amor e que não tenham morrido tão jovens. Como seria a rotina do casal? Você consegue imaginar a Julieta de bobes no cabelo e o Romeu barrigudo, de pijama, agarrado ao controle remoto da televisão? Filhos correndo pela casa e contas a pagar? Pois é, a vida real não tem tanta poesia assim. Vamos adiante. O que terá sido da Cinderela depois que colocou o sapato e encontrou o príncipe? E a Branca de Neve? Ninguém nos contou como seria a continuidade das histórias. "E viveram felizes para sempre" é beeeem vago. Falando nisto, sabe o príncipe? Aquele do cavalo branco. Pois é, ele não existe. Segundo as autoras, o príncipe encantado, aquele que adivinha os nossos desejos, nos protege e e traz segurança é a mamãe idealizada e boa de cama. Ou seja, um desejo infantil de não enfrentarmos a vida. Ai. Ok, ok. Nem vamos seguir e comentar as comédias românticas americanas. Alguém já viu algo parecido na vida real? Pois bem, nem sempre o mundo é tão rosa. Nosso príncipe da vida real talvez tenha mais ares de Shrek e nem por isto seja incapaz de amar. Não somos princesas e, apesar de amarmos sapatos, nenhum deles é de cristal. Mas podemos ajudar com camisolas bonitas, um perfume gostoso e um mimo de vez em quando, que ninguém é de ferro. Vale para o príncipe, que pode, e deve, dar flores (seeeempre) e nos surpreender de vez em quando. Só uma ideia e/ou um convite. Quem sabe nas nossas relações tentamos ser mais realistas e menos idealistas?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tristão e Isolda

Esta noite eu fui apresentada à história lendária de Tristão e Isolda. Ele, um cavaleiro, e ela, uma princesa irlandesa. Tiveram um amor intenso e, como a maior parte deles, um final trágico. Fui também apresentada às ideias e à obra de Cris e Bia (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro), que escreveram  "O feminino e o sagrado - Mulheres na jordada no heroi". Interessante porque ontem justo a pessoa que me provocou para ir no tal encontro me enviou  uma reportagem sobre mulheres alpha (a grosso modo, mulheres poderosas que estão conquistando novos espaços na sociedade e não têm encontrado eco em suas ações diante das "regras sociais"). Nossa, muita informação! E o meu cérebro começa a fervilhar. Durante a faculdade, eu fiz minha dissertação baseada na história da mulher na sociedade, comparando propagandas da década de 40 com a de 90. Para embasar meus estudos, tive a impagável oportunidade de receber do meu orientador, Wladimir Ungaretti livros raros sobre o feminismo. Obras que mexeram com os meus conceitos e minha visão de mundo. A junção destas informações começa a fazer muito sentido pra mim e para o momento que eu estou vivendo, de redescoberta de mim mesma. No encontro desta noite, as autoras "mataram" o príncipe encantado e apresentaram uma possibilidade de relação de verdade entre duas pessoas. Uma relação madura, construtiva e, com tudo isto, difícil. Apresentaram-na (a relação) como uma alternativa de descoberta pessoal. Falaram em escolhas, no amor como experiência (e não como símbolo de convenções sociais) e da nossa percepção como indivíduos a partir do outro. Colocaram o dedo em feridas e contaram de forma bem humorada e inteligente que o mundo não é rosa. Eu ainda estou digerido tudo o que vi / ouvi. Comprei o livro, fiz mil anotações, mas confesso que o processador ainda não deu conta de tudo. Acho que se eu dormir, as ideias devem começar a se organizar. Tenho alguns outros livros para ler, filmes para assistir e fichas para cair. Prometo que vou compartilhando o que vier. E as descobertas destas mexidas todas. Boa noite.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Risoto de ideias

Agora há pouco nós fizemos uma "reunião-almoço" com a equipe aqui da "firma". Os risotos estavam deliciosos. O papo, mais saboroso ainda. Na verdade, o que fizemos foi resgatar um velho hábito que tínhamos e que acabou ficando meio pra trás por causa da tal correria do dia-a-dia. Sempre ela...
Pois bem, nós "inventamos" certa vez uma horinha para sentarmos todos, da equipe, e falarmos sobre um tema. Como não tinha tempo para reunir todo mundo, acabamos fazendo isto na hora do almoço, com alguns comes e bebes juntos. A tal iniciativa "deu cria" e gerou um encontro oficial mensal, onde, cada vez, uma pessoa da equipe trazia um tema relevante para trocar com o resto da turma. Cada vez mais eu tenho me dado conta da importância destes pequenos momentos onde conseguimos sair um pouco da rotina e simplesmente trocar ideias. Toda vez que eu sou convidada para "tomar café" com alguém ou almoçar eu tenho o péssimo hábito de, inicialmente, pensar que é uma perda de tempo, que eu tenho mais o que fazer. Mas quando eu vou, dificilmente me arrependo. Geralmente tenho insights, saio dos cafés cheia de ideias e renovada. Isto que eu nem tomo café. Já pensou se tomasse?
Ontem eu me permiti fazer uma reunião num café bem legal aqui em Porto Alegre (ainda estou na terrinha). Uma delícia, sem telefones tocando e com novas possibilidades espaciais e de interação. Falamos o tempo todo em inovação, em fazer diferente, desconstruir velhos padrões. Mas, na prática, acabamos sempre buscando âncoras em velhos conceitos. Ter horário, lugar fixo pra trabalhar. Tudo isto engessa, limita e até sufoca, às vezes. Claro, trabalhar em equipe exige alguma disciplina e alguns rituais importantes, de encontros, trocas. Mas quem disse que isto tudo tem que ser do jeito que tem sido? Com as pessoas de sempre e, claro, com resultados sempre muito parecidos. Estou doida pra fazer diferente. Pra conhecer gente de outras áreas, pra reinventar algumas coisas. Deve ser a pulguinha do fim de ano que começa a aparecer. Que ela traga novas inquietações. Estou louca pra entrar em 2011 com novos projetos. Vai um café aí?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Universos paralelos

