domingo, 26 de dezembro de 2010

Amar é...


Eu tive que fazer um bate-e-volta em São Paulo logo antes do Natal. Fui na quarta de noite (por causa da “tal” greve dos aeroviários) e voltei no dia 24, sexta, bem cedinho. Confesso que não estava ainda na batida natalina, mas comecei aos poucos a observar algumas curiosidades ao meu redor. Aliás, eu adoro observar as pessoas e seus rituais. No supermercado, fico cuidando que as pessoas colocam nos seus carrinhos para tentar adivinhar hábitos e gostos. No aeroporto, pode ser igualmente curioso. Pra começar, o perfil das pessoas que viajam neste período é bem diferente. Ao contrário dos executivos que lotam os aeroportos nos dias “comuns”, o que eu encontrei nesta viagem foram famílias inteiras viajando, cheias de expectativas e sonhos. Tinham olhares diferentes e, provavelmente, boa parte delas não tinha como rotina pegar um avião. Tudo bem. Até aí tudo normal. Quando cheguei no aeroporto de Porto Alegre na sexta bem cedinho, ainda meio dormindo, me dei conta do quanto o tal Natal mexe de verdade com as pessoas. E do quanto elas precisam desta “desculpa” para se reencontrarem e celebrarem. Na chegada, praticamente de madrugada (eram 8 horas da manhã) próximas à porta de saída da sala das bagagens, duas menininhas lindinhas e super arrumadas aguardavam ansiosas e sorridentes alguém que estava chegando. Eram uma atração à parte,. Super simpáticas, praticamente invadiram a área “proibida”. Assim como elas, muitas outras pessoas aguardavam emocionadas parentes e amigos que, provavelmente, não viam há tempos. Tinha faixa, flor, gente chorando, tirando foto. Uma loucura. Foi aí que eu “acordei” e me dei conta de que o tal do verdadeiro espírito de reunião do Natal existe, sim. Quando significa matar as saudades, abraçar pessoas queridas, vestir bebês lindos de papai noel (e tirar muitas fotos pras tias bobas) e, ainda que por pouco tempo, reunir a família. Pode ser uma família meio “postiça” (tem um bando de gente conhecida viajando que acabou passando o Natal com uma família emprestada), ou aquela família tradicionalzona mesmo, com vó, tios, cunhados inconvenientes (sempre tem um pra confirmar a regra), irmãos, namorados, enamorados, amigos. Se não temos tempo para falar para as pessoas queridas que as amamos, eis uma bela oportunidade para fazê-lo. E para reaprender a conviver em família, com todas as qualidades e defeitos que vêm no pacote. Afinal, amar é conviver com os defeitos do outro e ainda assim sermos capazes de ver e valorizar o que ele tem de bom.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mamães Noeis

