sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Existe vida após os 30

Neste fim de semana eu vou visitar, junto com uma turma, um dos meus ex-colegas do mestrado. Ele casou com uma menina da minha geração e da minha cidade, que eu já conhecia há anos. Este mundo é mesmo pequeno. Para os amigos, ele chama-se Renatô, assim, com ô fechado no final. O apelidamos assim na França, onde passamos duas deliciosas semanas de estudo e diversão. Daí a pronúncia tão chique. Pois bem, passado mais de um ano do final do mestrado (e da libertação da dissertação), uma boa parte da turma continua unida e ativa. Nos encontramos uma vez ao mês em Porto Alegre (ao menos tentamos) e temos feito algumas viagens pelo Brasil para encontrarmos os queridos colegas. A última foi só para meninas, em Curitiba. Claro, a turma de 30 pessoas se dispersou bastante, mas temos uns bons dez gerreiros que não se entregam. Hoje a Lia e o Du estão em São Paulo, na minha casa. Daqui a pouco chega a Cris. E amanhã pegamos a estrada todos juntos.
Todos eles (e mais alguns queridos) foram achados deliciosos pós-30. Digo, criaturas que eu conheci depois dos 30 anos e que posso considerar amigos de verdade. Eles participaram e continuam participando da minha vida. Saímos, nos telefonamos, mandamos recados, trocamos experiências boas e ruins.
O Renatô, este que vai nos receber em casa amanhã, no dia do casamento, completamente "animado" reuniu o grupo de ex-colegas na recepção. Fez um círculo com os amigos e, abraçado a todos eles, contou emocionado que nós o surpreendemos. E que ele nunca poderia imaginar que conquistaria novos amigos assim, "tão tarde". Não foi bem assim que ele falou, claro, mas este foi o sentido. Ele estava realmente emocionado ao olhar ao redor e ver pessoas tão próximas e tão novas na sua vida. Na verdade, ele meio que tentou expressar um sentimento que é meio comum nas nossas vidas. Parece que amigo de verdade é aquele que correu com a gente na rua na infância. O colega de colégio, o vizinho de porta. E não é só isto. Eu mesma tenho uma amiga (amigoooona) que tem mais de 20 anos de diferença de idade comigo. Eu a conheci com 17 anos, chegando em Porto Alegre, num curso de informática. Hoje, 17 anos depois, eu ainda a visito sempre que vou pro RS. Ela é quase uma irmã mais velha. Na minha vinda pra São Paulo, outras gratas surpresas. E nem por isto eu deixei de lado as antigas amizades. Algumas sim. Por total falta de afinidades. Acontece. Coisas da vida.
O bacana disto tudo é conseguir ver, através de histórias como esta do Renatô, que nunca é tarde para um monte de coisas. Pra estudar (a mãe de uma amiga minha, quase se aposentando do trabalho, terminou o segundo grau e está fazendo faculdade / o Marculino, um pedreiro gente boa que trabalha pra mim em São Paulo, voltou pro colégio há pouco. Mal sabia ler e escrever), para conhecer gente legal, para se apaixonar, viajar, casar, pra recomeçar. Existe vida depois dos 30, dos 30, dos 80 Só precisa ter vida interior e vontade. Alguns chamam de energia vital. Eu chamo de "estar vivo". Vivo de verdade, entende? Bom fim de semana!


* foto de brinquedo escandinavo - www.playsam.com (lindos!)

