domingo, 13 de maio de 2012

Mulheres possíveis.


Semana passada eu fui no lançamento do segundo livro da Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro, "Mulheres na jornada do herói - pequeno guia de viagem". Em formato de "diário de bordo, a obra resgata as histórias de mulheres reais do primeiro livro, todo construído com base no modelo mitológico da jornada do herói, de Joseph Campbell. Desta vez, de modo ainda mais simples, elas nos convidam para viagens para a qual somos convidados (as) diversas vezes ao longo das nossas vidas. Viagens para quem quer correr risco e ousar. Geralmente, acontecem de forma inesperada, como uma grande ruptura ou um grande empurrão da vida e nos leva rumo ao desconhecido. Separações, doenças, mudanças pessoais e profissionais, descobertas de novos talentos. Todas estas podem ser possíveis jornadas. E, mesmo com a palavra herói / heroína acompanhando, em tese, os corajosos viajantes, nem sempre o que se vê / vive no percurso é assim tão digno de contos de fadas. Tem dor, um medo que paraliza, mestres, dragões e ameaças, e exige, a cada passo, uma boa dose de disciplina, educação e paciência. Tem a tal estação da "situação limite", um verdadeiro rito de passagem que, segundo as autoras, te faz morrer e renascer, se perder para se reencontrar. Até chegar no bliz, no santo graal, e num espaço novo onde tudo se ressignifica e, então, recomeça. Não tem fórmula nem guia de viagem que sirva para cada jornada. Cada viajante vai construindo o seu, errando, aprendendo, caindo e levantando. E aí é que está a grande beleza do caminho. Eu lembrei demais de muitas mulheres com esta história, principalmente nesta semana tão marcante de "Dia das Mães". Mesmo sem assistir televisão, me vi bombardeada por uma série de mensagens marcantes e lindas que valorizam as corajosas criaturas que colocam ou criam novos seres no mundo. De um jeito bem heróico. Heróico demais, às vezes. Agora que estou entrando para o lado de cá, confesso que me sinto um pouco "impostora" diante deste tal "mundo rosa" da maternidade. Parece que ser mãe é sempre bem igual, sempre lindo de morrer. Todas sentem a mesma coisa, sorriem o tempo todo, estão 100% realizados com esta que foi a única tarefa para a qual foram talhadas na vida. Vejo a maternidade como algo bem heróico, sim. Pela coragem de encarar a jornada. De embarcar neste território desconhecido, com fadas e dragões, e de sair inteira do outro lado, ainda que nem sempre com a maquiagem irretocável. Tenho visto muitos filmes, lido muitos blogs que contam o "lado B" da maternidade, com muito humor e verdade. Nada de terror, calma. Mas muito de um mundo real. De mulheres reais que têm bem mais a ver com as minhas amigas mães do que com as criaturas intocáveis dos contos de fada. Guerreiras que ralam no trabalho, que fazem 1000 coisas ao mesmo tempo, que sentem culpa, têm dúvidas e mil vidas paralelas para administrar. E conseguem, cada uma do seu jeito, levar a vida. Pra mim, mãe tem que ser, acima de tudo, é mulher possível. Isto inclui uma carga grande de medos, de erros, acertos, situações inesperadas e nenhuma fórmula pronta para "guiar a viagem". E é aí que está a grande beleza da coisa. Nem uma criança é igual a outra, assim como nenhuma mãe precisa se encaixar em manuais para "dar certo". Senão perde a poesia e a natureza da coisa. Sei que minha nova jornada está recém começando. Meia dúzia de roupas na mochila e uma leve ideia de para que lado devo seguir. Estou curiosa, ansiosa e ainda me preparando para colocar o pé na estrada, de forma bem feminina e real. Sem abrir mão dos outros percursos que já percorri e dos outros tantos que espero que venham por aí. Enquanto isto, observo, curiosa, as histórias de cada uma destas mulheres corajosas que constroem suas jornadas com seus filhotes, sem manuais e ainda assim com muita maestria. A todas elas, todo o meu carinho e admiração. 

Quer saber mais sobre o livro da Cris e da Bia? http://www.ofemininoeosagrado.blogspot.com.br/

domingo, 15 de abril de 2012

Xingu. Essência dos Villas-Bôas em nós.

Acabei de voltar do cinema. Fui assistir Xingu. Temia que fosse uma produção "forçada" de índios. E voltei encantada com que eu vi. Não só pela produção primorosa, mas pela entrelinha de tudo o que o filme passa. Hoje de tarde eu assisti no Youtube um vídeo do Bernardo Toro, no TEDx Amazônia. Falava sobre cuidado. E sobre coisas bem básicas e esquecidas dos seres humanos. O Maturana fala disto, assim como outros tantos filósofos / pensadores contemporâneos. Parece que algo se perdeu e estamos tendo que reaprender a sermos gente e a nos relacionarmos com as outras pessoas. O que os irmãos Villas-Bôas fizeram foi simplesmente resgatar a essência humana em cada índio que contataram. Os índios, como os brancos, têm medos, sentimentos, emoções. E os tratamos como se diferentes fossem. O grande legado que os irmãos deixaram, além do Parque, claro, foi o de olharem e reconhecerem naquelas pessoas tão diferentes - e tão iguais - a essência que os move: busca de reconhecimento, de relações, de vínculos. E o fizeram não com uma ideologia sonhadora inocente. Entenderam a vida real e, mesmo assim, souberam agir, dentro de condições bem adversas e de contextos políticos bem fortes e questionáveis. Ao invés de se contentarem com suas condições bem sucedidas na vida, souberam articular relações de poder, em São Paulo, Brasilia e, ao mesmo tempo, olharam nos olhos dos índios e encontraram e reconhecimento em cada um daqueles que confiaram neles. Não podemos ser inocentes e imaginarmos que "um mundo rosa é possível". Estamos dentro de um mundo bem real e material, onde relações de poder nos movem todos os dias. Esta foi a cartilha que nos ensinaram e a queimarmos numa fogueira talvez não seja um caminho necessariamente inteligente. Mas, com bastante pé no chão e entendimento desta realidade, dá sim para lembrarmos as nossas essências humanas e tentarmos, nas nossas vidas cotidianos, fazermos a diferença, escutando as pessoas e tocando-as com nossas vulnerabilidades. Tenho falado muito nos "gnomos que fazem". Pra mim, serão eles os grandes responsáveis por grandes mudanças que virão logo em seguida. Eles não estão ilhados em seus mundos mágicos. Mas dentro de mundos bem reais e nem sempre tão poéticos, aprendem e ensinam a arte de cuidar e, pouco a pouco, contagiam com suas energias. Felizmente, São Paulo, esta cidade tão "cinza", me apresentou muitos deles. Quem sabe um ou outro não está plantando uma sementinha como a que os irmãos Villas-Bôas fizeram há 50 anos? Boa semana pra nós!