Eu já escutei várias vezes a pergunta: "quem você gostaria de ser se não fosse você?" Olha, na verdade, sem nenhuma falsa modéstia, eu quero ser eu mesma. E quero ter orgulho disto. É pra isto que estamos aqui, não? Pra nos tornarmos pessoinhas melhores com o passar do tempo. Claro, eu não quero assumir a personalidade de ninguém (ufa), mas tenho que admitir que tem um monte de gente que me inspira, provoca, me emociona. Muitas destas pessoas são mulheres que passaram e/ou continuam na minha vida. Que me perdoem os homens (e eles têm uma importância enorme pra mim :), mas hoje eu resolvi valorizar as mulheres. Como está bem pertinho do Natal (sentiu o cheiro do peru assando?), decidi chamá-las carinhosamente de mamães noeis. Todas elas me deram muitos presentes. O mais bacana é que elas têm perfis completamente diferentes. Muitas não se conhecem e, provavelmente, não chegarão a se conhecer. E todas ajudaram a tecer esta Deinha que vos fala hoje. Algumas (poucas) secaram minhas lágrimas (a Deinha ainda é meio durona), mas todas riram comigo. Umas são companheiras de viagem. Outras, conselheiras, protetoras, boas ouvintes, sábias. Eu já tinha comentado num post anterior que eu tinha rascunhado um monte de coisas no avião no domingo passado. Comecei a fazer uma retrospectiva do ano e cheguei no nome de várias criaturinhas adoráveis. Cada uma do seu jeito. Vou logo avisando: vou esquecer alguém. Mesmo assim, decidi arriscar e nominá-las. Tem a mãe de verdade, a Irma, que é mãe coragem e uma fonte inesgotável de crescimento pra mim (cresço quando aprendo a lidar com ela, a amá-la acima de qualquer coisa). Tem a Carla, mana que tem se revelado sensata e amorosa nas nossas longas conversas telefônicas. Tem as irmãs postiças que a vida me deu: Januza, Lu, Dani "Jacutinga" e Angel, quatro mosqueteiras com quem dividi alegrias e tristezas. A Dani, além de todas as alegrias, nos deu ainda a Manu, um serzinho iluminado que enche de amor as nossas vidas. E a Lu, quem diria,  agora é mãe do Matheus, "o verdadeiro homem das nossas vidas". E tem ainda a prima/afilhada Soneli, mãe do delicioso João, meu afilhado querido - e lindo. Tem a Dani Furlan, amiga e bruxa, a Elizabeth, uma irmã mais velha postiça que a vida me deu. Tem as outras "mães" que me adotaram: a Preta, em Porto Alegre, e a Jurema, em São Paulo. Elas cuidam de mim. E tem as meio-mães, amigas, e quase sogras queridas, a Elisabete e a Rosinha, cada uma do seu jeito e todas elas super amorosas. Tem o trio Cris, Lia e Elisa, presentes do mestrado. E as queridas Helen, Cla, Patrícia e Mary, que me acompanham no trabalho há anos e me conhecem quase como as palmas das suas mãos. Ainda fruto do trabalho, a Ana e a Nati e, recentemente, a Carol. Anjos na minha vida. Tem as primas, madrinhas, tias - Loloca, Evelise, Clarissa, Tia Carminha e Tia Sônia. Todas moram longe, beem longe, mas se reaproximaram pelo Facebook e por outros meios digitais. Moderno isto. Foi também esta onda digital que me colocou em contato com ex-colegas do primeiro grau. Ex-professoras, pessoas que realimentaram minhas lembranças do passado. Pra fechar, tem a Monique, meu presente de final de ano. Uma guerreira iluminada que a vida me apresentou e que me surpreende a cada dia. Claro. Faltou um montão de gente. Tem aquelas que eu esqueci e as que eu nem conheci ainda. Não importa. Eu fiquei com vontade de falar e agora já foi. Pra todas elas, que se doaram generosamente para mim em algum momento das suas vidas, o meu obrigada. E todo o meu carinho neste Natal. Vocês são demais.

Correndo atrás do rabo

O meu dia hoje (ontem? ok, quarta) foi bem atípico. Pela primeira vez em muitos anos eu não fui a responsável pelo encontro de fim de ano da equipe. Deleguei absolutamente tudo a uma comissão interna, que tinham como objetivo construir do seu jeito o nosso ritual. Diria mais. Não é fácil me surpreender e eles sabem bem disto. Já fizemos de um tudo, com muita interação e adrenalina. Mesmo assim, eles me pegaram.  Foi em Porto Alegre. Sabendo do ritmo "anormal" que estamos vivendo neste fim de ano (fim de ano?), eles usaram outra fórmula, muito simples e bem tranquila. Nos "raptaram" num barco pelo Guaíba e nos levaram para um lugar lindo e sereno às margens do lago. Lá passamos um dia totalmente "zen". E fizeram mais. Convidaram um indiano, mestre em yoga, que passou a manhã inteira conosco, praticando, conversando, nos ajudando a ficarmos mais leves. Mais bacana ainda foram as paradas que, habilmente, o indiano, ou Dada, nos propiciou. Contou "causos", fez rituais e mostrou, metaforicamente, o quanto corremos sem saber para onde estamos indo. Segundo ele, na Índia, os veados produzem um perfume através de uma glândula que fica no cento do peito (cientificamente falando não deve ser bem isto, mas o que vale é a moral da história). Eles sentem o tal perfume e correm desesperadamente para "encontrá-lo". Só que o perfume está neles. Faz parte deles. E eles não veem. Quantas vezes não corremos "atrás dos nossos próprios rabos", dando círculos, batendo cabeça ou exercitando qualquer que seja a expressão cujo resultado é o mesmo: cansaço e sensação de fracasso? Hoje, durante nosso "percurso" com o Dada, ele nos fez parar e pensar sobre o ano que passou. Alguém já conseguiu fazer isto? Como ajeitar as meias no roupeiro, organizar as ideias ajuda a abrir caminho para o novo. Eu, que não tinha parado ainda, me peguei descobrindo o quão intenso foi 2010 na minha vida. Vivi altos e baixos de verdade, amei, sofri, viajei, conheci pessoas, assumi uma nova vida em uma nova cidade. Em resumo, em 2010, eu me permiti viver. Pro ano que vem, eu quero continuar com esta mesma coragem e intensidade. Quero ter aprendido com os erros, mas não quero cascas nem gosto amargo na boca. Quero ter consciência, paz de espírito e sabedoria para falar e calar nas horas certas. Resumindo, quero ser eu mesma, mas bastante desta "eu" que eu descobri há pouco e gostei. Se possível, quero fechar o ano que vem surpreendendo a mim mesma, mais uma vez.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Impermanência