Desequilibre-se

Eu passei boa parte dos últimos anos tentando encontrar o equilíbrio na minha vidinha. Entre o trabalho, a família, vida amorosa, realizações, esporte, saúde. Pois bem. Eis que surgiu, na maior cara dura, uma pessoinha esta semana que, durante um almoço, me apresentou um outro lado possível para esta moeda. Ele é Físico de formação e lida com gente porque gosta. Trabalhou com isto durante toda sua vida corporativa, no Brasil e fora dele. E teve a ousadia de defender, em um texto recente, a importância de nos desequilibrarmos de vez em quando. Hein? Aham. Foi o que ele disse. Pior, pode ter razão. Ele argumentou com alguns exemplos  da natureza a importância dos desequilíbrios para a construção de histórias mais sólidas e inovadores. Não fosse o desequilíbrio, não haveriam os inventos. Se nossas vidas fossem totalmente equilibradas, viveríamos num marasmo bem sem graça. Eu me dei conta, com a história toda, do quanto eu busco o desequilíbrio na minha vida. Saio direto da minha zona de conforto e, muitas vezes, até exagero um pouco na dose. Aí eu busco refúgio em mim mesma, lambo as feridas e volto pra "lida". Mas as verdadeiras mudanças na minha história são frutos de grandes revoluções e estiveram ligadas à minha saída da rota. A Andréa previsível e certinha demais deu lugar a uma pessoa mais livre e que se permite experimentar e errar. Bom nisto é que quando ela acerta, tem feito de um jeito bem legal e surpreendente. Recentemente, vivi uma história de amor assim "bem desequilibrada". Na verdade, um pouco fora dos padrões ditos normais. Mas, o que é normal? Me permiti ficar na corda bamba, rodopiar e questionar a minha escolha. Mas tive coragem para me ouvir e persistir e encontrei do outro lado da corda os aplausos daqueles que me assistiam aflitos. Não estou fazendo nenhuma apologia ao caos e às drogas. Nada disto. Só resolvi passar e contar que se alguém tão "previsível" quanto eu conseguiu se desequilibrar - e gostar do que viu, você, caro amigo, como um cidadão absolutamente normal, tem tudo na mão pra se permitir também. Se der certo, beleza. Se não der, pelo menos valeu pelos friozinhos na barriga.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobrou pra Caótica

Tenho me tornado uma verdadeira assassina em série. Minha vida mudando tem me obrigado a tirar de cena algumas personagens que vinham pesando na mochila. Algumas delas, há longos anos. A Pollyana, a Mulher Maravilha, a Sofrenilda (esta ainda agoniza, mas está com os dias contados). Agora, a mais recente vítima é a caótica. Eu explico. Fui criada dentro dos padrões mais normais possíveis de educação. Tudo muito linear e dentro da caixinha. 1+1 = 2. Mesmo assim, meu pensamento nunca acompanhou muito o que eu via no quadro negro. Minhas ideias flutuavam enquanto o professor falava bla bla bla na sua língua toda encadeada. Agora que eu cresci um pouco mais, me vejo, na vida corporativa, saindo um pouco do padrão em alguns momentos e conceitos. Eu uso cadernos porque senão eu me perco depois, mas meus insights não são, digamos, nem um pouco lineares. Gosto de riscar, rabiscar, desenhar e fazer conexões das mais diferentes maneiras. Se alguma pobre criatura tivesse que dar alguma lógica a estes emaranhados de ideias, teria uma séria dificuldade. Mas eu me entendo assim e consigo extrair da tal folha de papel uma série de ideias. Claro, se elas forem executados depois, ótimo. Se não, valeram pela luz que me deram para a abertura de novas possibilidades. Eu sempre me "punia" um pouco por ter este estilo, digamos, fora da curva. Costumava dizer que era uma pessoa caótica, até que fui duramente repreendida por alguém que me mostrou que ser assim não é tão feio quanto parece e até pode ser legal. Meu raciocínio é axiomático, orgânico, sei lá. E um dos caras que eu mais admiro na vida, ao ver meus desenhos num "papel de pão" sorriu e confessou que ele pensa bem assim, diferente. E que também é um pouco incompreendido. Ufa. Com isto, senhores, a tal "Caótica", que eu desprezava, pode assumir novas identidades, mais simpáticas e leves. Eu a matei no nome. Mas não matei a essência da criatura. Como várias pessoas com quem tenho convivido nos últimos tempos, eu estou mudando a minha forma de olhar pra mim mesma. O melhor de tudo é que tenho até gostado das transformações. E abrem-se espaços para novas Deinhas. Sejam bem-vindas!

* amo o "caos" criativo do Miró

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A célula menina da Deinha


Eu tenho ficado meio "fora" do blog porque minha vida anda deliciosamente "fora do eixo". Muita coisa acontecendo, muita informação pra digerir e uma sensação de que eu ainda não consegui entender tudo o que está na minha volta. Vou tentar organizar. Não garanto coerência. Os sinos ainda estão batendo na minha cabecinha.