* o vídeo que comentei do Bernardo Toro: http://www.youtube.com/watch?v=7oUUTuOx3eU

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ciranda de roda

Já faz horas que o tal círculo vem me perseguindo. Nos encontros mensais das gestadoras, onde falamos sobre o resgate do feminino, nas palavras da Isabel Allende, no livro que estou lendo “La suma de los días”, nas conversas do Humberto Maturana, onde ele reforça que conversar nada mais é do que dançar juntos, dar voltas juntos, numa dança recursiva de colaboração, nos aprendizados do Art of Hosting, onde nos redescobrimos num grande círculo de quarenta pessoas. Muitas metáforas das nossas vidas são circulares, têm começo, meio e fim e recomeçam, com uma grande dança orquestrada e completamente perfeita. Nós é que “enquadramos” demais, pensamos demais e acabamos por entortar aquilo que estava literalmente “redondo”. As tais conversar circulares ancestrais ao redor do fogo e a continuidade delas, hoje, nas nossas mesas de jantar, em família ou com os amigos, nada mais são do que um resgate e uma lembrança daquilo que nos move de verdade como seres humanos que somos: nos alimentamos através do contato com o outro, nos reinventamos quando nos espelhamos nas pessoas, nos religamos com nossas existências cada vez que temos a consciência do quanto somos uma importante parte deste todo. Durante os dois dias em que estive com o Roberto Maturana, em São Paulo, aprendi muita coisa nova, me senti beeem burra em muitos momentos, tamanhas metáforas da biologia que ele utiliza e, mais adiante, quando relaxei e entendi o quão simples eram suas palavras, tive a certeza de que estes e outros ensinamentos não mudam ao longo dos tempos. Somos seres em eterna evolução mas o que nos move de verdade é bem simples e básico. Por trás de tantas teorias e jeitos de enxergar o mundo, buscamos todos as mesmas respostas para perguntas bem básicas: “Gosto do meu viver?”, “Quero o querer que eu quero”, perguntou Maturana. “Estamos dispostos a soltar nossas certezas para nos transformarmos de verdade?” As respostas têm a ver com um simples resgate de nossas famílias ancestrais, seres espontaneamente amorosos que, ao compartilharem o alimento, em círculo, aprendem a doce e difícil arte de conviver. Nas empresas, mudam apenas os nomes. E o resgate é o mesmo. Se não há conversas significativas, se não há prazer em compartilhar com o outro, não há sentido naquele encontro. Tenho experimentado com alguns clientes encontros literalmente circulares com suas equipes. Algo bem simples de fazer e tão esquecido. Quando as pessoas se olham nos olhos parece que a conversa flui e algo acontece. Em casa, tenho insistido em resgatar o ritual do jantar, com mesa bem bonita e uma boa conversa presente. Pode ser um círculo de dois ou, quando vêm os amigos, maior, cheio de boas energias. Sempre tive isto na minha infância. Ponto pra minha mãe, que sem nenhuma teoria e com grande sabedoria, conduzia este grande círculo familiar. Talvez o grande aprendizado deste tal 2012 seja olharmos para trás e resgatarmos as cirandas de roda que sempre nos moveram e que roubamos de nós mesmos nas correrias da vida.

domingo, 8 de abril de 2012

Robert Happe, Maturana e o coelho da Páscoa.

No carnaval passado, estive com o Robert Happe, um holandês “gnomo” que me foi apresentado por alguns anjos na Terra. Ele vive no Brasil há alguns anos e tem um sítio delicioso pertinho de São Paulo, onde organiza uns “retiros” para contar o que pensa sobre a vida. Meses mais tarde, em São Paulo, num encontro numa galeria de arte, descobri o Humberto Maturana, chileno, também bem vivido. Chegou de mansinho e trouxe, através de metáforas da biologia, sua maneira de ver e viver a vida.

No fundo, ambos, tão diferentes, falavam das coisas humanas e, apesar das aparentes distâncias culturais e espirituais, estão focados em entender melhor o que nos move enquanto seres que somos. Não por coincidência, os dois falaram dos nossos medos e do quanto eles nos impedem de sermos quem somos de verdade. Um deles, o Robert, falava das necessidades humanas, enquanto Maturana contou o que, no seu ponto de vista, são nossos direitos universais.

Neste domingo de Páscoa, achei bem oportuno dedicar alguns minutos a reencontrar o que eu vivi com eles e buscar, nas palavras e vivências destes senhores simpáticos de cabelos grisalhos, força e motivação para renascer.

Segundo o Robert, existem cinco necessidades humanas que precisam ser observadas e respeitadas. A primeira, é a necessidade de entendermos o nosso verdadeiro poder. Poder como habilidade irrestrita que temos para agir. O poder individual nada mais é que a nossa conexão com o fluxo divino do livre arbítrio, que faz você saber que deve agir de uma forma livre para preencher suas necessidades. Poder no sentido bem básico, aquele que te dá segurança para saber que você pode cuidar de si mesmo e que pode fazer sua vida funcionar. Se você não se conecta com este poder, todas as suas outras necessidades ficam limitadas. A segunda necessidade humana é a necessidade de liberdade. Ser livre em movimentos e pensamentos. Quando você consegue, você permite que os outros também tenham suas liberdades. Esta liberdade não é negociável. Você precisa ter claro que tem o controle sobre a sua vida, que você depende de você mesmo e que pode ser capaz de pensar por si. E é esta liberdade que te dá a oportunidade de repensar tudo. O tempo todo. Você tem liberdade de ser você mesmo. A terceira necessidade é a de expressar-se de forma criativa. Você precisa, enquanto ser humano, encontrar um jeito único e valoroso de se expressar. Não vale só para músicos e artistas, mas tem a ver com uma expressão criativa de uma pessoa verdadeiramente livre: espontaneidade, senso de alegria. Quando nos expressamos, ficamos felizes. Temos uma necessidade urgente de fazer algo novo. Por isto, precisamos urgentemente desenvolver novas habilidades. É este espírito criativo o que nos motiva a levantar todo dia de manhã. A quarta, é a necessidade de conexão. Temos necessidade de nos afiliarmos, de compartilharmos sonhos. Cooperar é bem mais interessante do que fazer as coisas sozinhos. O jogo é mudar a estratégia da competição pela de cooperação. Adiamos o tempo todo esta nossa capacidade de cooperar, de nos conectarmos, por puro medo, por não reconhecermos o poder que isto tem. A quinta necessidade, finalmente, tem a ver com nossa vontade de encontrarmos significado para tudo, para que este mundo faça sentido para nós, seres naturalmente curiosos. Este é o quebra-cabeça que nos move, são estes jogos de expansão da conciência e auto-desenvolvimento mexem com a gente. Esta necessidade nos ajuda a compreendermos nosso verdadeiro papel no mundo. Pra que eu existo, afinal? Sem significado, a vida é um ciclo de ações sem sentido e cheia de dor. Aí vem o caos. Encontrar significados é uma atividade espiritual.