Sábado passado o "mundorosadedeinha" completou um mês de vida. Nada mais simbólico do que eu simplesmente ter "esquecido" dele justo neste dia. No final de semana, eu me permiti sair fora, literalmente, e fui passar dois dias em um "universo paralelo" à minha atual vida agitada paulistana. Sem computador, sem internet e, em alguns momentos, até sem celular. Acreditem. Eu sobrevivi :) Fui para o interior do RS visitar minha família, comer comida da mamãe, rever locais da minha infância e me reencontrar em velhas lembranças. Fui até no rio Jacuí, acompanhar corajosos nadadores que se adentraram nas suas águas profundas como crianças de 12 anos em uma piscina gigante. Eu, claro, como espectadora. Fui no restaurante que eu ia com meus pais e irmãos desde que me conheço por gente. Tudo igual. Tudo. O gosto da comida, as mesas, as toalhas e os garçons. Sim, os garçons são os mesmos. Só que estão velhos. No dia seguinte, fui ainda mais longe. Para Dona Francisca, uma cidade italiana muito pequena e super charmosinha. Fui para uma festa tipicamente italiana de uma família que lançou o livro com sua história. Comilança, muita música e pessoas radiantes ao reencontrarem os seus, alguns mais de 30 anos depois. Hoje estou de volta ao mundo virtual e à realidade das capitais. Mas voltei diferente. Nostálgica, serena, talvez uns 200 gramas mais gorda (não é fácil colocar calorias neste corpinho teimoso). E voltei também com a certeza de que são os rituais que nos renovam e alimentam. Completar um mês de blog, um ano de vida, comer galeto com a família, tirar fotos, buscar as nossas origens. Precisamos disto para nos entendermos como gente, para encontrarmos sentido para nossa vida. Ter histórias para contar, enfim. Neste final de semana, escrevi mais um capítulo da minha. Em um universo paralelo, bem diferente do que tem sido a minha rotina. Bem mais pés na terra, pés no chão. E, ao mesmo tempo, um ambiente muito, muito familiar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mexendo nas gavetas

Sabe quando dá aquele "surto" e você começa a tirar tudo de dentro da bolsa pra fazer uma "faxina" e ver o que serve e o que não serve? Vale para aqueles domingos em que colocamos o roupeiro abaixo ou quando começamos a fuçar nos papeis do passado. Eu, particularmente, sou a rainha dos 5Ss. A-do-ro colocar coisas fora, renovar, limpar as "energias paradas". Mas tenho descoberto em muitas conversas comigo mesma, com amigos (ok, ok, com alguma dose de terapia) que eu tenho certa dificuldade pra mexer nas gavetinhas do passado. Eu e a torcida do Flamengo, talvez. Well, descobri também que quando estamos mexendo fisicamente nos objetos, reorganizando-os em novos lugares, doando coisas velhas, varrendo a casa, limpando a geladeira bla bla bla, estamos, na verdade, tentando colocar pra fora o que estamos sentindo por dentro. E quando organizamos alguma coisa externa, estamos abrindo a mente para começar a organizar também as internas. Estou vivendo um momento bem importante dentro desta onda de mexer nas gavetas. Tenho encontrado algumas cobras e lagartos, mas também boas surpresas escondidas no fundo do baú. Recomeçar a escrever, por exemplo. Tava lá, tímido, no meio das meias velhas, doido pra tomar um sol. E agora veio. Só que as gavetinhas são muitas. E não abrem numa ordem muito lógica ou cronológica. Aliás, na minha vida quase nada tem uma ordem muito certinha - e eu também descobri que isto não é um defeito. É só um jeito meu, ora. Ufa. Estou me divertindo com a brincadeira, mas confesso que às vezes dá vontade de empurrar toda a tralha pra dentro do armário, chavear a porta e engolir a chave. Que nem desenho animado. Mas, agora que eu comecei a arrumar, não tem jeito. Vou ter que colocar ordem na casa. Vamos que vamos. Sem dramas. Ooooooommmmmmm.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desplugando 2010

Tem alguns raros momentos do dia em que eu consigo me desligar de verdade. Dos outros. Não de mim. Me desconectar de mim mesma é uma tarefa um pouco mais árdua. Mas sair fora do mundo para pensar nas minhas coisas é algo que me agrada e que tem sido cada vez mais raro depois do surgimento do tal telefone celular e das milhares de formas de conexão que nos atropelam. Parece que a gente tem uma certa obrigação de estar disponível e "on line" o tempo inteiro. Minha mãe é feliz e não sabe. Ela até hoje não tem celular e não sente a menor falta. Pois bem, também não é no yoga que eu consigo este exercício. Durante a aula eu relaxo e presto a atenção no meu corpo, na respiração. No começo, confesso, eu fazia mentalmente a lista do supermercado durante a meditação. Hoje eu até consigo fechar os olhos e me concentrar nas palavras do professor. Belo progresso. Mas eu realmente penso na minha vida em dois momentos bem específicos: enquanto eu tomo banho e quando estou dirigindo. Tomar banho é, para mim, como se livrar de toda a carga do dia que passou. Uma oportunidade para renovar as células e as ideias. Fora o banho, é no trânsito que as ideias fluem de verdade. Não sei bem explicar, mas eu fecho os vidros e a minha cabeça começa a funcionar. Aqui em São Paulo, tem uma "vantagem" adicional. Chama-se engarrafamento. O Carpinejar fala que o engarramento é uma desculpa pras mulheres retocarem a maquiagem. Pra mim, além disto, claro, é uma bela chance para eu organizar as ideias. Eu ligo o som e saio de mim. Na estrada também. Tem dias que eu tenho vontade de pegar a estrada só pra pensar na vida. É como arrumar o armário. Só que "ao ar livre" e com um pouco mais de velocidade. O fim do ano está aí. Todas (eu disse todas) as pessoas com quem eu tenho falado estão nos seus limites. Com olheiras, contando os dias na folhinha para comerem o peru e descansarem uns dias. Parece que nesta época do ano o botão do stress vem com tudo e fica martelando a cabeça da gente o tempo inteiro. Aí vêm as viroses, os piripaques, os chiliques. Well, tenho duas boas notícias: dezembro já está chegando. Semana que vem ele já está aí. A segunda vale mais se você vive em capitais. Neste caso, terá a imperdível oportunidade de fazer do limão uma limonada. E reencontrar você e seus pensamentos enquanto aguarda o trânsito natalino fluir. Pra ficar melhor ainda? Ah. Só se você conseguir não atender o celular.

Tempo e vida



Eu já tava incomodada com a tal história do tempo que se esvai, com a liquidez das relações. Aí veio o Saramago e me fez remoer ainda mais sobre o assunto. No documentário, ele falou muitas vezes sobre o tempo e a necessidade de deixarmos que as coisas amadureçam na vida. Cada coisa no seu tempo. Tem que respeitar. Por outro lado, ele apresenta o conceito de velhice como "uma perda irreparável ao acabar de cada dia". E aí, como conviver com estes dois extremos? Corremos contra o tempo o tempo todo. Para aproveitarmos as oportunidades, para vivermos a vida e não deixarmos que ela nos engula. O trânsito come nosso tempo, a agenda também. E aí queremos encontrar os amigos, sermos bons profissionais, filhos, amantes e ainda termos tempo para fazer ginástica e  ler bons livros "calmamente" à noite. Ui. Complicado, não? Eu tenho marcado e desmarcado vários cafés e almoços com pessoas queridas. Hoje é um destes dias. Tenho um almoço encantado agendado com uma amiga e que hoje, aos trancos e barrancos, vai acontecer. Tô ainda gripada, meio branca, apagada. Mas vou encontrá-la. Agora é quase uma questão de honra. Saramago falou também que vida é agitação, atividade, movimento. Pilar comentou que "hay de desdramatizar". Ok, então. Vamos à vida. Simone, hoje, quase um mês depois, vamos comemorar o teu aniversário :)