Well, sexta passada, depois de enfrentar um mega, ultra, típico engarrafamento paulistano, eu consegui me unir ao grupo de pessoas simplesmente iluminado. Nos reunimos em torno de uma causa comum e, apesar de nos conhecermos pouco, ou nada, nos sentimos inteiramente à vontade, como se estivéssemos nos reencontrando depois de anos-luz distantes e conectados. - Nossa, Andréa, que viagem. Sim, é uma "viagem". Só para dar um pouco da dimensão do que foi aquela noite mágica de lua cheia, chegando no local, a casa de uma nova amiga, encontrei uma mulher linda e sorridente, que tive, de cara, certeza de que conhecia. Não fazia sentido. Mas fazia tanto... Conversa vai, conversa vem, eu descobri que ela tinha chegado há três semanas em São Paulo e que vivera, até então, em Ibiraquera, uma praia linda em Santa Catarina, onde eu passei o Ano-novo de 2009 para 2010. Eu a tinha conhecido porque nos encontramos num restaurante e ela deixou escapar que fazia massagem. Resultado: abriu a própria casa e fez uma massagem mágica em mim (que abriu muita coisa boa no meu coração e na minha vida). E fez depois também nas minhas amigas que também estavam na praia. Aquela mesma pessoa, numa sexta-feira inusitada, estava diante de mim, numa cidade imensa e num local inesperado. Coisas da vida. Este foi só o começo do final de semana de resgate da minha célula menina. Ok. Posso explicar.

A Deinha, esta criatura que vos fala, durante muito tempo, sufocou parte do seu mundo rosa para sobreviver na selva da vida. E agora, aos 34 anos, tem se dado conta do quanto este tom leve e delicado faz sentido e lhe dá poder. Neste encontro, entre outras tantas coisas, assistimos um vídeo de um TED na Índia. A palestrante, Eve Ensler procurou mostrar o quanto perdemos nossa sensibilidade e nos endurecemos ao suprimirmos nosso lado feminino. Os homens, igualmente, sufocam sentimentos e este lado tão importante. Aquele que coloca pra fora o que sente, que conforta e acaricia (tem coisa mais gostosa do que um homem que consegue ser assim?) vale ouro.

Tá, Andréa, mas onde isto vai chegar? 
- Sai pra lá, célula objetiva e racional. Let it be. Vamos adiante! Vai fechar :)

Eu estou tentando costurar tudo isto porque me caiu uma ficha muito grande (está até agora meio "entalada" na minha garganta). A de que justo no final de semana posterior a um encontro tão sensível e esclarecedor, eu me permiti resgatar a minha célula-menina mais genuína e me casei (ainda no civil) de um jeito leve e, como bem descreveu a Januza, simples. Me permiti viver um momento super importante (sim, é importante) e me sinto muito bem por ter me libertado e me permitido viver cada pedacinho desta história. Sinto que, ao sentir tudo isto, estou também libertando por tabela algumas células meninas alheias que, paralisadas de medo, perderam-se pelo caminho. Sinto que esta é apenas a ponta de um iceberg e que, agora que eu comecei a mexer, não vou querer parar mais. Que existe gente como a gente, preocupada de verdade em fazer alguma coisa útil, em ajudar, em construir, em resgatar valores e conceitos. E que quando o universo conspira, não tem nada que possa impedi-lo de agir. Conforme o relato de um dos participantes do encontro, "nosso caminho é solitário, mas não precisa ser sozinho". E estou simplesmente adorando encontrar novas células por aí.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