Necessidades humanas (by Robert Happe):
1) encontrarmos nosso verdadeiro poder
2) necessidade de liberdade
3) nos expressarmos de forma criativa
4) necessidade de conexão
5) encontrarmos significado

O Maturana, sem nenhum viés espiritual da conversa, na verdade totalmente científico, e igualmente sábio e vivido, trouxe um outro olhar bem humano sobre as nossas inquietações. E comentou sobre três direitos humanos. Segundo ele, temos o direito de nos equivocarmos, de mudarmos de opinião e o direito de ir, a qualquer momento. Falou sobre nossas famílias ancestrais, sobre o resgate do prazer de estarmos juntos, da importância dos espaços de bem-estar na convivência. E falou nas conversas, no conviver. “Conversar é dançar juntos, estar com o outro, colaborar.” Todo o viver humano ocorre em redes de conversações. Para Maturana, os processos de transformações culturais acontecem através de pessoas audazes. Não ocorre porque são moda. Mas têm a ver com abrir o olhar e ter coragem de começar. Falou também no tal “medo”, que paraliza, e fez um convite para tentarmos vivermos sem tanto esforço.

O Robert e o Maturana provavelmente nunca se cruzaram na vida. Construíram trajetórias bem distintas, viajando pelo mundo em busca de novas perguntas para suas dúvidas tão mundanas. Não sei se acreditam em coelhos da Páscoa, nem se comemoram a data de hoje com suas famílias, tenham elas o modelo que tiverem. Mas os dois, cada um de sua forma, falam, o tempo todo, sobre o milagre da ressurreição. Eles, a seus modos, acreditam na nossa liberdade de tomarmos nas mãos as rédeas das nossas vidas e vivermos uma vida mais leve, afinal. E de recomeçarmos do zero a hora que tivermos vontade / coragem. Fica o convite para a reflexão e uma tentativa, minha, principalmente, de descomplicar um pouco para exercermos nossos direitos e necessidades de um jeito bem alegre e livre. 
Feliz Páscoa. Ho ho ho.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Felicidade Interna Bruta

* Finalmente, depois de alguns meses, nasceu um texto full da minha experiência na India e Butão, generosamente publicada na última edição da Revista de Marketing Industrial. Obrigada, Gerson Ferreira Filho, editor e amigo. Obrigada, Monique, por teres compartilhado este sonho lindo da viagem comigo.
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Eu fui até o Butão tentar desvendar a tal Felicidade Interna Bruta. Não era a viagem dos meus sonhos. Sequer foi planejada. Ao menos não por mim. Entrei de carona nos planos de uma amiga e acabei embarcando, literalmente, numa aventura num país desconhecido e praticamente intocado.Antes, pra aquecer, estive na India. Melhor, nas diferentes Indias que formam a India. Muitas semelhanças com nosso Brasil enorme e cheio de histórias. Dehli, cosmopolita, intensa, agitada, estridente, abafada, sorridente. O Parque Nacional de Kaziranga, no Assam, nordeste, com novos rostos e aventuras. Lá andei de elefante, de jipe, dormi numa antiga casa de caça inglesa que fica boa parte do ano inundada, vi enxames de vagalumes à noite e, acreditem, o tigre. Assim, na minha frente, depois de mais de quatro horas de muita paciência.

De lá, outro extremo ainda indiano: o Darjeeling, na parte ocidental, cadeia inferior do Himalaia, com suas plantações poéticas de chás, rostos ainda mais exóticos, macacos por todos os lados, temperaturas baixas, templos budistas e hinduistas convivendo no mesmo espaço. Para completar, uma experiência inexplicável com um monge que nos chamou para conversar e nos deu uma aula de vida - “You have to share all the things”. “We have lots of lifes to change all the lifes”, “The life is like a monkey. It's not here. Try to remind the power of now” - só para citar alguns insights. Bom aquecimento para desplugar a cabeça do Brasil e preparar a minha alma para entrar no território desconhecido butanês.

Por indicação dos nossos guias (verdadeiros irmãos mais velhos, prestativos, preocupados, atenciosos – uma aula de cortesia e atendimento), entramos no Butão de carro. Tudo foi planejado, pensado. Chegamos em meio a uma tempestade de areia num final de tarde bem estranho, já ensaiando algumas palavras em butanês com nosso guia e grande companheiro de jornada, o Sonam. Chegou todo sorridente contando contos e causos, falando da paixão dos butaneses pelo futebol, da medicina, da invasão de nepaleses no sul do Butão em 1999 (episódio raro e marcante), do rei, das rainhas, do Himalaia, das roupas, dos templos, da vida, enfim. No dia seguinte, bem cedo, uma grande aventura e muitos quilômetros de estrada pela frente. Penhascos, paisagens inesperadas, neve ao fundo, cachoeiras, vento fresco, flores e cores.

A palavra Butão significa “terra do dragão”. Um belo lugar para ele se esconder, encravado entre a China, a norte e oeste, e a India, a leste e sul. Estivemos em quatro cidades e alguns vilarejos, com destaque para Thimpu, a capital, com pouco mais de 50 mil habitantes, e Paro. segunda em importância no território butanês.
Como a viagem foi repentina, nã pude ler a respeito nem me informar tanto quanto faria normalmente antes de uma viagem. Conversei com um ou outro, mas entrei o mais despida possível de informações e de pre-conceitos. Construi, com isto, um Butão muito meu, talvez não compartilhado da mesma forma por outros aventureiros que lá estiveram.
Tomei a liberdade de selecionar alguns episódios que mais me marcaram. Difícil eleger. Foram muitos.

1) Hábitos (roupas, comidas, casas)
O Butão tem uma cor bem própria. Vermelho com amarelos marcantes formam a bandeira e também boa parte dos pigmentos das vestimentas típicas que tão lindamente cobrem a população. Praticamente todo mundo veste os trajes locais, numa dança deliciosa de tons e tecidos. Há muito de artesanato local nos principais pontos das cidades e um exercício, mais uma vez, de extrema paciência e dedicação daqueles que tecem os tais panos. As comidas, nem tão exóticas nem tão apimentadas quanto as indianas (come-se muita batata e legumes por lá), têm um outro quê de interessantes: são ingeridas, quase sempre, com as mãos. Há um arroz vermelho bem típico, encontrado em todo canto, servido numa cumbuca simpática e devidamente amassado com os dedos para formar uma espécie de bolinho antes de ser levado à boca. Os butaneses apreciam a comida com outros sentidos. Apalpam, sentem, experienciam a arte de comer.

