terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desplugando 2010

Tem alguns raros momentos do dia em que eu consigo me desligar de verdade. Dos outros. Não de mim. Me desconectar de mim mesma é uma tarefa um pouco mais árdua. Mas sair fora do mundo para pensar nas minhas coisas é algo que me agrada e que tem sido cada vez mais raro depois do surgimento do tal telefone celular e das milhares de formas de conexão que nos atropelam. Parece que a gente tem uma certa obrigação de estar disponível e "on line" o tempo inteiro. Minha mãe é feliz e não sabe. Ela até hoje não tem celular e não sente a menor falta. Pois bem, também não é no yoga que eu consigo este exercício. Durante a aula eu relaxo e presto a atenção no meu corpo, na respiração. No começo, confesso, eu fazia mentalmente a lista do supermercado durante a meditação. Hoje eu até consigo fechar os olhos e me concentrar nas palavras do professor. Belo progresso. Mas eu realmente penso na minha vida em dois momentos bem específicos: enquanto eu tomo banho e quando estou dirigindo. Tomar banho é, para mim, como se livrar de toda a carga do dia que passou. Uma oportunidade para renovar as células e as ideias. Fora o banho, é no trânsito que as ideias fluem de verdade. Não sei bem explicar, mas eu fecho os vidros e a minha cabeça começa a funcionar. Aqui em São Paulo, tem uma "vantagem" adicional. Chama-se engarrafamento. O Carpinejar fala que o engarramento é uma desculpa pras mulheres retocarem a maquiagem. Pra mim, além disto, claro, é uma bela chance para eu organizar as ideias. Eu ligo o som e saio de mim. Na estrada também. Tem dias que eu tenho vontade de pegar a estrada só pra pensar na vida. É como arrumar o armário. Só que "ao ar livre" e com um pouco mais de velocidade. O fim do ano está aí. Todas (eu disse todas) as pessoas com quem eu tenho falado estão nos seus limites. Com olheiras, contando os dias na folhinha para comerem o peru e descansarem uns dias. Parece que nesta época do ano o botão do stress vem com tudo e fica martelando a cabeça da gente o tempo inteiro. Aí vêm as viroses, os piripaques, os chiliques. Well, tenho duas boas notícias: dezembro já está chegando. Semana que vem ele já está aí. A segunda vale mais se você vive em capitais. Neste caso, terá a imperdível oportunidade de fazer do limão uma limonada. E reencontrar você e seus pensamentos enquanto aguarda o trânsito natalino fluir. Pra ficar melhor ainda? Ah. Só se você conseguir não atender o celular.

Tempo e vida



Eu já tava incomodada com a tal história do tempo que se esvai, com a liquidez das relações. Aí veio o Saramago e me fez remoer ainda mais sobre o assunto. No documentário, ele falou muitas vezes sobre o tempo e a necessidade de deixarmos que as coisas amadureçam na vida. Cada coisa no seu tempo. Tem que respeitar. Por outro lado, ele apresenta o conceito de velhice como "uma perda irreparável ao acabar de cada dia". E aí, como conviver com estes dois extremos? Corremos contra o tempo o tempo todo. Para aproveitarmos as oportunidades, para vivermos a vida e não deixarmos que ela nos engula. O trânsito come nosso tempo, a agenda também. E aí queremos encontrar os amigos, sermos bons profissionais, filhos, amantes e ainda termos tempo para fazer ginástica e  ler bons livros "calmamente" à noite. Ui. Complicado, não? Eu tenho marcado e desmarcado vários cafés e almoços com pessoas queridas. Hoje é um destes dias. Tenho um almoço encantado agendado com uma amiga e que hoje, aos trancos e barrancos, vai acontecer. Tô ainda gripada, meio branca, apagada. Mas vou encontrá-la. Agora é quase uma questão de honra. Saramago falou também que vida é agitação, atividade, movimento. Pilar comentou que "hay de desdramatizar". Ok, então. Vamos à vida. Simone, hoje, quase um mês depois, vamos comemorar o teu aniversário :)