Eu fui numa peça de teatro no ano passado que me marcou muito. Chamava-se "A Alma Imoral" e retratava, através de um monólogo, o livro do rabino Newton Bonder. Na peça, a atriz se dizia uma judia budista, ou algo assim. Eu tenho cada vez menos convicção de que religião eu sou de fato. Talvez eu não seja de nenhuma, ou um pouco de todas. Tendo, fortemente, a simpatizar com alguns conceitos budistas. Li alguns livros, conheci pessoas bacanas e visitei alguns templos. Estou até provocada a fazer viagens mais distantes neste mundo desconhecido, no sentido literal da frase. Um dos conceitos budistas que mais me chama a atenção é a questão da impermanência. Fomos "talhados" para acreditar que as coisas duram para sempre. O amor, os amigos, a vida. Se eu descubro quem escreveu a frase "e foram felizes para sempre", juro que eu pego. Ou a pessoa vivia num mundo rosa ou estava sendo bem irônica. Pois bem. Não duram. Na verdade, não nasceram para durar. Estamos aqui para cumprir um ciclo e, de preferência, para sairmos melhores do que entramos ao final dele. Não só na vida, mas em cada uma de nossas relações. Óbvio que amores maduros, que resistem ao tempo com respeito e companheirismo são lindos. Mas são verdadeiros achados. Amigos, idem. Eu tenho muitos conhecidos e poucos amigos de verdade. E tenho conseguido, felizmente, fazer novos diante da impermanência da minha vida nos últimos tempos. Tendo a achar que nos disseram que as coisas eram para sempre para que não sofrêssemos, para que pudéssemos acreditar que se ficássemos assim, quietinhos, embaixo da cama, não seríamos descobertos e continuaríamos numa mesma frequência. Nem mais nem menos. Aliás, eu conheço um monte de gente que tenta viver assim. Mas não adianta. O mundo ao redor do "debaixo da cama" muda, é impermanente. Agora que o fim de ano está chegando (chegou?) eu tenho questionado uma série de coisas. A origem dos rituais natalinos, a impermanência do tempo, que se esvai cada vez mais rápido, e o quanto desperdiçamos nossas vidas. Com bobagens, medos, minhocas da cabeça e sabotando nossa felicidade quando ela está ali, batendo na porta. Podia ser mais fácil. Eu continuo tentando. Alguém me acompanha?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O silêncio fala