2) Felicidade Interna Bruta
Fui apresentada a Dasho Karma Ura em uma situação muito além da que eu poderia imaginar. Mestre em Política, Filosofia e Economia pela Universidade de Oxford, Inglaterra, e vice-presidente do Conselho Nacional do Butão, Presidente do Centro para os Estudos do Butão fundado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) para formular as análises estatísticas do FIB – um indicador para a Felicidade Interna Bruta. Ele me recebeu na sua casa, para um jantar em família. Graças a um amigo em comum no Brasil, fomos juntas, eu e Monique (aquela que me convidou para a viagem). Imaginava, quando soube do link com este amigo da USP, que conseguiríamos uma “conferência” com ele no seu gabinete. Braço direito do rei, ele não teria tempo para receber turistas. Não só teve, como o usou sem pressa conosco, numa conversa deliciosa, regada a uma bebida típica (e forte) de boas vindas (uma espécie de whisky quente – ai de quem fizesse desfeita) e comida em abundância. Pra nós, visitantes, talheres ocidentais. Ao redor da mesa, a esposa, a filhinha curiosa e cheia de questionamentos (fluente em inglês, contou o que devia e o que não devia, divertindo e preocupando o pai).
Falando so bre a tal Felicidade Interna Bruta, disse: “It's a very old idea, not so easy to practice”. “A world for people, and not for things”. Basicamente, e muito a simplificadamente, a conversa girou em torno da busca de boas relações com as pessoas, de estar bem com sua consciência e saber balancear o seu tempo 24 horas por dia. Ter saúde, meditar e trabalhar de 5 a 6 horas por dia faz parte do tal jeito butanês de encarar a felicidade.
Na verdade, não há muito mais a ser feito por lá, nada que ocupe mais que 5 horas diárias. O país vive muito de agricultura. Não tem indústrias. Ainda mantém um estilo pacato, parece ter outro relógio para medir o tempo. O trabalho bem manual, mas em pouca quantidade, e muito tempo livre faz parte da rotina do país. Claro, o FIB é bem mais que isto. Tem indicadores, métricas, estudos. Cheguei com meu caderninho em punho para anotar tudo, pegar dados, estatísticas. Aí relaxei diante da paz daquele homem e apenas ouvi. Em momento algum, ele falou da “magia” do FIB e do quão maravilhoso ele é. Apenas contou no que acredita e como imagina que isto pode virar prática.

3) Os templos
Das montanhas mais remotas surgem inesperados templos budistas lindamente enfeitados e cheios de simbolismos. Ao redor (e por toda parte), centenas bandeiras de orações coloridas completam a paisagem e, embaladas pelo vento, completam o cenário de paz e tranquilidade. Cada templo tem uma história e não faltam monges e simpáticos moradores locais para explicarem suas sutilezas e rituais.
Num deles, o da fertilidade, desvendado depois de uma longa caminhada por meio de trigais, há um ritual um tanto inusitado para nossos padrões ocidentais: depois de sortear algumas moedas, o visitante chega a um número e, dependendo de sua “sorte” recebe uma benção da fertilidade, uma espécie de sinal da cruz feito por um monge com um falo de madeira nas mãos.
E os rituais não param por aí. Na chegada a cada templo, faz-se três voltas no sentido horário pelo lado de fora, como um sinal de respeito antes de entrar e fazer as orações. Há ainda as rodas de orações, grandes espaços ao ar livre com imensas esculturas cilíndricas cheias de textos e mantras impressos. Num dos templos, vivem os velhinhos butaneses que, com a chegada da idade avançada, migram das montanhas para a cidade e passam boa parte dos seus dias girando as rodas de orações. Já que não têm nada para fazer, espalham aos quatro ventos mensagens positivas para a Humanidade.

4) As artes
Os butaneses investem muito em arte. As criancas estudam em turno integram e intercalam atividades tradicionais com aulas de escultura, pintura, desenho, teatro, marcenaria. As casas em si já são verdadeiras obras, construídas colaborativamente e pintadas a mão, formando mosaicos e desenhos vibrantes e marcantes. As atividades manuais ainda estão bem presentes nas comunidades. Os butaneses são sensíveis e têm um bom olho olho para a estética.

5) A “ocidentalização” butanesa
Ainda são poucas as influências externas no cotidiano butanês. É muito recente a abertura do país para o turismo e para a chegada de referências de fora. Para se chegar lá, é preciso muita disposição (física, inclusive), documentação e a autorização do rei. Mesmo assim, recentemente, muito dos hábitos ocidentais começou a chegar ao país. Com o aeroporto, em Paro, com a liberação da internet e, claro, com a influência dos turistas que começam a circular. Há espaço para turismos bem específicos no Butão. Um deles, o de bird watchers. Amantes de pássaros do mundo inteiro vão até lá para observarem, fotografarem e interagirem com espécies raras. Chegam com suas grandes câmaras e deixam muito de seus hábitos e jeitos de viver e viver o mundo por lá. Objetos simples, como o chiclete, são excessivamente valorizadas pelos curiosos butaneses, que sopram bolas pelas ruas com a alegria de uma criança.

6) A supervalorização do pênis
No Butão, o pênis é sagrado. Representa o símbolo da fertilidade e é cultuado explicitamente nas paredes externas das casas. Praticamente toda casa butanesa tem um membro sexual masculino artisticamente pintado, com uma riqueza de detalhes que faz corar qualquer ocidental.

7) O Tiger's Nest
O ponto alto da viagem foi a subida do Tiger's Nest, ou ninho do tigre, uma montanha cheia de mistérios e de desafios. Segundo reza a lenda, o santo Padmasambhava, o Gurú Rinpoche, teria voado até a montanha no lombo de seu tigre, que escolheu o lugar, reconhecendo-o como sagrado.
Subir a montanha, a mais de 3.000 metros de altura é um exercício e tanto. Mais mental do que físico. Fiz parte do trajeto num burro e, de determinado ponto em diante, segui a pé. Dá muita vontade de desistir pelo caminho, mas a paisagem, as mensagens de incentivo dos aventureiros que descem a montanha e a curiosidade em estar num lugar onde tão poucos estiveram redescobre uma coragem que sequer sonhava existir. Ao final, nos degraus da subida definitiva do templo, não dá mais para pensar no quanto falta. No meu caso, decidi “vencer” degrau a degrau, respirar e só me contentar ao chegar ao último deles, sem pensar no tempo, nas pernas adormecidas, em nada.

8) As minhas (descontraídas) conclusões
Mario Quintana já dizia que “viajar é trocar a roupa da alma”. No caso da India / Butão, a frase torna-se ainda mais literal. Me peguei vivenciando situações de um jeito nem eu mesma me reconheci. Quando, na batida frenética de São Paulo, eu teria paciência para esperar quatro horas dentro de um jipe, com sol escaldante, a chegada de um tigre, que sequer havia dado garantias que viria? O que me fez subir uma montanha gigante, com ar rarefeito e ainda assim sorrir o percurso todo? Que lições são estas que os nossos guias nos deram de cidadania, respeito, paz interior e dedicação? Às vezes, trocar de contextos ajuda a exercitar novos olhares e a despertar em nós novos jeitos de ver e viver o mundo. Nas nossas vidas corporativas ou mesmo nas nossas vidas pessoais, esquecemos de exercitar estes novos olhares simplesmente porque estamos “acostumados” demais com nossos contextos. Deixamos de lado as conversas significativas, o tempo para o vazio, o nosso tempo. Sempre foi assim, afinal. Se o FIB é um indicador confiável? Não sei. São os butaneses felizes de fato? Depende. Talvez com nosso óculos ocidental, material, nem um pouco. O que eu vi por lá não se mede com números ou gráficos.