domingo, 21 de novembro de 2010

High Touch

Tenho tido a oportunidade de conhecer / explorar lugares bem diferentes e bacanas em São Paulo. São lojas-conceito, restaurantes temáticos, espaços lúdicos nas mais diversas áreas. Obviamente, não consumo em cada um deles, até porque a fatura seria alta, mas tenho disposição e curiosidade suficientes para espiar o que acontece nestes recantos por aí afora. Em comum, todos eles têm um toque de high touch. Eu explico. Este conceito eu incorporei de José Carlos Teixeira Moreira, uma figura brilhante que me acolheu na terra da garoa e que tem sempre pontos de vista curiosos sobre as coisas. Ele fala que é preciso mesclar o high tech com o high touch, ou seja, que mesmo com o auge da tecnologia, não podemos esquecer das coisas simples, que são as que verdadeiramente tocam. São os detalhes, os cheiros, as experiências, enfim. Quando saímos de casa para jantar, não estamos buscando somente um prato gostoso para saciar nossa fome. Buscamos contextos, ambientes prazeirosos que nos propiciem experiências únicas. Cada vez mais, as lojas vendem menos produtos. Elas oferecem sensações. Nas livrarias, as pessoas podem passar uma tarde inteira "saboreando" um livro sem gastar um tostão. Nos cafés, da mesma forma. Pode-se pedir um expresso e ficar uma tarde toda lendo revistas ou conectado à internet sem que ninguém venha nos importunar. O curioso é que este tal espaço aconchegante que buscamos "lá fora" tem muito a ver com o casulo que buscamos dentro de nós, em nossas memórias de infância, ao revivermos cenas e sensações que nos marcaram. Dentro de uma onda de "menos é mais", o luxo pelo luxo começa a dar espaço para o que é realmente autêntico e simples. Chegamos no auge do tech. Agora nossa sede é de experiências e sensações. 

sábado, 20 de novembro de 2010

José e Pilar

Eu tinha escutado pouco sobre a tal Pilar na vida do Saramago. Na verdade, eu também tinha interagido pouco com ele e sua obra até bem pouco tempo atrás. Mas quando eu fui apresentada  àquela linguagem, muita coisa mudou. Hoje, depois de assistir ao documentário "José e Pilar", mais coisas mudaram. Segundo o Saramago, ele era uma pessoa desassossegada com a missão de desassossegar as pessoas. Bueno. Conseguiu. O filme mostra basicamente a relação dele com a Pilar nos seus últimos anos de vida. Nada de roteiros elaborados, cenas mirabolantes. Retrata uma rotina de um casal apaixonado, idealista, inquieto. Existiu um Saramago antes e depois da Pilar. E isto ele deixa claro o tempo todo. Ela, uma mulher forte, jornalista, sabia o que queria quando o abordou e disse que queria conhecê-lo melhor. Ela o admirava. E a partir daquele dia, ele passou a admirá-la. Tiveram 20 e poucos anos intensos juntos. Ele começou a escrever comercialmente depois dos sessenta e tinha uma consciência absurda da urgência em colocar para fora suas palavras. E Pilar representou, durante este tempo todo, a energia vital que o fez viver e se expressar com tanta intensidade.  Saramago tinha senso de humor, convicções, mas era sereno e paciente. Pilar, por sua vez, transpirava força e garra. Segundo ela, é preciso "desdramatizar" a vida. E foi assim que a mistura destes ingredientes tão intrigantes deu origem a obras tão notáveis. "A viagem do elefante" foi a última delas, escrita com muitas pausas (Saramago adoeceu durante o "percurso"). Na verdade, Pilar e o elefante foram fundamentais para que Saramago vivesse mais algum tempo, período este em que ele pode amadurecer e curtir boa parte do que criou. Saramago morreu mas não sei foi. Ele não teve filhos. Mas teve Pilar e uma história de amor que não está nos livros. E que se perpetua em todas as dedicatórias que fez em cada uma de suas obras. E também na fundação que leva seu nome e que hoje, claro, é tocada por esta mulher vibrante que mudou sua vida. Sem Pilar, Saramago teria sido outro. Assim como somos novas pessoas quando encontramos pelo caminho pessoas que têm a coragem de nos desassossegar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

3 "efes"

O nome dele é Fernando Fortes Félix de Oliveira. Quase nome de rei. Tem os 3 "efes" pra mostrar que é filhote da mamãe (e que também é forte) e do papai (Félix, viril). Mas que também tem personalidade própria, ora bolas. Este apelido de 3 "efes" foi dado pelo José Abel, capataz da fazenda e um dos tantos que sempre admiraram e cuidaram do pequeno caçula da família. Ele também teve outros apelidos ao longo da vida. Tio Nando, Mano, Mufa (tem gente que até hoje não sabe que o Mufa é o Fernando). Nunca teve apelidos diminutivos, tipo Fernandinho. Parece que não combinam com ele. Pra mim, ele é o mano. Simples assim. Um guri querido, educado e idealista. Demorou pra cair a ficha do mano sobre o mundo. Demorou pra ele se encontrar. Sempre culto, criativo, inteligente, ele viveu uma adolescência estendida. Curtiu a vida, Cachoeira, os amigos, até que foi parar na capital e despertou de verdade para um monte de coisas. O guri, que já era o orgulho da D. Irma, tornou-se referência para um monte de gente. Parece que ligaram a criatura na tomada. Pior, além disto, ele está cada dia mais bonito e charmoso. Minhas amigas que o digam. Está bonito porque está feliz, se realizando, conquistando coisas novas. Parece que os e "efes" ficaram pequenos demais pra tudo o que o Fernando tem escrito por aí. Ele é o Fernando, é Forte e é Félix, mas é também batalhador, amoroso, sensível (ele chorou no show do Paul, que querido) amigo leal, roqueiro, sonhador. Hoje o Mano tá de aniversário. Tá completando a idade de Cristo. Estamos distantes fisicamente, mas parece que nunca estivemos tão próximos. Talvez porque estejamos vivendo novos momentos em nossas vidas. Talvez porque tenhamos muitos objetivos em comum na vida. Ou simplesmente porque somos frutas do mesmo pé, buscando nosso lugar ao sol. Tenho muito orgulho de ti, guri. Te amo! Feliz Aniversário!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cof cof