João que amava Maria

Eu não participo de muitos grupos de pessoas. Tenho muitos amigos, boa parte deles ligados ao trabalho ou a algum histórico de estudos (ou cursos, seminários, o que for). Tem também os amigos dos hobbies, pessoas que eu acabei conhecendo e que compartilham alguma paixão comigo. Tá bom. Até que é um número considerável. Sem querer, nos últimos tempos, acabei construindo na minha vida paulistana um novo papel: o de conectar pessoas. Aliás, se eu for fazer um balanço da minha vida pra São Paulo, eu diria que esta foi uma das minhas grandes conquistas por aqui. Nada premeditado. Puro instinto de sobrevivência. Quando eu cheguei, "com meus mijados* embaixo do braço", não conhecia praticamente ninguém. Na verdade, vim meio no susto mesmo. Tinha uma oportunidade e veio bem a calhar a chance de eu mudar de vida e começar uma nova história. Foi o que aconteceu. Chegando aqui, na maior cara de pau, passei mão no telefone e comecei a buscar pessoas. Muitas delas, gaúchas que já estavam por aqui e que me acolheram super bem. Mas, no melhor estilo "João que amava Maria que sonhava com Pedrinho", as pessoas se conectam. E uma liga pra outra, que apresenta pra um terceiro, que manda um email e agenda um café. Está feita a conexão. Tem um livro bem legal, que costumamos usar no trabalho, chamado "O ponto desequilíbrio", do Malcolm Gladwell. A grosso modo, ele apresenta duas importantes figuras das sociedades: os conectores e os experts. Segundo ele, os conectores têm uma capacidade ímpar para mobilizar muitas pessoas em um curto espaço de tempo, geralmente numa proporção não programada. Tenho encontrado muitos deles em São Paulo. Pessoas super bem relacionadas e que, em minutos, conectam-se a outras, que conhecem outras e outras. Talvez uma das habilidades que eu mais tenha aprimorado por aqui foi a de reconhecer e saber acessar alguns deles e saber usar isto de forma rápida e eficiente. Melhor, eles sentem-se meio prestigiados quando são lembrados por tais habilidades. Não tinha isto em mente quando vim pra cá. Mas estou bem que curtindo esta história de ligar gente que tem a ver com gente. Dei até uma de cupido numas destas investidas. No melhor estilo vida pessoal e profissional em sintonia, tenho descoberto novas habilidades nas "Marias" e nos "Joãos" com quem tenho convivido. Muitas vezes, consigo apontar para eles as minhas percepcções. Em algumas delas, até provoco uma ou outra mudança. Neles e em mim, claro.

* mijados: expressão beeem gaúcha que remete a algo como "trouxinhas", malas, roupas, pertences.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Vamos tomar um café?

Na minha vida, nos últimos tempos, quando eu quero falar pra alguém que eu estou com saudades e que adoraria reencontrar, eu uso a frase: "vamos tomar um café?" É meio que prima do "aparece lá em casa", só que faz mais sentido porque é um convite de verdade. Mesmo eu tomando muito pouco café na prática (já sou meio elétrica e o café me deixa excessivamente ligada), eu simplesmente adoro a ideia / o ritual de ir de verdade a um café gostoso pra jogar conversa fora ou até para fazer reunião. Adoro também o cheirinho do café recém passado ou saído da máquina, as xícaras e  aconchego que estes ambientes geralmente têm. Em São Paulo, tem cafés para todos os gostos, em todos os lugares. Locais bem cuidados, simpáticos e cheios de gente bonita que fazem quase tudo, menos preocuparem-se necessariamente com o tal café. Eu fiquei com esta pulga atrás da orelha porque estive numa reunião com um cliente ligado ao café ontem e falávamos sobre as histórias que estão por trás do grão. Desde a da família do cafeicultor, no interior de Mina, por exemplo, ou onde for, passando pela cadeia toda, até chegar a baristas apaixonados e criativos e coffee lovers no sentido literal. O tal ritual não para de se ampliar e hoje em dia tem até creme para a pele a base de café. Mais ou menos trilhando o caminho do vinho e, mais recentemente, dos chás, o café tem tornado-se cada vez mais sofisticado e mágico na vida das pessoas. Ter uma máquina daquelas bonitonas em casa não é mais nenhum luxo e cria, ao final de um jantar,  um delicioso momento de compartilhar / comentar gostos pessoais e alguns minutos de paz para jogar conversa fora. Eu já comentei a minha simpatia pelos rituais. Acho que eles reforçam os laços entre as pessoas e os momentos "high touch" em um mundo tão high tech. Não abro mão de abrir minha agenda para encontrar pessoalmente amigos (apesar das dificuldades logísticas da cidade grande) e tenho, cada vez mais, agendado cafés e almoços de negócios. Num primeiro momento, parecem inúteis. "Desperdício total de tempo", diria a Andréa durona e mão na massa. Mas, olhando assim com carinho pra eles, dá pra ver que boa parte dos contratos / acordos que fechei nos últimos tempos tiveram como co-participantes uma cafeteria e uma xícara de café fumegante pra dividir o assunto. Então tá,  "vamos tomar um café?"