Kadinchey (obrigada, em butanês)

* nota de redação adicionada pela editoria da revista:
Indicadores econômicos tradicionais medem o desenvolvimento dos países pela renda, ou seja, pelo PIB per capta. A preocupação com a qualidade de vida introduziu o IDH, um indicador que considera, além da renda, a educação e a saúde das populações. Mais recentemente, porém, preocupações maiores com sustentabilidade e meio ambiente mostraram a insuficiência desses indicadores. Foi quando o pequeno Butão apareceu no noticiário como um Éden, em cujo isolamento se construiu, ao longo dos séculos, uma civilização de pessoas felizes, governadas por reis bondosos. Ao que parece, lá não há crimes, poluição ou estresse. Lá estaria o povo mais feliz do mundo, não o mais rico ou o mais culto. Como medir isso? Como calcular o FIB de um país? O PNUD/ONU criou, lá mesmo, um centro de estudos sobre a felicidade, em um contexto coletivo, que é dirigido por Dasho Karma Ura.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fantasia de eu

Fico aqui acompanhando meio voyeur no Facebook a movimentação das pessoinhas neste pré-carnaval. Desde ontem, grandes agitos e boa parte da turma indo pra praia. De foliões, daqueles com fantasia e confete na mão, cada vez menos. A galera tá querendo paz, sossego, natureza, ar puro e sol, se não for pedir muito. Muitos ainda estão voltando às raízes, aproveitando os quatro diazinhos emendados para visitar a família, resgatar as origens e colocar o pé na terra. Já faz tempo que eu não pulo Carnaval. Tive meus tempos de foliã quando ainda vivia em Cachoeira. Bloco grande, mais de 100 pessoas, concentração antes da festa, folia, amigos, coisa bem boa. Mas tem mais de uma década que eu busco mesmo é sossego. No ano passado, fui um pouco mais radical e passei o Carnaval num retiro, em Viamão, RS. Uma das melhores coisas que eu fiz na vida. Eu, o Marco e 200 desconhecidos emanando coisas boas pro universo numa simplicidade que dava gosto de ver. Teve até o casamento do ano pra mim. Sim, casei seis vezes e este, assim, no susto, dentro do retiro, foi o que mais valeu pra mim. Amanhã vou tentar me reencontrar de novo. Um retiro pertinho de São Paulo com o Robert Happe, um holandes que três amigos muito queridos me “indicaram” quase ao mesmo tempo. Coisas do universo. Nem eu sabia, mas justo hoje à noite entra no céu a tal lua de Peixes. Período de fechamento, de olhar pra dentro. Segundo a Carla, a astróloga que conduz as lunações, é um momento bem importante para ter coragem de olhar pra dentro. Extremamente criativo, imaginativo e dualista como o piscino: amor e ódio a milhão. Se esconder nas fantasias não é, definitivamente, a melhor escolha para este momento do céu. Até porque a quarta-feira de cinzas vem depois e traz a vida real bem dura de volta. Não tem muita fórmula nem lição de moral na história. É hora de sonhar coisas boas e olhar bem fundo para ter certeza de tudo o que não nos serve. Hora de limpar (agora pra valer) os tais armários internos. Esta semana, especialmente, eu estou bem cansada, estressada, bem chata mesmo. Precisando de paz e fazer um pouco de nada. Não vai ser bem o que eu vou encontrar. Tem bastante trabalho interno pela frente. Vou assim, bem exposta, vestida de “piscina” mesmo pra ver no que vai dar. Independente da fantasia que você for usar, espero que ela seja bem aberta. E que tenha grandes frestas para liberar tudo de ruim que ficou aí no ano que passou e para deixar entrar toda a luz e a potencialidade espiritual que 2012 vem trazendo. Bom ritual pra você. Bom carnaval pra todos nós. Namastê.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Boas vindas pra quem chega à terra da garoa

Em vim para São Paulo há pouco mais de quatro anos. Cheia de expectativas e morrendo de medo do que ia encontrar por aqui. Mas vim porque quis. Decidi mudar minha vida e abracei a oportunidade de começar uma nova história pessoal e profissional por aqui. Vim sozinha começar a minha empresa na Terra da Garoa e comecei do zero. Literalmente. Malinha na mão e um monte de coisas novas pra aprender. Um lugar pra morar, uma sala comercial para alugar, papeis, corretores, alegrias e desesperos. Mais desesperos que alegrias, pra falar a verdade. Como eu não conhecia praticamente ninguém, me deixei adotar pela cidade. E fui maravilhosamente bem acolhida pelas pessoas. Começando por uma espécie de padrinho, o José Carlos, que me ajudou desde o primeiro dia e me apresentou um turbilhão de gente bacana (cheguei e fui fazer aula numa escola fora dos padrões tradicionais, para executivos). Conversa aqui, conversa ali, troca de telefones e emails e uma rede já se formou. Depois, com classe e muita cara de pau, peguei o telefone e saí em busca de novos amigos. Primeiro, liguei para os amigos gaúchos com conexões por aqui. Depois, para os amigos dos amigos, sempre com o convite para “tomar um café”. Detalhe, eu não tomo café. Mas o “tomar café” rendeu muito, mesmo quando o café era chá. Conheci mais gente nos quatro anos em São Paulo do que em todos os outros anos da minha vida (ok, ok, nem foram tantos assim :) O tal ditado de que a dor ensina a gemer fez muito sentido pra mim. Eu poderia ter vindo pra cá e ficado em casa (no flat), chorando e reclamando da vida. Mas respirei e fui pra rua. Aprendi a atravessar a rua em São Paulo, a desvendar as ruas, a mentalizar o norte e o sul do mapa mentalmente. Sofri no trânsito, com as chuvas, com a correria e meu despreparo para alguns rituais paulistanos. Mas optei por não sofrer. E tentar olhar São Paulo com outros olhos. Claro, quem conviveu comigo nos primeiros tempos sabe que não foi nem um pouco fácil. Apanhei bastante desta terrinha, mas acabei me apegando à bichinha. Até me apaixonei e me casei por aqui. Quem diria. Hoje a Helen, que trabalha comigo há muitos anos, chega em São Paulo. Vem com a mala na mão e um monte de expectativas. Chega, felizmente, com uma estrutura para recebê-la, amigos formados e um monte de projetos bacanas pra tocar. Fico imaginando a nova Helen daqui a quatro anos, mais paulistana na essência. Não menos gaúcha e interessante por isto. Torço para que ela traga também óculos bem coloridos e que tenha a coragem e a vontade de olhar tudo de bom que esta terra tem para oferecer. Seja bem-vinda!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pode ser mais simples :)