Eu fiz a minha dissertação do mestrado sobre o ruído na comunicação entre empresas. Tentei encontrar, nas relações internas e, depois, nas relações com os clientes, o que "pegava" de verdade quando o assunto era entendimento de alguma coisa. Uma empresa, na verdade, representa um pedacinho da sociedade. É um micro ambiente muito similar àqueles que convivemos em nossas vidas. Com a família, com os amigos. Não adianta. Somos seres humanos e, como tal, um tanto iguais. Ok, tem diferenças importantes. Culturais, sociais e, hum, de sexo. Parece que homens e mulheres pensam / falam um pouco diferente. Ok, ok. Amenizei. Um monte. Na real, os homens não falam muito. Mal expressam alguns grunidos entre uma expressão e outra e cabe, a nós, mulheres e hábeis comunicadoras, decodificar o que foi emitido. Pois bem, tenho a dizer, minhas caras, que não somos tão hábeis assim neste quesito. E que, às vezes, este ruído de comunicação entre os sexos faz mal pra todo mundo. "Ah, mas eu pensei que..." Pensou nada. Fala. Uma pessoa que eu amo de paixão um dia me disse uma coisa muito sábia: os homens são burros, não entendem. Então, disse ele, fale. Tudo. Acho que a recíproca é verdadeira. Também queremos que eles falem ou que façam gestos que falem por eles. Mandar flores, um recadinho no celular, qualquer coisa. É o que o silêncio fala. Por outro lado, às vezes o silêncio pode ser um belo aliado. Quando nos calamos, estamos dando espaço para que nossos sentimentos verdadeiros fluam e, assim, evitamos magoar quem a gente ama. Beleza. Este silêncio é válido. Quase nobre, eu diria. Palavras têm poder. Machucam, cortam, magoam. Mas tem horas precisam ser ditas. Porque a gente precisa ouvir. Coisas boas, elogios, e um "eu te amo" de vez em quando só pra não perder a liga. Boa semana.
* by the way, fiquei uns dias em "silêncio" no blog justamente porque precisava organizar minhas ideias. Mas voltei cheia de assuntos que eu rascunhei durante o voo ontem à tarde, vindo para Porto Alegre. Vou postando aos poucos, à medida em que eu for digerindo tudo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Jornada das heroínas

Ontem eu fiquei algumas horas no telefone com algumas pessoas queridas. Telefone não, skype, senão o bolso não aguenta. Me dei de presente estas horinhas simplesmente porque estava exausta e não tinha coragem de sair na rua. Tudo parado, engarrafado. Foi bem bom. Estava com saudades desta coisa de jogar conversa fora, sem hora para acabar. Uma das pessoas com quem eu falei foi a Elisa, amigona de Curitiba. Ela vai ser a mãe da Fefê, que deve nascer a qualquer momento. E é uma das heroínas que eu encontrei na vida. A Elisa, na verdade, representa uma série de amigas minhas, mulheres poderosas que estão construindo suas jornadas. Ela comentou que ficou bem curiosa sobre os assuntos que eu andei escrevendo. Sobre o feminino, a jornada do heroi, as mulheres. Coincidência ou não, ontem eu também retomei a leitura do livro "O feminino e o sagrado", que já comentei no blog. Ele narra as histórias de vida de mulheres com diferentes experiências e que têm, em comum, grandes conquistas. Todas elas passaram por mudanças e tiveram que reinventarem-se a partir delas. Sofreram, quebraram a cara, buscaram alternativas espirituais, fortaleceram-se e recomeçaram suas vidas. Diferentes, melhores, mais fortes. Em comum, também, elas tiveram coragem de enfrentar seus fantasmas, de entrar na floresta e de, em alguns momentos importantes, buscarem dentro de si respostas que não encontraram lá fora. Eu tenho gostado muito de ficar sozinha, remoendo minhas ideias, pensando na vida. Parece que quando eu estou no meu cantinho, comigo mesma, uma paz invade minha alma e eu consigo respirar de verdade. Nestas horas, tenho pensado na minha jornada. E em como queimar um pedaço da minha fantasia de Mulher Maravilha. Combinei com a Elisa que poderíamos fazer um ritual e incendiarmos juntas as nossas fantasias. Para construir outras, diferentes, inesperadas, mais leves. Pra isto, vamos precisar trocar ideias e, literalmente, nos despirmos de pre-conceitos. Considerando que grande parte destas mulheres maravilhosas que eu citei está num momento bem parecido na vida, acho que vai ter muita fumaça por aí. Não nos assustemos. Renascer das cinzas é tão mitológico quanto percorrer a jornada do heroi. E pode ser ainda mais divertido.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chuva de adrenalina