Uma vez alguém me disse que sempre saímos melhores de uma gripe. Segundo esta mesma pessoa, depois dela nosso sistema imunológico fica mais forte e acabamos aprendendo com a experiência. Nem que seja aprender a ficar quieto, algo não muito fácil para pessoas ativas como eu. A gripe é como um castigo pra quem não se comportou e pensou que era super heroi. Ela vem pra te lembrar que és mortal. Mas ninguém gosta de ficar "amolado", com febre e dor no corpo. Por coincidência ou não, na semana que passou várias pessoas perto de mim estão resfriadas, com sinusite, rinite e outras tantas "ites" da vida. Seria por causa do tempo louco? Ou pela falta de tempo para nós mesmos? Uma outra pessoa igualmente esclarecida sempre me fala que, na vida, se não vai no amor, vai na dor. Se está faltando pilha pra você também, sugiro que beba muita água, respire e durma direito. Eu não segui muito bem as recomendações.E comigo não foi no amor. Cof cof.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pequenos aprendizes

Tenho ficado cada dia mais impressionada com a "performance" dos pequenos diante da vida. Qualquer um de nós que tenha alguma criança por perto sabe que elas nasceram com um chip diferente. Elas são digitais, inquietas, multidisciplinares, ativas, comunicativas, curiosas, rápidas e muito sinceras. Dão nó nos adultos com suas perguntas e percepções. E têm um entendimento bem claro sobre o mundo e as pessoas. Dia destes a filha de uma amiga minha comentou, ao ver a torneira aberta: "se não fechar a torneira, a água do planeta vai acabar". Um tema amplamente abordado durante o TEDx Porto Alegre, que eu assisti no último sábado, foi justamente a questão da educação. Melhor, falavam sobre a necessidade de descomplicar / reinventar a forma de educar.  Nossos raciocínios lineares e quadrados dos tempos da escola simplesmente não conectam-se com o mundo da chamada "geração indigo". Mesmo assim, grande parte das escolas ainda utiliza métodos antigos de ensino. O aluno, pobre ET no meio de tanta complexidade, ainda por cima é considerado desinteressado ou hiperativo. Talvez o desinteresse seja ainda mais profundo e tenha uma outra origem. Criar pessoas interessadas, críticas e questionadoras dá trabalho. Na escola e na vida. Trabalhar com pessoas que pensam diferente é rico. Mas cansa, exige demais da gente. Inserir a geração Y na equipe é super cool. Mas não vem com tecla Sap. Ter uma população esclarecida significa dar margem para que ela questione políticas públicas e tire muita gente da zona de conforto. Ainda dentro do Ted, fui apresentada a uma ONG que utiliza redes sociais como forma de mobilização popular. Numa ação para ajudar a Birmânia, um dos países mais fechados do mundo, eles conseguiram mobilizar virtualmente tanta gente que superaram as doações da Itália. Eles também estão super engajados no "Ficha Limpa". São novos aprendizes diante de novos fatos que surgem no mundo. Utilizam outros meios para comunicarem-se e têm a batida do novo século. O X da questão é nos questionarmos sobre o quanto estamos dispostos a pegar carona neste trem-bala. Teremos paciência para nos reinventar diante dos questionamentos dos nossos filhos? Teremos força para lutar contra barbaridades que vimos por aí? Conseguimos nos desapegar do passado e reinventá-lo dentro de novos contextos? Estamos dispostos a "aprender" com as crianças? Na teoria, tudo é lindo. Mas na hora que o bicho pega, acabamos nós como crianças assustadas, escondidos debaixo da cama, agarrados na velha taboada. 

*Ah. O nome da tal Ong é Avaaz (www.avaaz.org)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tempo líquido

Incrível como o tempo pode ser relativo. Neste final de semana estendido eu fiz coisas que poderia ter demorado semanas pra conseguir fazer. Participei de um evento, reencontrei pessoas queridas, todas elas com histórias e contextos completamente diferentes. Matei a saudade de Porto Alegre, de chimarrão e até comi uma cuca (espécie de pão doce com cobertura). Só não deu pra ir na Feira do Livro e no Museu Iberê, que eu adoro. Quase uma terapia tirar tanta produtividade dos minutos do relógio. Estou exausta fisicamente mas com as pilhas  completamente novas, cheia de ideias e novos pontos de vista. Mais surpreendente do que a relatividade do tempo é me dar conta de que eu tenho estas mesmas exatas 72 horas durante a semana e elas geralmente voam. É só piscar e o tempo de esvaiu. Líquido como o mundo de Bauman*. Dia destes eu fiquei quase seis horas com uns amigos curtindo um jantar em um restaurante exótico. Saboreamos os pratos, o ritual e degustamos a conversa demoradamente. O tempo parou. E aconteceu assim, de repente. Dois telefonemas e acertamos tudo rapidinho. A viagem deste feriado também não foi muito planejada. Como também não foram a maior parte dos encontros que acabaram acontecendo. Simplesmente eles fluíram. Sem cobranças, sem horários muito rígidos, sem a pressão de ter que fazer isto ou aquilo. Talvez este possa ser um bom truque pra ser usado. Se fizermos de conta que os ponteiros do relógio não existem, será que não teremos algum poder para multiplicar os minutos e solidificar a intensidade das nossas experiências? Boa semana.
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês autor de diversos livros sobre o mundo e suas relações "líquidas".