Este foi um daqueles finais de semana deliciosos em que eu pude compartilhar com muitas pessoas maravilhosas coisas da vida. Dúvidas, certezas, incertezas, medos, alegrias, conhecimento, auto-conhecimento, autores, livros, dicas de filmes, histórias, contos, "causos", risos, dramas, percepções. Melhor ainda, reuni várias criaturas que não se conheciam e em poucos minutos elas sentiam-se íntimas, como se já se conhecessem de outras vidas. O bom disto tudo é que depois de viajar em pensamentos, teorias e sentimentos, no fim dá pra perceber com muita clareza que a busca do ser humano é sempre bem igual. Queremos crescer, evoluir, sonhar, realizar, conquistar, aprender, dividir, compartilhar, viajar, queremos ser reconhecidos, queremos ser amados. E por mais que busquemos fora muitas das respostas para nossas buscas, todas elas, eu disse todas, estão dentro de nós, simples assim. Simplicidade é tudo. Mario Quintana era mestre nesta arte. "O poeta das coisas simples." E, claro, tinha muita base para deixar tudo tão leve e descomplicado. As crianças, sempre elas, são seres tão lindos e simples que dá até dó de saber que perdemos boa parte deste jeitão. Pra elas, os brinquedos mais bacanas geralmente são os mais inusitados, como a própria caixa. Ninguém disse que ser simples, que viver uma vida simples, é fácil. Tem que comer feijão, tem que ter bagagem, tem que ter viajado por aí para valorizar, na volta, o cheiro da nossa cama. Por isto, meus queridos, nesta segunda fresca em São Paulo, eu desejo a vocês o que de mais lindo eu poderia desejar: uma semana linda e bem simples para todos nós.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Lua cheia na veia!

Eu fui criada pra ser bem cética. Tudo bonitinho, certinho, dentro das fórmulas e da normalidade. Mas sempre teve um lado meu de travessuras que ousava navegar por mares desconhecidos da criatividade, brincadeira, espiritualidade quem sabe, mesmo sem eu saber muito bem o que isto tudo significava. Com a melhor das intenções, os pais, o colégio, a sociedade acabaram tolindo um pedaço de nós tão lindo e importante. Ninguém fez por mal. Simplesmente o fizeram porque "sempre foi assim." Pois bem, agora, ao que parece, tem um monte de coisas sendo questionadas. E o que parecia "coisa da cabeça das pessoas" começa a fazer muito sentido. Não sei quanto a vocês, mas não consigo evitar de enxergar que muita coisa está mudando. Se eu, exatamente euzinha que vos fala agora, estivesse vivendo na época da minha avó, muito provavelmente não estaria sentindo, vendo, observando, experimentando tudo isto. Não deve ser por acaso que caí neste mundinho justo nesta hora tão simbólica. Da cética de alguns anos atrás tem surgido uma Deinha que me encanta / me assusta na mesma proporção. Ok, talvez assuste mais do que encanta às vezes. Cuido pra quem eu falo, como eu falo, quando eu falo. Mas está difícil demais esconder de mim mesma um monte de coisas. Por exemplo?
- Anjos existem. E não têm necessariamente asas. Eles se encontram e sequer precisam comentar o assunto. Eu mesma conheci uma dezena deles nos últimos tempos.
- A lua cheia mexe demais comigo, com a Humanidade. Não tem como negar. Chega a ser matemático. Hoje, mais que nunca, senti o efeito dela. E sequer lembrava da sua existência com este dia / noite de tanta chuva.
- Ser espiritualizado não tem nada que vem com ser religioso. E ter abertura para entender esta sutileza deixa tudo bem mais leve.
- Não podemos fugir do que somos e do que viemos fazer. Tem que ter algo maior. E não é só a coisa de ganhar dinheiro, conquistar o mundo. É muito mais que isto.
- Finalmente, as máscaras já começaram a cair. Quem aguenta olhar pra tudo isto?

domingo, 8 de janeiro de 2012

O que você realmente gosta de fazer?

Neste fim / começo de ano eu tenho me pegado bem introspectiva e altamente questionadora sobre várias coisas que eu vejo / sinto. Alguns emails, papos e, finalmente, dois filmes que assisti neste final de semana me fizeram questionar mais ainda.
Pra começo de conversa, teve um email beeeem forte que a Januza mandou no fim do ano, refletindo sobre o texto "De repente 60", que ganhou o prêmio Longevidade Bradesco 2011, na categoria "Histórias de vida", de Regina Pompeu. Basicamente, o texto conta a história real da Regina que, de repente, se viu com 60 anos e parou para questionar um monte de coisas que fez e as outras tantas que deixou de fazer na vida. "Onde foram parar todos esses anos?", questionou ela. Não foram poucas as pessoas que nos últimos dias, especialmente, me comentaram coisas deste tipo. "O que estamos fazendo com as nossas vidas?" "Pra que tudo isto?" "Qual nosso propósito real, afinal?" "O que queremos viver / deixar para a Humanidade e o que nos impede, de fato, de fazermos?" Incomodada que já estava, assisti ontem ao filme "O primeiro que disse", uma comédia italiana que eu perdi no cinema e que, assim, meio por acaso, acabou nas minhas mãos. Conta a história de um Tommaso, um italiano de uma família beeem tradicional que resolve revelar sua homossexualidade e acaba vivendo uma história muito desastrada, já que seu irmão mais velho, todo certinho, toma a iniciativa primeiro e revela-se gay antes dele. Gay, escritor, sonhador, Tommaso passa o filme todo na angústia de ser quem realmente ele é, tentando equilibrar seus desejos e sua identidade com as expectativas da família da sociedade. Quem nunca passou por isto? O golpe final foi o delicioso "Julie & Julia", baseado em histórias reais, que se passa em dois mundos paralelos e super conectados. Ambas são mulheres tentando se encontrar, em épocas diferentes, com sentimentos muito iguais: busca do pertencimento, da energia vital, de uma causa. A certa altura do filme, o marido da Julie Powell, a protagonista do mundo contemporâneo, pergunta a ela: "O que você realmente gosta de fazer?" e desencadeia uma mudança gigante de comportamento e de atitudes nesta mulher tão jovem e amargurada. Faltava um propósito para ela, assim como muitas vezes faltam propósitos para nossa vidas. Ou quando os temos, nem sempre temos a coragem de nos expormos e os abraçarmos, sem nos importarmos tanto com o que os outros pensam. Sinto que agora, mais do que nunca, é hora de pensarmos de verdade no que gostamos de fazer, no que nos move, no que nos toca. Se o tal 2012 tão revelador chegou, que tal usarmos esta grande desculpa cósmica para colocarmos a mão na massa e assumirmos nossas vidas? Desenhar, escrever, trocar uma ideia com alguém legal sempre ajuda. Depois, com este monte de papel na mão assim, ainda imperfeito, é hora de começar a dar forma a tudo isto, sem aquele olhar tão crítico e castrador. Sermos leves, enfim, e nos permitirmos, vez ou outra, fazermos algo que realmente gostamos, com muita intensidade e nem um pouco de culpa. Quem começa?