* este texto eu fiz mega inspirada no Daniel, Eduardo, João e na Cla. Eles sabem exatamente quem são e vão entender. Foi uma forma, sutil, de compartilhar com eles o quanto eu curti e saí empolgada da reunião de ontem. Que venham outros encontros e novas ideias, como as que surgirão na nossa reunião. Todas, claro, regadas ao mágico líquido negro :)

Psicoanalisadas

Eu, assim como muitas amigas e pessoas próximas, me rendi à terapia há alguns anos. Nada de exageros, mas consegui fazer a minha cabecinha dura admitir que mexer um pouco "dentro de casa" pode fazer bem. Claro, tem que ter coragem porque enfiar o dedo na ferida não é fácil coisa nenhuma! Quem disse que é, bom sujeito não é. É duro, doi e gera alguns momentos de rebeldia e até de raiva de pessoas que estão bem próximas. Familiares, coitados, são geralmente as primeiras vítimas. Afinal, são verdadeiros espelhos da nossa alma. Uma meleca isto. Quem mandou mexer? Ontem, falando com uma amiga poderoooosa e jornalista, comentávamos o assunto. Legal, somos corajosas e começamos a mexer maaaaaas, nem sempre as coisas têm um sentido psicológico. Se cairmos meio na onda do "Freud explica" podemos nos tornar excessivamente analíticas e viajamos demais com situações que podem ser o que são porque simplesmente são o que são. "Ai, Deinha. Complexo isto. Explica?" Tá. Vou tentar. Nem sempre as pessoas agiram de forma premeditada, nem sempre se dão conta de que o que fizeram poderia magoar as pessoas e, quando viram, foi. Simples assim. Como não dá pra voltar no tempo nem colar os caquinhos, cabe a nós, principalmente os "psicoanalisados" entender que o tempo não volta e que o passado pode, sim, mudar, dependendo da forma com que o enxergamos. Se uma criatura fez uma cacaca, falou o que não devia, magoou, nem sempre o fez porque é feio, bobo e mau. Pode ter feito porque estava num mau dia, porque não soube escolher bem as palavras ou simplesmente porque jogou pra fora, de um jeito meio atrapalhado, coisas que vinha engolindo há tempos e que, quando resolveram sair, simplesmente explodiram. Digo isto porque estou meio cansada de pensar e remoer demais e acho que as pessoas têm "viajado" demais sobre coisas que podem ser bem mais simples. Eu falei dia destes com uma criatura rara. Ela foi modelo e hoje é fotógrafa e morou no mundo todo. Até no Havaí e no Butão. Tem, portanto, uma bagagem e um olhar bem amplo sobre as pessoas, o que facilita seu entendimento sobre as sutilezas que regem os sentimentos humanos. Ela está de volta ao Brasil, depois de muitos anos fora, e está simplesmente chocada com a incapacidade dos brasileiros, principalmente em ambientes corporativos, em desfazerem "nós" de relacionamentos. Segundo ela, os brasileiros simplesmente não sabem lidar com conflitos e, literalmente, complicam demais. Burocratizam, magoam-se por pouca coisa e são incapazes de falar o que sentem e perdoar. Guardam rancor demais e têm flexibilidade de menos quando lidam com relações. Quem disse que só existe um caminho? Quem disse que tudo tem que ter uma entrelinha a ser desvendada? Acho que as coisas podem ser mais simples. Acho que as velhas fórmulas podem ser quebradas e que fazer terapia é bom, mas até ali. Tudo tem uma medida, um meio-termo e um novo olhar possível. Mas é bem mais cômodo seguir na linha, na onda, no caminho já trilhado por outros. Estou em busca de desbravadores. Psicoanalisados ou não. Alguém?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vivo de presente