Ontem choveu aos cântaros aqui na terra da garoa. Fazia tempo que eu não via tanta água. Ela vinha de todos os lados e criava uma cortina na minha janela que fazia tudo a mais de 10 metros desaparecer por completo. Claro, o trânsito virou um caos, as pessoas não chegaram, se atrasaram, reclamaram. Hoje, choveu de novo. Não tanto quanto ontem, mas o suficiente para alterar os ânimos das pessoas. Na volta para casa, já meio tarde da noite, fui fechada por uns três carros no trânsito e vi um acidente bem feio que tinha acabado de acontecer. Nossa. Os nervos estão mesmo à flor da pele. Tem a ver com a tal histeria natalina, que eu detesto (ah!!! tenho que comprar presentes... ah!!!! preciso lembrar do peru...). Pode ter a ver também com o tal fechamento de ciclos que a conjunção astral do momento está criando. Muita coisa. Ok, Mas deu, né? Danem-se o peru, os astros, os presentinhos. Pra mim, o ano não tem a menor pinta de que está acabando. É meio estranho me dar conta de que o Natal já é na semana que vem e eu estou ainda tão ligada. Eu mais alguns milhões de pessoas. Quando eu estava no colégio, o fim de novembro já anunciava um período de paz. Conseguíamos nos preparar de verdade para o fim do ano. Agora, não dá tempo. Parece que seremos anestesiados a qualquer momento e, quando nos dermos conta, já estaremos em 2011. Pior, hoje quase não usamos cheque. Como lembrar que o ano mudou se não vamos deixar previamente preenchidas das datas das folhas do talão? Eu só sei que eu quero um pouco de paz. E vejo, pelos desabafos on line e off line, que este não é um desejo só meu. Parece que não tem mais como acelerar. Vai ter correria, sim, talvez alguns voos atrasem, as estradas estarão cheias e os estacionamentos dos shoppings, impraticáveis. Então, se esta é a realidade, e sabemos disto, pra que sofrer? Nos desesperando ou não, o ano vai virar, a chuva vai continuar caindo e os astros vão fazer as conexões que forem necessárias. E sequer vão nos consultar. Então, se eu fosse você, fugiria da chuva de adrenalina e experimentaria aventurar-me num banho de chuva de verdade.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gente que gosta de gente

Neste final de semana eu acabei vivendo uma rotina atípica. Fiquei algumas horas num hospital, dando conforto psicológico para as familiares de uma paciente que iria se operar. Coisas da vida. Virei a noite com elas, conversando, falando sobre o sexo dos anjos, confortando. Minha única preocupação era deixar aquela espera o mais leve possível. Até porque eu já passei por situações similares e sei bem o quanto os ponteiros do relógio travam em horas como esta. O fato é que eu pude viver uma verdadeira experiência antropológica. Convivi com diferentes personagens e me surpreendi, positiva e negativamente, com as pessoas. Foi num hospital. Mas poderia ter sido num hotel, num restaurante. Só que lá, pela situação, tudo ficou ainda mais delicado. Pois bem, encontrei médicos dedicados e dispostos a colaborarem uns com os outros, que, mesmo virados e morrendo de sono, preocuparam-se em atualizar a família sobre o que estava acontecendo. Mas, contrapondo-se à delicadeza e generosidade da equipe médica, fui (junto com a família) "gentilmente" convidada a me retirar da sala de espera por um segurança 2X1 (2 metros de altura X 1 de largura). Segundo ele, "cumpria ordens" (sabe-se lá de quem) e, como era madrugada, não poderíamos aguardar onde estávamos. Fomos para  o espaço da emergência, junto com os demais pacientes. Luz forte na cara, ar condicionado no neve. No nosso cantinho anterior, estava escurinho, silencioso e, quando o troglodita se aproximou, finalmente a prima da familiar, tida como uma filha, ameaçava cochilar. Não estou questionando as regras nem a organização das instituições. Estou falando em civilidade, sensibilidade, em seres humanos. Se uma enfermeira tivesse se aproximado gentilmente e comentado o caso, teríamos saído e buscado outro lugar para aguardar. Mas não foi o que aconteceu. Pior, a cada troca de turno, tínhamos que nos apresentar de novo e comentar o quão atípica era aquela situação bla bla bla. Saí de lá exausta, sugada, triste, inconformada.Tá faltando comunicação. Tá faltando gente que gosta de gente. Cada vez mais parece que somos números, senhas, códigos. Dia destes eu fui apresentada a um planejamento de design estratégico de uma menina brilhante. Coincidência ou não, ela tinha proposto um plano para, com pequenas medidas, dar mais conforto e tranquilidade a pacientes de um hospital durante a realização dos exames. Coisas simples, mas muito humanas. Será que algum dia alguém vai se dar conta disto? Será que as pessoas voltarão a se falar e a se tratarem como gente de verdade? Viramos máquinas ligadas no automático. Hellooooo! Alguém sabe onde desliga esta coisa?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cartas na rede