sábado, 13 de novembro de 2010

Papai Noel existe

Parece que o universo não queria que eu viesse pra Porto Alegre. Eu tinha comprado uma passagem bem baratinha (com milhas e pilas) pra vir ontem, sexta-feira. Isto porque eu queria participar do TEDx Porto Alegre, um evento bem bacana que eu falo logo a seguir. Aí uma reunião importante de quarta ficou para ontem de manhã em SP e eu tive que mudar meus planos. Consegui outro voo para hoje de manhã. Perderia parte do TED, mas chegaria para algumas boas palestras. Eis que nosso querido presidente da República fez a gentileza de interditar o aeroporto de São Paulo. Ele estava chegando de viagem e fez com que todos os aviões ficassem no solo esperando-o descer com sua ilustre comitiva. Quase duas horas depois, cheguei na terrinha, que nem estava tão fria assim. Alarme meteorológico falso. Almocei com pessoas queridas e fui assistir à segunda metade do Ted. Eu não sei explicar assim, tão direitinho, o que é o tal evento, mas é mais ou menos o seguinte: um monte de pessoas bacanas e que aparentemente não combinam (professores, criativos, médicos, pesquisadores, inovadores) são convidados para darem uma palestra em algum lugar do mundo. O Ted (Tecnologia, Entretenimento e Design) surgiu na Califórnia, há 25 anos,e tem o propósito de "sacudir" a plateia com ideias inovadoras, que precisam ser apresentadas em até 18 minutos e, na sequencia, compartilhadas para inspirar outras pessoas. (Ideias que merecem ser espalhadas). Pois bem, o tal Ted chegou aos pampas e a primeira edição aconteceu hoje. Foi organizada de forma independente por pessoas locais. O lugar, Teatro São Pedro, lindo, pomposo e com cheiro de arte. O evento, em contrapartida, estava bem legal mas nem tão pomposo assim. Teve algumas pisadas de bola técnicas bem importantes que, felizmente, não prejudicaram o propósito do encontro. Tá, mas o que foi falado lá? Como é? Pra que que serve? Well, acho que estas perguntas podem dar origem a mais de um post. Começando com este, com um pouco de tudo o que me provocou por lá. Assisti a palestras interessantes, intrigantes. Outras nem tanto. Falavam sobre seres humanos, pessoas, de solidariedade e do efeito da cooperação em uma série de projetos. Todos eles (os que me marcaram de fato) tinham em comum a capacidade de contar histórias. Histórias reais de suas vidas e das vidas impactadas por suas  ideias. Falaram da força das redes sociais e na sua incrível capacidade mobilizadora. Falaram de ciência e arte, de educação, ideologias. Se valeu a mão toda pra vir pra cá e conferir o evento? Sim. Por vários motivos. Não mudei minha vida, mas saí incomodada com alguns temas. (Já valeu). Não consegui acompanhar todo o evento, mas peguei carona e pude degustar o seu propósito. (Matei minha curiosidade). Reencontrei pessoas queridas e uma Porto Alegre ensolarada. (Ponto pro Ted). Anotei muita coisa que vai ficar matutando na minha cabeça e pode até gerar alguma coisa útil mais adiante. (Bingo). Talvez o que mais tenha me tocado foi ter visto assim, ao vivo e a cores, um velhinho simpático de barbas brancas e roupa vermelha. Chegou no palco todo tímido e logo se soltou, contando deliciosos causos de suas andanças pelo Brasil. Eu vi. Ninguém me contou. Papai Noel existe. Mas não espalha.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Fuga em massa

Na segunda que vem teremos outro feriado. Do que é este mesmo? Ah, sim. Proclamação da República. E teria um outro só aqui pra São Paulo nos próximos dias, para "comemorar" a consciência negra. Só que este vai cair num sábado. Ufa. No primeiro ano que eu cheguei na terra da garoa, eu não tinha a menor ideia de que ele existia (o feriado). Aí eu saí na rua e achei tudo muito parado, quieto. Coisas de forasteiros desinformados. Falando em forasteiros, neste final de semana São Paulo vai ficar de novo com cara de terra de ninguém. Praticamente todo mundo que eu conheço vai debandar. Boa parte deles decidiu passar (mais) frio no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre. Outros tantos foram pra praia, pro mato, pra onde Judas perdeu as botas, não importa. Um fenômeno de fuga em massa. Curioso é que boa parte dos portoalegrenses também pegaram a estrada hoje. Será que eles foram encontrar os paulistas no meio do caminho? Não sei para onde foram, mas sei que estão (estamos) todos fugindo. De que? Da rotina, do stress, de nós mesmos algumas vezes. Sair tem um simbolismo importante de resetar a máquina, respirar novos ares, reencontrar pessoas queridas. Mesmo que no retorno tenhamos trabalho represado (parece que ele continua "dando cria" mesmo nos finais de semana), que tenhamos que labutar dobrado no restinho de semana, este ritual enlouquecido de sair fora parece agradar a nós, mortais. Pra quem fica, aproveite. A cidade é inteiramente sua. Pra quem, como eu, vai voltar para os pagos, leve um agasalho, uma dose de paciência pra enfrentar os aeroportos e boas energias na bagagem. Bom feriado pra nós.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Medo de escuro

Nós crescemos com o tal mito de que no escuro é que as coisas feias acontecem. Lá vivem os monstros mais horrososos que habitam nossa imaginação. Depois que nos tornamos maiores, o escuro continua nos atormentando. Agora estão na moda os livros que falam do nosso lado sombra. Afinal, somos todos sombra e luz. E geralmente as pessoas têm o dom de colocar o dedo na ferida e nos apontar o que temos de ruim. Nós mesmos fazemos isto o tempo todo. Talvez mais que todo mundo. Ontem eu recebi de uma amiga um texto que desmistificou um pouco de tudo isto. O texto, chamado "Our deepest fear", de Marianne Williamson, fala sobre o quanto é difícil para nós aceitarmos nossa luz. Receber um elogio, saber e ficar à vontade com o que temos de melhor, deixar esta energia boa fluir sem vergonha. É na luz que as coisas se revelam de fato. Não dá pra esconder. As crianças, seres mais puros que existem, aceitam suas qualidades numa boa e sabem retribuir com generosidade um elogio sincero. Por isto são tão radiantes. Mas à medida que o tempo passa, aprendem que isto ou aquilo é feio e aí a luz vai se apagando. Reconhecer o que temos de ruim é um exercício importante. Ter medo do escuro nos ajuda a termos respeito por nós mesmos. Mas na hora de acender a luz, aí sim o bicho pega.

Reciclos

Eu já falei sobre o fim do ano e sobre o simbolismo deste tal recomeçar. Mas tem outros recomeços que estão me intrigando nos últimos tempos. Não sei quanto a você, mas eu tenho a sensação de que tem muita coisa se fechando e muitas novas acontecendo. Não só comigo, mas com várias pessoinhas ao meu redor. Um punhado delas, incluindo algumas bem próximas, está terminando relacionamentos. Separações doloridas, de comum acordo, previsíveis ou não. Muita gente. No campo profissional, muitas criaturas estão questionando o sexo dos anjos e procurando encontrar uma luz no fim do túnel, um novo desafio que ajude a brilhar o olho de novo. Fechamentos de ciclos. E tem novos ciclos começando pra um outro tanto. Tem o ciclo dos bebês. Sim, pelo menos umas dez pessoas ao meu redor tiveram ou estarão tendo bebês nos próximos tempos. Quer símbolo maior de renovação? O mais curioso é que estas pessoinhas não têm um padrão sequer parecido e algumas delas nem pensavam no assunto. Aí aconteceu. Ok, ok, antes que você pergunte, novos amores também estão na lista. Ufa. Algumas pessoas estão se permitindo e investindo. A Cecília Meireles falava que é preciso dos deixar podar para voltarmos inteiros. Acho que os rituais são fundamentais para marcar as passagens nas nossas vidas. Vivemos em ciclos. Senão a gente não aguenta. Há quem diga a doença é uma forma de purificação e que nunca saímos iguais depois de passarmos por ela. Pode fazer sentido porque retornamos mais fortes de uma vivência nova. Pelo menos mais experientes. Recomeçar dá frio na barriga. Mas nos faz crescer. O importante é voltarmos sim diferentes, mas inteiros. Senão não vale.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caixinha de surpresas

