segunda-feira, 2 de maio de 2011

Impermanência

Como eu já disse anteriormente, sou uma simpatizante do budismo. E agora, na minha volta da India, ainda mais do hinduismo. Também entendo que o espiritismo faz muito sentido e respeito quem é católico, praticante ou não. Eu voltei da India / Butão há pouco mais de uma semana. Minhas ideias e meu fuso (con-fuso horário) começam a se organizar agora. É que na minha volta a minha rotina não teve nada de normal. Casa nova, muitas caixas espalhadas, marido, preparativos para a festa do casamento, muuuitas mudanças. Não sei como teria sido se eu tivesse voltado dentro de "condições normais de temperatura e pressão". Mas a minha nova realidade está bem  divertida e completamente "fora da rotina". Aí eu me lembrei de um ensinamento budista bem bacana, que fala da impermanência. A grosso modo (como eu disse, sou simpatizante ainda e, portanto, leiga), ele fala que nada na vida é certo. E que nos apegarmos a qualquer coisa (pessoas, objetos, acontecimentos) é uma pena porque elas, cedo ou tarde, passarão. Parece meio duro, meio frio. Mas faz muito sentido. Você já parou pra pensar como era e no que você acreditava 20 anos atrás? E no quanto suas ideias, desejos e visões de mundo se transformaram? Pois é. Não sei quanto a você, mas pra mim, tudo mudou muito. E espero que continue mudando, de preferência pra melhor. Quando eu estava no Butão, diante de algumas paisagens simplesmente deslumbrantes, imensas e serenas, eu tive o cuidado de me concentrar algumas tantas vezes pra viver aquele momento. Respirava e tentava ter a máxima consciência possível do que eu estava vivendo. Eu sabia que dali a alguns minutos, tudo seria passado. Assim é nossa vida. Mudamos o tempo todo. Mesmo sem querer. Acontece. Faz parte. Eu sou apegada às pessoas. Gosto delas, gosto de interagir, de saber como elas estão. Mas estou tentando me desprender um pouco desta coisa da "posse" que fomos ensinados a exercitar para deixá-las bem livres e seguras de si. Se elas mudam o tempo todo (e mudam), temos que mudar também. E reconquistá-las, surpreendê-las, reaprendermos a lidar com elas. Isto vale para objetos, claro, para desafios, para o que eu conquistei. Estou tentando escrever sobre a viagem, sobre as minhas anotações e os pensamentos que surgiram nestes quase 20 dias de experiências inusitadas. Quanto mais eu penso, menos sai. Muita informação. Muita coisa pra pouco tempo de vida real. Aí me surgiu a vontade de falar sobre isto. Sobre a impermanência das nossas vidas. E sobre o quão libertador é aceitarmos este fato e conseguimos lidar com ele em paz. Simples assim. Mas quem disse que é simples?

* este menininho butanês fez meu tempo parar quando eu o vi. Lindinho, simpático e super interativo, ele me fez lembrar do meu mundinho rosa quando eu tinha a idade dele. Passou, mas continua vivo dentro de mim.