Quando eu tinha uns 15 anos, meu namorado na época foi fazer faculdade em Porto Alegre. Eu ainda morava no interior do RS e falávamos por telefone (eventualmente, porque era caro) e por carta. Sim. Aquele papelzinho branco cheio de palavras a caneta dentro de um envelope, enviado pelo correio. Era bem legal o ritual de esperar a tal carta chegar e saber das novidades. Ainda falando do TEDx Da Luz em São Paulo, "me caíram os butiás do bolso*" com a apresentação de Johanna Blakley, especialista em tendências. Ela falou do fim dos gêneros, do quão defasadas estão as pesquisas que ainda usam categorias demográficas. Hoje, sua faixa etária, faixa salarial e saber quantas geladeiras você tem em casa diz muito pouco sobre você. Mas basta entrar no Facebook para, em alguns segundos, descobrir o que alguém está pensando ou sentindo. Mais ainda, as redes sociais conectam as pessoas de forma quase instantânea. Tenho usado mais o Facebook para "conversar" com pessoas, por chat ou através de comentários que o próprio Skype, telefone ou SMS. Parece que eu estou mais próxima delas quando falo depois de "tirar uma febre" dos seus estados de espírito. Segundo Jaohanna, no TED, nos conectar com pessoas de acordo com nossos interesses faz muito sentido. E a mídia não precisa mais fazer esta conexão. Talvez ela nem sirva mais para este propósito. Nas redes sociais, tem o que eu gosto. Monitorado. As "taste communities" aproximam pessoas por valores interesses compartilhados. E isto fala muito de você. Saber quais as coisas pelas quais as pessoas se apaixonam, o que elas fazem no tempo livre, isto sim faz muito sentido. Talvez não estejamos mais trocando cartas. Eu, como boa nostálgica, ainda tenho o hábito de enviar postais quando viajo, para não perder o hábito. Mas tenho a sensação de que estamos retomando a proximidade com as pessoas simplesmente utilizando novas formas de postar nossos sentimentos. Mudou o meio. Não a nossa necessidade de falarmos. A diferença é que agora temos espectadores acompanhando nossas vidas. O que, para mim, ainda soa meio estranho.

* "me caíram os butiás do bolso" é uma expressão beeeeeeem gaúcha. Butiá, pra quem não sabe, é uma frutinha amarela, pequena, geralmente usada para fazer "licor de butiá". A expressão representa surpresa, espanto. Imagino a cena que deu origem à frase: alguém com os bolsos cheios de butiás tomando um susto tão grande por alguma coisa que deixa todos caírem no chão. A expressão "correta" mesmo é "me caiu os butiás do bolso". Mas dei uma ajeitada pra não ficar assim tão feio :)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Que sutiã, que nada!