Eu gosto de tentar surpreender as pessoas. Inventar coisas diferentes, tchucos, ligar assim, no nada. Mas gosto mais ainda quando sou surpreendida. Adoro receber flores, mimos, torpedos. A Patricia, que também trabalha comigo (e ficou morrendo de ciúmes do meu post sobre o aniversário da Helen) tem sido uma caixinha de surpresas na minha vida. Ela me mandou ontem, entre uma mensagem e outra, todas de trabalho, um texto falando sobre amizade. Me surpreendeu usando uma outra caixa, geralmente cheia de significados (ou de spams). A do e-mail. Não custou nada. Não doeu. E fez um enorme sentido pra mim. Esta coisa de caixinhas, aliás, me segue pela vida. Eu sou doida por elas e quase não tenho mais onde colocá-las em casa. E quando viajo, não tem jeito. Sempre acabo comprando mais uma. Acho que tudo começou com um dos presentes mais simples e surpreendentes que eu ganhei da minha mãe quando era bem pequena. Ela comprou uma caixinha de madeira pra mim e outra pra minha irmã. E personalizou cada uma, com figurinhas recortadas, coisas coloridas. Lembro dela toda misteriosa pela casa, se escondendo de nós para finalizar "a arte". Eu não sei que fim levou a tal caixa, mas ela ainda me acompanha em lembranças. Tenho pensado nisto. Nas caixas que espalhamos por aí na vida e no quanto elas podem impactar (positiva ou negativamente) as pessoas ao abri-las. 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Almas gêmeas


Hoje é o aniversário da Helen, uma guria super competente e ruivinha que trabalha comigo. Na verdade, a Helen me entende, me aguenta. E ainda por cima é um tipo raro de mulher que não tem "piti". Pois bem, o mais curioso ainda da Helen é que ela tem uma irmã gêmea, a Ana. As duas são, como se dizia em Cachoeira, "cara de uma, fucinho da outra." E têm uma sintonia muito forte. A Ana está morando em Paris. A Helen, em Porto Alegre. Mesmo assim, tem um super cordão umbilical emotivo que as une. Muito bacana.
Pensando na Helen e na Ana, eu acabei viajando e comecei a questionar sobre as tais almas gêmeas. Será que elas existem? São muitas? Estariam em qualquer lugar do mundo? Em Paris? Eu estou cada vez mais convencida de que a tal alma gêmea, aquela que nos contam nos contos de fada, não existe. Mas tenho convicção de que as pessoas não passam pelas nossas vidas por acaso e que, quando se vão (sim, elas se vão), têm que nos deixar melhores do que éramos antes delas terem vindo. Nós, claro, também temos este importante papel. Mas é bem difícil. Eu não tenho irmã gêmea. Mas tenho belas almas que passaram pela minha vida e deram mais sentido a ela. Amigos, a própria Helen, alguns desconhecidos, família, amores. Espero que a cota não tenha se esgotado ainda. Espero que a Helen e a Ana curtam muito este 1/4 de século de vida. Boa semana.

PS: atendendo à sugestão da Sabrina Mauas, uma amiga argentina, vou tentar colocar algumas imagens junto dos textos do blog. Vamos ver como fica :)

sábado, 6 de novembro de 2010

Resgate

Hoje eu fui passear na Vila Madalena, um bairro super charmoso aqui de São Paulo, cheio de lojinhas lindas e de tchucos*. Andar pela Vila sempre é surpreendente e aconchegante, ainda que as ladeiras das ruas forcem uma ginástica bem pesada (os glúteos agradecem). Em duas situações distintas nas andanças por lá, vivi alguns resgates. Primeiro, fui numa lojinha de brinquedos pra crianças comprar vários presentinhos (amigas estão todas parindo muito). Descobri uma loja lúdica, com brinquedos artesanais, bonecas de pano, muita madeira e jogos clássicos de infância, como jogo da velha e resta um. Um paraíso para qualquer ser humano, dos 2 aos 80 anos. Eu, claro, me diverti muito relembrando meu passado e o quanto eu me entretia com pouca coisa. Qualquer pedaço de pano virava uma história. Depois, faminta por causa das ladeiras, fui tomar um café gostoso num espaço mais delicioso ainda, chamado "Lá da Venda." O lugar não tem nada demais e, por isto mesmo, é um charme só. Vende panelas coloridas, panos bordados, bonecas de pano, floreiras e ainda tem um café para sentar e comer bolo "de nada" ("de nada" foi como o garçom explicou que o bolo não tinha nada dentro, de recheio. Só farinha mesmo...). O lugar estava lotado. As pessoas enlouquecidas "fuçavam" nas gavetas dos armários "de vó". Muita madeira, simplicidade e um aconchego da porta de entrada ao quintal nos fundos. Engraçado porque hoje de manhã, quando acordei, eu estava justamente pensando no quanto sempre foi bom dormir e acordar com barulho de chuva. Melhor ainda era acordar com cheirinho de café passado e mesa da mãe posta. Simples assim. Somos todos, afinal, seres simples e fáceis. Em São Paulo, Cachoeira, em Paris ou Tóquio, cheiros, toques e sabores nos tocam, emocionam. Então, pra que complicar tanto?

*tchuco: palavra que, um dia, do nada, eu inventei e pegou. Uso com minha equipe e com conhecidos. Significa, pra mim, coisa fofa, mimosa, lembrancinha, algo surpreendente.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A natureza sabe

Tenho recebido alguns recados / mensagens de amigos que, mais do que comentar o blog, têm falado sobre a minha coragem em me expor e, mais ainda, perguntam como eu tenho conseguido tempo para parar de vez em quando, organizar ideias e colocá-las no papel (ou no ar...). Pois bem. Eu também pensava que não teria coragem, que não teria tempo, que não conseguiria me expor tanto assim. Mas, como a natureza é sábia e envia sinais (cabe a nós ouvil-los ou não), eu diria que a iniciativa do blog veio de uma série de fenômenos que aconteceram com a minha vida nos últimos dias e, também, por algumas pessoas iluminadas que, coincidentemente ou não, me abordaram, provocaram, instigaram no mês que passou. Como eu acredito que nada é por acaso, resolvi juntar os insights e reuni-los no meu mundo rosa. Hoje, falando ao telefone com uma amiga super querida (sim, eu catei uns minutos do meu dia para falar com ela, em horário comercial, sem culpas e sem pressa), eu tive ainda mais certeza de que a natureza sabe das coisas. Ela está grávida da primeira filha. É uma executiva poderosa, cheia de energia. Uma máquina a guria. Ela pensava que com a gravidez as coisas não mudariam tanto assim. Continuou num ritmo mega acelerado até que a filhota deu sinais de rebeldia e ameaçou nascer antes da hora. Agora, a mega executiva poderosa está de molho em casa, barriguda e feliz, lendo revistas, assistindo TV, pensando na vida. Ela se permitiu. Porque a Fefê (a baby) vale mais que tudo o que ela acreditava até então. Eu sei que ela está lendo o meu blog (afinal, está com tempo). Sei também que ela tem aprendido muito com esta história toda. A respirar mais, relaxar mais, a se permitir. E estou bem orgulhosa por isto. Eu também tenho tentado ter tempo pra mim, pras minhas ideias aflorarem. Não tenho conseguido 100%, claro. Mas posso garantir que sou uma aluna bem esforçada. Bom findi :)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O começo do fim