Referências gostosas que, espero, provoquem você tanto quanto me provocaram:
3) Julie & Julia (foto do post retirada do filme)http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/julie-julia/id/15974

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Armários internos escancarados

Eu tenho recebido diversos emails, mensagens, textos sobre o tal 2012 que chegou dia destes tão cheio de significados e de teorias. Pra mim, a que mais faz sentido foi a historinha que a Preetha, uma bruxa super do bem que eu conheci na India. A teoria dela, na verdade, tem aparecido em alguns dos emails. E não tem nada de catastrófica, não. Pelo contrário. A metáfora que ela usou pra me contar a historinha é a da luz. Funciona assim: é como se nossos "armários" estivessem fechados há tempos, cheios de coisas guardadas que sequer lembrávamos. E em 2012, uma grande luz bem forte fosse acesa dentro destes armários, relevando tudo de bom (e também tudo de ruim) que estava guardado lá dentro. Com  isto, diremos adeus à hipocrisia e estaremos de frente com a vida como ela é. Enfrentar nossos armários assim, escancarados, exige coragem. Teremos momentos introspectivos e reflexivos importantes. Este é o tal 2012. O Robert Rapé, outro cara que eu amo e admiro horrores, fala a mesma coisa, só que de outro jeito. Num encontro com ele no fim do ano passado, ele falou muito sobre isto, sobre nossos medos, nossa verdade, sobre a luz: "Estamos vivendo um momento de luz e sombra, de discernimento. A Humanidade começa a perceber que há algo muito errado. Temos que desenvolver o discernimento para retomarmos a nossa essência, pura, inocente. Esta é a verdadeira “jornada” de volta pra casa. Estamos eternamente conectados com a fonte de vida. Se você souber isto, estará em casa. Estará livre."
Aprender a controlar os medos, a equilibrar emoções, a nos deixarmos guiar pelo coração é a nossa verdadeira cura. Que bom que estamos aqui neste momento e que podemos aprender com ele. Que bom que teremos a oportunidade de tirar para fora velhos panos guardados. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sem controle

Este começo de ano está bem engraçado pra mim. Pra não dizer trágico. Como tenho um lado Pollyana ainda, um pouco ácido e alterado, consigo rir de mim mesma e da minha "reclusão" forçada. Na chegada em casa no domingo à noite, depois de um fim de ano na praia, sofri um acidente doméstico bem inusitado. O extintor de incêndio (gigante e cheio) do meu prédio, mal instalado ao lado da porta da cozinha, se atirou aos meus pés e esmagou meu pobre pé que passava ali embaixo assim, bem descansado e de Havaianas. O resultado? Um roxo bem feio, um corte, tudo inchado e a impossibilidade total de pisar por alguns bons dias. Pelo menos não quebrou. Osso duro esta guria. Fazer o quê?Trabalhar de casa, me recolher. Tem coisas na vida da gente que não têm solução e, por isto mesmo, estão solucionadas. A morte de pessoas queridas, por exemplo. Neste mesmo fim de ano dois amigos muito queridos perderam os pais em um intervalo de tempo bem pequeno. Primeiro foi o pai do Zé, logo depois do Natal, e, hoje, a Ana, um anjo da minha vida, que perdeu o pai. Coisa triste. Coisas da vida. Eu não estava por perto mas senti com eles a dor da perda. Como sei que um bando de gente sentiu muito também a morte do jornalista Daniel Piza, cheio de talento e de possibilidades. Felizmente, os ciclos se renovam e temos, com a mesma intensidade da dor, alegrias e emoções com a chegada de novos seres de luz nas nossas vidas. Nunca tive perto de mim tantos bebês. O mais recente chegou ao mundo ontem, todo rechonchudo e grandão, para alegrar um bando de babões como eu. Chama-se Antônio. Aqui, parada com meu pé para cima, ainda impactada pelas estrelinhas que eu vi com o extintor no pé, consegui parar e dar conta do quanto não temos controle sobre nada. E justo por não termos controle algum, nos resta relaxar, aceitar, respirar e deixar a vida nos levar. Assim como as nossas emoções e experiências, ela se renova.

* referência da foto: http://www.fire-design.fr/

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Coisas de cigarra

Nestes poucos dias de praia no fim do ano eu me reencontrei com sons e cheiros que não via / sentia faz tempo. Fui criada no mato e a sinfonia dos bichos, principalmente no anoitecer, soa como música para mim. Sapos, grilos, passarinhos parecem combinar as notas. Não deve ser por acaso. Justo conversando sobre eles, recebi uma notícia interessante que, confesso, não consegui respaldar cientificamente. Segundo a pessoa que me comentou, além da função de aproximar as fêmeas (sim, no mundo animal os machos é que se enfeitam ou cantam para chamar as meninas), parece que o canto da cigarra tem uma outra importante função: a de ajudar a soltar a casca, libertar a cigarra para voar renovada, enfim. A tal vibração que o som produz vai mexendo de tal forma que desprende a casca antiga do corpo. Pensando assim, na sabedoria da natureza, não faz todo o sentido vez ou outra gritarmos bem alto para soltarmos nossas cascas e nos libertarmos dos fantasmas do passado? 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Gratidão

Este meu fim de ano foi definitivamente diferente. Primeiro, Natal em família com minha mãe e a minha nova família na minha casa e vida novas. Depois, um ano-novo bem leve na praia, na casa de um casal de amigos, na companhia deles e do maridão. Tudo o que eu pedia era paz. E a encontrei. Nada de correrias, ceias incrementadas. Só o mar, o céu e nós. Ok, teve uma chuvinha pra lavar a alma também, privilégio que, pelo visto, não foi só meu. Pois bem. Eu tinha aprendido que deveria, especialmente nesta virada, fazer um ritual bem meu mesmo, interno, de pedidos para 2012. Ao que tudo indica, o ano que vem aí chega cheio de simbolismos. Ano para introspecção, para a clareza de muita coisa. Estava eu já prestes a estabelecer uma conexão com o meu anjinho, caneta em punho, até que mudei de ideia e voltei uns passinhos atrás. Conversando com a Monique, a dona da casa da praia, amiga e bruxa, decidi não pedir nada. Nadinha. E deixar o universo se encarregar do que tem que ser feito. Me entregar, afinal, assim, bem sem controle. No lugar disto, fiz um exercício bem bacana. Fiz uma lista de pessoas que fizeram parte da minha vida em 2011, aquelas que me marcaram mesmo, que fizeram a diferença. Coloquei cada uma delas no papel e fiz um ritual de gratidão. Mentalizei cada um dos seus rostos e resgatei tudo de bom que cada uma delas fez por mim, o que mexeu, quando mexeu, quando mexeu. Uma verdadeira retrospectiva. Coisa bem boa! Teve muito mais gente do que eu poderia imaginar e, com certeza, acabei esquecendo um ou outro vivente.