Fui convidada para participar do encontro em São Paulo que passaria, ao vivo, o TED Women, nos Estados Unidos. Assim como foi feito aqui, muitas outras praças no mundo inteiro compraram os direitos de transmitir o evento para um grupo de mulheres, em sua imensa maioria,  para, além de assimilar o que foi dito, proporcionar uma troca entre as participantes. Por aqui, a corajosa empreendedora da ideia foi a Mariana Cogswell, uma daquelas pessoas iluminadas que não passam em vão pela vida da gente. A Mariana juntou-se com mais algumas outras sonhadoras / realizadoras e, assim, entre um café e outro, decidiram "peitar" a ideia e tocar adiante. Eis que surgiu o TEDx Da Luz. Felizmente, aos 47s do segundo tempo conseguiram um patrocínio, que facilitou um pouco a jornada heroica de todas elas. O encontro, desenhado nos moldes do TED, apresentou uma série de provocações, cada uma delas com no máximo 15 minutos. O intuito é disseminar ideias que mereçam ser espalhadas. E foram muitas. Eu não consegui assistir a todas as palestras. Difícil sair dois dias inteiros. Mas aproveitei boa parte do evento e, além de assimilar muuuuita informação, conheci pessoas bem legais. Tá, do que foi falado? De muita coisa. Mas, basicamente, de como as mulheres e meninas estão redesenhando o futuro. O que as gestadoras (e não gestoras) do futuro estão pensando? O que elas querem? Do que se alimentam? No palco, diferentes identidades. Quase todas inteiramente vestidas de preto, para ressaltar ainda mais o que estava sendo dito, pensado, colocado pra fora. Médicas, antropólogas, urbanistas, designers, especialistas em robótica, ativistas políticas, mulheres, enfim. O mais bacana desta história toda (que eu continuo degustando sem pressa na minha cabeça) é que nenhuma delas tinha um tom agressivo. Ninguém falou em feminismo. Mas em feminino. As mulheres chegaram ao poder, sim. Mas precisaram se masculinizar muitas vezes para tanto. O que foi exposto / provocado no encontro é um resgate do que é feminino de verdade e do quanto as qualidades ligadas a este ser podem ser ricas para a sociedade. Alguém falou em queimar sutiãs? Claro que não. Até porque, hoje em dia, eles estão caros demais para serem desperdiçados.

* as fotos do evento em SP já estão na rede: http://www.flickr.com/photos/carolina_andrade/sets/72157625430463925/with/5244567225/

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cestinha de realizações

Existem "n" formas de colocar pra fora o que estamos sentindo. Escrevendo, falando, ficando quietinho, remoendo. Boa parte delas acaba fazendo mal pra gente. Pior, às vezes faz mal para os outros. Normalmente para pessoas que amamos muito. As palavras têm poder. Tem gente que fala que quando estamos com muita raiva de alguém o melhor a fazer é escrever todas as barbaridades que falaríamos para esta pessoa num papel. Chutar o balde mesmo, sem piedade. Depois, é só ler tudo de novo e, dependendo do quanto aquele sentimento tiver acalmado, rasgar o papel, colocar fogo ou usar a criatividade e fazer um ritual destrutivo qualquer. Assim, estaríamos colocando para fora sentimentos ruins (e não criaríamos úlceras) e não magoaríamos (tanto) pessoas queridas. É que geralmente este tipo de ação tem a ver com colocar para fora coisas ruins. Dia destes uma amiga me propôs uma tentativa tão simples quanto, só que mais construtiva. Ela me provocou para comprar uma cestinha, bonitinha, e escrever em pequenos papeis as minhas realizações. Coisas bacanas, que me tocaram, me fizeram feliz. Um elogio que eu tenha recebido, um dia em que eu tenha acordado e me sentido mais bonita, uma boa ação que eu fiz, um presente que eu me dei. Sei lá. Só coisas boas. A ideia é fazer o processo quase ao inverso. Juntar este monte de coisas boas na tal cestinha e, num daqueles dias em que o mundo parece meio cinza, sentar e abrir cada um dos tais papeis, pra reviver os momentos bons e deixar a vida mais leve. Vale quase tanto quanto uma barra de chocolate. E não engorda. Agora que o fim de ano está chegando, de repente a ideia pode "dar cria" e tornar-se um gostoso momento com a família e os amigos. Por que não abrir os tais papeis (e a alma) durante a noite do Natal para compartilhar com quem você ama seus bons momentos de 2010?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Julieta de bobes