Hoje eu me deparei com vários enfeites de Natal espalhados por São Paulo. O Itaú da Paulista já está montando aquela casinha linda e cheia de luzes. E há umas duas semanas eu me deparei com panetones no supermercado e demorei pra entender o porquê deles estarem ali. É, a ficha caiu. Estamos no começo do fim do ano. Novembro, feriados e... pumba, terminou 2010. Eu confesso que tenho uma certa raiva desta histeria "natalícia". Presentes pros amigos, pra família, fechamentos de planejamentos das empresas e uma sensação de estar perdendo o bonde e o controle. Natal é legal de verdade quando a gente ainda acredita em Papai Noel. Pra mim, o gostoso mesmo é o Ano-Novo e tudo que ele traz de simbolismos pra vida. Pra minha? Parar uns dias pra respirar, cheiro de mar, pessoas queridas, celebrar a vida. Como dizia o Drummond em uma de suas poesias deliciosas, "quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias é um indivíduo genial." Respiremos então. O fim está chegando. E o começo vem logo ali, dobrando a esquina.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Viver é perigoso

Neste fim de semana + feriado eu fui para o Rio para respirar um pouco de maresia, comer milho na areia e tirar um pouco do branco gelo paulistano. Alguns raios de sol sempre fazem bem. Toda vez que eu vou pra lá eu fico me perguntando se o tal Rio perigoso da televisão é assim tão violento. Na verdade, eu acho que não. Só acho que no Rio as coisas são mais explícitas. Tudo acontece muito perto. É muito "democrático". Tá tudo ali. O mar maravilhoso, a favela, os carrões, os corpões. Na verdade, eu me sinto muito segura no Rio. Principalmente no Leblon e Ipanema, onde eu ando tranquila pelas ruas (tranquilidade que eu não tenho sentido tanto assim quando vou para Porto Alegre, infelizmente). Só que neste fim de semana eu me deparei com a tal violência bem na frente dos meus olhos. Caminhando no calçadão de Ipanema, testemunhei um tumulto fruto de um tiroteio que acabara de acontecer. Correria, ambulância e milhares de versões do acontecido depois, a ficha foi caindo e, com ela, a sensação cada vez mais presente de que viver é perigoso. Sim, é mesmo. Nascer é perigoso. Respirar é perigoso. Comer é perigoso (vai que a pessoa se engasga). Mas talvez esta sutileza de um perigo sempre ali, tão pertinho, seja a pimenta que nos move pra frente. Não dá pra brincar com a vida, passar do ponto, virar o fio. Mas também não dá pra deixar de ir pro Rio, de se aventurar no mato, de sofrer por amor. Fácil é ficar anestesiado, ter uma vida morna, se esconder debaixo da cama. Botar o nariz e o peito pra fora, isto sim dá trabalho.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Credo!

Credo, Deinha, quanta mágoa no teu coraçãozinho no post anterior. - É, ok, me deixei abalar. Mas felizmente existem pessoinhas especiais que conseguem dar pitadas de magenta no horizonte gris. O Breno, uma destas criaturinhas "do bem" (ok, ok, eu sei que o conceito de bem e mal é bem relativo, mas vocês são inteligentes e entenderam, certo?), me mandou este textinho esta semana. Ser feliz não é fácil!!!

(*) FELICIDADE ! ......que é o tamanho da distância entre a mais alta felicidade e a mais funda infelicidade de um homem , produto da nossa fantasia : " A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver. " No fundo do coração humano, entretanto, algo surdo e obstinado resiste: algo indomado protesta a nos dizer que há alguma coisa indefinível pela qual existimos e aspiramos, algo por que vale a pena viver e sofrer : A imaginação selvagem que nos habita em segredo insinua esperanças e inspira sonhos que a razão desautoriza.
O grande equívoco é supor que um deles precise ou deva sair vitorioso. A qualidade da tensão é essencial. 
(*) FELICIDADE, de Eduardo Giannetti 

Por que as pessoas mentem?

Olha só, eu sou uma pessoa super otimista, vejo o lado bom das coisas, respiro, bla bla bla. Mas não tenho sangue de barata, não. Às vezes as pessoas confundem alguma serenidade (eu disse "alguma") com bocabertice. Tá, Andréa, mas o que aconteceu que o teu mundo tá cinza hoje, apesar do sol lindo lá fora e dos passarinhos cantando? Huuuuum. Uma longa história. Resumindo, estou sem carro há 3 meses. Meu carro foi batido, demorou horrores pra ser arrumado e, quando finalmente saiu da oficina, ele já não tinha o mesmo jeito de sorrir. Negociei pra vendê-lo e trocar por outro praticamente igual. Só que sorridente. Mas a vendedora não manteve a palavra na hora de fechar o negócio. Disse que pensando bem, não era bem assim, e que me pagaria, ao final, uns bons 20% a menos que o combinado. Me revoltei e mandei meu carro pra ser vendido em Porto Alegre, com o Junior, um cara legal que sempre me ajuda nestes assuntos automotivos. O Junior fez tudo. Papelada, placa de SP, transporte, colocou película. Só não fez mais quando a coisa saiu do seu alcance. Desde quarta-feira da semana passada o carro está "chegando" na minha casa aqui em SP. Depois de dois meses de stress com o carro sendo arrumado, consegui arrumar encrenca com o carro novo comprado. Dá pra acreditar? Pior, não posso nem xingar o Junior. O "ruído" de comunicação foi da concessionária de SP, que vai me entregar o dito. Eles têm mentido pra mim descaradamente há dias. Não falam que vai demorar e tal. Falam: "em 2 horas, D. Andréa, o carro estará nas suas mãos. Sem falta." Só faltam dizer: "Pode confiar." Dããã.
Acho que eu sou meio tolinha mesmo. Sou do tempo em que as pessoas confiavam no fio do bigode. Mas tem cada vez menos gente neste time e eu tô ficando bem cabreira em relação à palavra das pessoas. Que os seres humanos mentem, ok. Isto eu já aprendi. Eu até concordo que uma mentirinha às vezes é um mal necessário. Mas tem que ter classe e sabedoria até para mentir. Se mentir sempre, o ser humano vira uma própria mentira.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Do fundo do baú 2

Pra que serve um homem? (escrito em 04/04/2010)

Ontem à noite, assistindo ao Saia Justa, no GNT, fiquei intrigada com o depoimento do escritor Marcelo Rubens Paiva, uma referência da minha adolescência, um cara que, no meu ponto de vista, teria as respostas para os dilemas da vida. Pois bem, ele não tem. E se expõs em cadeia nacional tentando provar às mulheres que os homens são necessários nas suas vidas. As palavras dele, claro, deram muito pano pra manga no decorrer do programa, chegando ao ponto das apresentadoras fazerem uma lista de potenciais “utilidades” masculinas, que não vingaram muito, não.