Então, meus queridos, é assim, renovada, agradecida e entregue que eu entro neste 2012 tão esperado. O blog com um leve toque diferente no visual e uma Deinha totalmente zen, tentando ser bem leve e agradecida ao universo e às pessoas.

Minha listinha de gratidão foi grande e intensa. Queridos, mentalizei coisas muito boas para cada um de vocês. E agradeci muito por vocês existirem na minha vida! Vamos lá.

- Marco, marido lindo que me ensinou a ser eu mesma - tem coisa melhor que isto?
- mãe, manos (Carla e Fernando) e anexos queridos (André, Thaize e Davizão), por lembrarem que eu tenho raízes e que elas são sólidas e lindas.
- Betinha, vó Inai, Rosinha, Nelsinho, Marcia, Fabio, Vitor, Vinicius, Bibiana, Maira, Tia Luiza e outros queridos da nova família que eu ganhei de presente neste ano.
- Nextel forever: Januza (sem palavras, amiga), Daniela, Luciane e Angel, amigas do peito, tão longe e sempre tão perto nas nossas emoções e histórias.
- Lia, Elisa e Cris, presentes que o Mestrado deixou na minha vida (Du e Gustavo no pacote de queridos) + Aliomar, Zé, Pedro, Rafael, Renatô, Furlan, Linde, Tiso e turma toda.
- minha equipe de ouro (vocês me surpreenderam, de novo, no fim do ano) - Paulo ("o cara"), Mary (nossa mãezona), Karla (serzinho do bem), Bodan (paz em pessoa), Helen (caixinha de surpresas), Francisco (inquieto, intelectual), Dinara (nosso passarinho), Ana (kinder ovo), Mario (só sorrisos), Carol (e gourmet), Patricia (olho brilhante) e Fabio (nosso criativo super animado).
- Soneli e Jores (afilhados, padrinhos e amigos pra vida).
- Tia Carminha, Tia Sonia, Loloca, lindonas.
- Gestadoras e Celtas, mulheres fortes e guerreiras que instigaram o meu feminino de um jeito que eu ainda nem sei lidar direito: Monique (bruxa-mor de luz) e Zé, maridão que veio por tabela e me surpreendeu demais, Mariana, Kalps (anjo na terra), Cacau, Camila (doce presente no fim de 2011), Marcia, Stella, Renata, Carmem, Patricia e Regina.
- Grupo do The Art of Hosting, vocês mudaram muita coisa em mim de um jeito bem intenso: Gabi e Carol (sem palavras), Marcello (obrigada, obrigada, obrigada), Anelise, Sol, Alexandre, Anna, só para citar alguns.
- Queridos da Ananda Marga / Visão Futuro, que entraram em minha vida no casamento espiritual, durante um retiro, em fevereiro, e continuaram emanando luz e amor pra mim: Gustavo e Rafa, Raquel e Fabio, Indra Deva e Cleonice, Joschua (voz do paraíso), Dada (respeito, admiração), Didi (um metro e meio de ser humano com o coração maior que o mundo), entre outros tantos.
- criaturas do Oriente, que estiveram comigo na India e Butão, me ensinando tanto: Tsonan (guia do Butão), guia do Darjeeling (entrega total), guia do Kaziranga (esperou o tigre comigo), Raman, Monje do Darjeeling (aula de vida assim, ao vivo), Preetha (bruxa indiana poderosa), Karma Ura (pela generosidade de me receber na sua casa para um jantar em família), Morana, companheira de viagem surpreendente.
- Carol Bassols, segundo o Paulo, a que está entre os 5 dedos da minha mão direita de amigos :)
- Nati e Ana, fadas da minha vida, do meu casamento, da minha história (amo vocês).
- amigos de sempre, com quem troquei alguns emails / telefonemas, cafés gostosos, pessoas que São Paulo me trouxe de presente: José Carlos, Cris e Paulo Grise, Brasil, Nuno (de Portugal), Mauricio, Graça, Joana, Denuzzo, Josmar, Luciana Stein, Paulo Salomão.
- clientes, mestres e amigos (não necessariamente nesta ordem): Eduardo, Amando, Luiz, Mara, Tiago, Fernanda, Daniel, Eduardo, Marco, Cloger, Breno, Jorge, Elidio.
- Andréia e Eloá, fieis escudeiras do maridão na clínica.
- Andréia, meu anjo dentro de casa, feliz descoberta de 2011.
- Karine, que me ajudou a construir um lar lindo de morrer, cheio de boas energias.
- Cecília, Carla (da lunação), Rafael, Cris, Karina, Ivi, Clovis Peres, Ucha, Andressa, Gislaine (leio teu blog sempre, querida), Camila Varela, Bia (da acupultura), Sidnei, Telma, Adriano Silva (amo cada letra do que você escreve), Eliana e Helio (profes de yoga), Vanderlei (me coloca pra dançar), Franco (fotos com alma), Carol Konrath (agora mãe), Dra Elsa (pura entrega), Bigode, Karin, Alessandra Lago, Helio Athia, Louise, Nico, Lora, Maurem, Guidara, Rita, Roberta, Rodrigos (Vieira da Cunha e Mendes), Sabrina (argentina), Simone Orlandi (louca e linda), Sandra, Rosângela, Ana Chilanti (pela entrega).
- Bruna, surpreendente, competente, iluminada.
- Cosmopolitan girls: Pati, Ana e Fran.
- Casais do coração: Tiago e Bianca, Duso e Leticia, Marcelo e Karen, Lili e Luciano, Carlos e Patricia, Carol e Christian, Bia (que presente!) e Rick, Gabriela e Renato, Furlan e Carol, Zé e Carla, Patricia e Marco Fabio, Fran e Vini, Fabiano e Lia, Rangel e Rafa.
- Babies, crianças e anjinhos que me ensinaram muita coisa em 2011: Carol (ou Hipotenusa), que ficou com a gente o tempo suficiente para nos ensinar um amor incondicional, Manuela (nossa grande pequena mestre), Fefê, Nina, Bernardo, Antonio (deve estar pintando por aí hoje), Ninas (2 Ninas), Matheus, João Francisco (afilhado e lindo), Alice, Lorenzo, Isabel, Liz, Sofia, Elena, Laura, Angelina,...

Obrigada. Obrigada. Obrigada.
Feliz 2012!