Ainda remoendo tudo o que eu anotei durante a palestra sobre a jornada do heroi das mulheres na semana passada, conversei com várias pessoas durante o fim de semana e "reapresentei" a elas o que eu descobri durante o encontro. Muito divertidas as reações e ver as fichas caindo. Ninguém disse que o que foi dito é "verdade assim verdadeira", mas que tem algum sentido, ah, isto tem. Uma das coisas mais divertidas / assustadoras do que foi comentado foi que as relações que nos ensinaram como sendo "modelos" em nossas vidas, como Romeu e Julieta, terminaram no seu auge. Ou seja, eram paixões proibidas e intensas e, como tal, acabaram mal. Geralmente com uma tragédia. A pergunta que não quer calar é: o que teria sido da Julieta se tivesse se casado com Romeu? Imaginemos que eles tenham conseguido convencer a família de seu amor e que não tenham morrido tão jovens. Como seria a rotina do casal? Você consegue imaginar a Julieta de bobes no cabelo e o Romeu barrigudo, de pijama, agarrado ao controle remoto da televisão? Filhos correndo pela casa e contas a pagar? Pois é, a vida real não tem tanta poesia assim. Vamos adiante. O que terá sido da Cinderela depois que colocou o sapato e encontrou o príncipe? E a Branca de Neve? Ninguém nos contou como seria a continuidade das histórias. "E viveram felizes para sempre" é beeeem vago. Falando nisto, sabe o príncipe? Aquele do cavalo branco. Pois é, ele não existe. Segundo as autoras, o príncipe encantado, aquele que adivinha os nossos desejos, nos protege e e traz segurança é a mamãe idealizada e boa de cama. Ou seja, um desejo infantil de não enfrentarmos a vida. Ai. Ok, ok. Nem vamos seguir e comentar as comédias românticas americanas. Alguém já viu algo parecido na vida real? Pois bem, nem sempre o mundo é tão rosa. Nosso príncipe da vida real talvez tenha mais ares de Shrek e nem por isto seja incapaz de amar. Não somos princesas e, apesar de amarmos sapatos, nenhum deles é de cristal. Mas podemos ajudar com camisolas bonitas, um perfume gostoso e um mimo de vez em quando, que ninguém é de ferro. Vale para o príncipe, que pode, e deve, dar flores (seeeempre) e nos surpreender de vez em quando. Só uma ideia e/ou um convite. Quem sabe nas nossas relações tentamos ser mais realistas e menos idealistas?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tristão e Isolda

Esta noite eu fui apresentada à história lendária de Tristão e Isolda. Ele, um cavaleiro, e ela, uma princesa irlandesa. Tiveram um amor intenso e, como a maior parte deles, um final trágico. Fui também apresentada às ideias e à obra de Cris e Bia (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro), que escreveram  "O feminino e o sagrado - Mulheres na jordada no heroi". Interessante porque ontem justo a pessoa que me provocou para ir no tal encontro me enviou  uma reportagem sobre mulheres alpha (a grosso modo, mulheres poderosas que estão conquistando novos espaços na sociedade e não têm encontrado eco em suas ações diante das "regras sociais"). Nossa, muita informação! E o meu cérebro começa a fervilhar. Durante a faculdade, eu fiz minha dissertação baseada na história da mulher na sociedade, comparando propagandas da década de 40 com a de 90. Para embasar meus estudos, tive a impagável oportunidade de receber do meu orientador, Wladimir Ungaretti livros raros sobre o feminismo. Obras que mexeram com os meus conceitos e minha visão de mundo. A junção destas informações começa a fazer muito sentido pra mim e para o momento que eu estou vivendo, de redescoberta de mim mesma. No encontro desta noite, as autoras "mataram" o príncipe encantado e apresentaram uma possibilidade de relação de verdade entre duas pessoas. Uma relação madura, construtiva e, com tudo isto, difícil. Apresentaram-na (a relação) como uma alternativa de descoberta pessoal. Falaram em escolhas, no amor como experiência (e não como símbolo de convenções sociais) e da nossa percepção como indivíduos a partir do outro. Colocaram o dedo em feridas e contaram de forma bem humorada e inteligente que o mundo não é rosa. Eu ainda estou digerido tudo o que vi / ouvi. Comprei o livro, fiz mil anotações, mas confesso que o processador ainda não deu conta de tudo. Acho que se eu dormir, as ideias devem começar a se organizar. Tenho alguns outros livros para ler, filmes para assistir e fichas para cair. Prometo que vou compartilhando o que vier. E as descobertas destas mexidas todas. Boa noite.