A discussão caiu como uma luva dentro da minha cabeça. Bate de uma forma meio assustadora até como um tema que tem me intrigado há tempos e que, por situações minhas e de amigas queridas bem próximas, está muito presente agora. Somos independentes (emocional e financeiramente), gostamos das nossas liberdades e das nossas conquistas. Estamos tranquilas, felizes e fortes. Ok, lindo isto. Mas, dentro deste contexto todo, pra que serviriam os homens?

Não sei quanto a você, mas eu fiz minha própria listinha. Um homem, pra mim, serve para coisas bem simples. Afinal, dizem, eles são simples. Pra andar de mãos dadas e saber que você não vai cair. Pra tomar banho junto, conversando sobre a vida. Pra fazer (e receber) cafuné e massagem. Pra me buscar em casa (tri bom). Pra fazer sexo, claro, que ninguém é de ferro. Mas serve pra me descabelar um pouco, me tirar do prumo, me desarmar. E aí começa a parte menos “cor de rosa” da história. Um homem não serve só para coisas boas, coisas fáceis. Ledo engano! Serve para me provocar, pra me ajudar a expor minhas fragilidades, pra me fazer crescer como pessoa. Amigas, família, são todos ótimos. Mas, ao mer ver, só uma relação homem e mulher é capaz de despertar nas pessoas sentimentos e emoções transformadores de verdade. Quem está disposto a pagar o preço?

deinha feliz

Hoje a deinha amanheceu mais feliz. Graças a pessoinhas especiais que interagiram comigo durante o dia todo, meu mundo ficou mais cor de rosa. Adorei o carinho e as mensagens recebidas. Queridos Paulo Henrique (sócio e provocador), Lucas, Nuno, Vaney, Tiago, Vanessa, Rejane, Carmem, Dani bruxa Furlan, Valéria, Ana Evangelista, Gislaine, Adriano Silva (sou tua fã), Laureano, Helen, Dani Jacutinga, Loloca, Evelise, Carlos, Angel, Nanda, Elisabete, Ricardo, Mary, Amando, Bueno, Susi, Alessandra, Mauricio, Sidnei, vocês são fontes onde eu me abasteço. Januza, eu falei que ia fazer. Te devo muito, amiga. Vamos ao próximo projeto. Marco, este blog é um pedacinho teu.

Do fundo do baú 1

Meu querido amigo Mario Quintana foi mais uma vez sábio quando escreveu: “A amizade é um amor que nunca morre.” Isto faz muito sentido pra mim porque eu considero amigas aquelas pessoas que passam pela vida da gente e simplesmente não passam. Não interessa quanto tempo demorou, quanta coisa aconteceu nem quantas outras conhecemos nas andanças por aí. Quando estamos diante destas pessoas, o tempo não anda, os assuntos voltam e a gente tem vontade de rir e abraçar. Só isto. É muito simples.
Eu não sou uma pessoa muito fã de datas comemorativas. Aliás, sou bem revoltada em relação a este universo comercial e histérico que se construiu em relação ao Dia dos Pais, dos Namorados e Natais da vida. Mas eu sou sim muito fã de rituais. São eles que deixam a vida mais gostosa e nos dão a ímpar oportunidade de dizer às pessoas o quanto elas significam pra gente. Não precisa gastar com presentes. Só uns pequenos desgastes de dedo no teclado já podem ajudar. Mas falar é beeeeeem importante. O que eu tenho visto por aí é que as pessoas não falam mais. Não dizem bom dia, não agradecem, não falam como se sentem (a não ser para o terapeuta). Pior, elas estão deixando de sorrir. E se este tipo de coisa se perder, aí não vai ter jeito mesmo. É por isto que resolvi escrever um pouquinho. Porque meu lado Pollyanna falou mais alto. E também porque ontem assisti Fatal, um filme que me fez ter ainda mais certeza de que falar é preciso. Eis que dediquei alguns minutos de um dia frio em Porto Alegre para pensar e contar para pessoas queridas como você que de alguma forma você passou pela minha vida e ficou. Em lembranças boas, histórias, experiências, conselhos e palavras. Escrevo para agradecer e também para dar um beijo. Só isto. E não é porque é Dia do Amigo. Mas porque hoje é segunda-feira e fiquei com uma P... vontade de falar. :)
* este eu escrevi no Dia do amigo de 2009.

by the way

O meu querido e sempre presente Mario Quintana tem uma frase que diz mais ou menos assim: "Se fores me esquecer, me esqueça. Mas devagarinho". Não é bem assim a frase, mas o sentido agora vem a calhar. Se fores ler meu mundo rosa, leia, devagar. Se quiseres comentar, criticar ou adicionar algo, faça-o. Mas faça mesmo. Com amor.

Do fundo do baú

Alguns dos fantasmas que eu compartilhei com alguns amigos queridos por e-mail (“simples assim”) mexeram de verdade com algumas pessoas, que leram, interagiram e me mandaram feedbacks deliciosos. Resolvi separar alguns que gosto demais pra colocar no meu espaço virtual rosa. Respira, Andréa. Vai.

Fantasmas

Desde que eu era pequena, beeem pequena, em Cachoeira do Sul (no centro do RS, beeeem longe de SP agora), os professores me incentivavam muito a escrever. Eu publicava poesias no Jornal do Povo. Meus pais, claro, babavam, recortavem tudo e carregavam na carteira “pra mostrarem pros amigos”. Eu sempre muito crítica, achava aquilo tudo bonitinho, mas sempre tive uma certa vergonha de falar demais sobre o assunto. É como se escrevendo eu estivesse me despindo, me expondo. Well, é verdade. Escrever é abrir a alma, tirar máscaras, expor as feridas. Mas também ajuda a espantar os fantasmas. Aí eu comecei a usar as palavras pra ganhar dinheiro. Fui para o mundo da Publicidade e consegui colocar pra fora um pouco das minhas angústias. E ainda tinha cliente pagando por isto. Mas nunca foi autoral. Nunca foi a Andréa Fortes de fato falando. Sempre me escondia atrás de uma marca corporativa. Agora eu resolvi chutar o balde e botar pra fora. Vamos ver no que dá. E aonde eu vou dar com isto.