Meu pai foi um cara bacana que me ensinou a apreciar boas coisas da vida: a literatura, as artes, a história. Ele também apreciava antiguidades. Na verdade, tínhamos um verdadeiro museu nas nossas casas (na cidade e no campo). Muito doido conviver desde pequena com aqueles objetos todos como se fosse normal ter em casa tanta coisa rara (e frágil) ao nosso alcance. Eu e meus irmãos aprendemos desde sempre que não era pra mexer porque eram do papai. Convivemos com eles com a normalidade de quem cresceu assim. E com aquela "coisa" de que não podiam quebrar porque eram importantes e tinham história. De alguma forma, ter estes exemplares em casa era como viver de passado. Cada um deles trazia energias (boas e ruins) e uma importância acima do normal, especialmente para pessoas como o meu pai. A palavra desapego, totalmente budista, passava longe da sua personalidade. E aprendi, com isto, a respeitar e valorizar as coisas, a entender o que era belo e devia ser cuidado. Concordo com isto e me orgulho de ter sido uma criança super educada e, mesmo saudável e "criativa", bem cuidadosa com a casa (a nossa e a dos outros) e as pessoas. Tudo de bom isto. Mas esta coisa de viver de passado também me incomodava um pouco. Na verdade, me incomodava e eu não percebia. Fui me dando conta aos poucos, principalmente nos últimos tempos em que aprendi a a importância de me desapegar do passado. Esta coisa de esperar das pessoas que elas se comportem da mesma forma, que não mudem, que não quebrem de vez em quando, é meio injusta e, a meu ver, é pedir demais e esperar de menos de cada uma delas. Tive que aprender a me desapegar do passado, de algumas pessoas e fui capaz de construir uma nova história, primeiro em Porto Alegre, agora em São Paulo. Aqueles objetos que eu tinha como absolutamente importantes para a minha formação como pessoa hoje estão no RS, no meu antigo apartamento, e eu não sinto a menor falta. Trouxe algumas canecas de viagens (adooooro canecas), mas muito pouco do resto que eu tinha por lá. Foi uma delícia descobrir que a Andréa pode recomeçar e que pode ter menos coisas pra viver. Menos e mais significativas. Que pode se desprender do passado sem abrir mão das raízes e que sabe que planejar é bom, mas viver de presente é mais importante do que respirar passado ou futuro. Viver o hoje, enfim. A revista Vida Simples (amo) deste mês trouxe uma proposta interessante. Propõe, baseada num livro, que nos desapeguemos de 50 objetos importantes na nossa vida. Tem a ver com o tal desapego e com a impermanência do Budismo. Nossas células mudam, as pessoas mudam. Por que não mudar também? Não fiz o exercício ainda, mas estou bem tentada a experimentar. De repente junto como tal ritual de abrir mão de cada uma das 50 coisas, posso, simbolicamente, me libertar de algumas máscaras e personagens que estavam incorporados a cada um daqueles momentos. Claro, não abro mão de reviver boas histórias em fotos e objetos de viagens, por exemplo. Mas também não quero / consigo trilhar o caminho de volta ao passado e me apegar a algo que já foi e nunca voltará a ser. Este talvez seja um importante segredo da vida. Nós e os outros nunca seremos os mesmos. Daqui a cinco minutos estaremos diferentes. O desafio é conseguirmos conviver ainda assim e nos redescobrirmos / reapaixonarmos pelas mesmas pessoas a cada segundo. Alguém disse que seria fácil?

link para a reportagem da Vida Simples que eu comentei: 
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/0102/grandes_temas/desapego-raca-615380.shtml

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Preciso do mundo ao meu redor

"Preciso do mundo ao meu redor mas não posso abrir mão do meu mundo interno." Esta frase eu escrevi pra mim mesma dia destes enquanto filosofava sobre a vida. Nunca fez tanto sentido pra mim. Sou uma pessoa bem interativa. Adoro conhecer gente nova, viajar, descobrir lugares e pessoas. Mas estou adorando desbravar as minhas entranhas. Ai, Deinha, que forte isto! Pois é. Muito forte. Mas real. Tenho entendido o quanto eu adoro ficar comigo mesma um tempinho, fazendo nada, lendo, ficando atirada, com preguiça, rabiscando, pensando em tudo ou tentando pensar em nada (esta é a parte mais difícil). Tenho tentado dormir mais (pelo menos umas 7 horas por noite) e, aos finais de semana, desisti simplesmente de me angustiar com uma lista de coisas pra fazer. Me permito não ter listas e, às vezes, ficar em casa boa parte do domingo. Claro, tomar um café com as amigas, dar uma voltinha para arejar as ideias. Isto vale. Não vale ter agenda fixa no fim de semana. Engraçado é que este meu movimento de abrir meu mundo para coisas novas lá fora tem aberto, ao mesmo tempo, muito do meu mundo interior. Tenho descoberto coisas curiosas em mim que, tenho certeza, nem os amigos mais chegados sonhavam existir. Estou surpreendendo as pessoas e, claro, eu mesma. E estou adorando abrir esta caixinha e ver tudo o que eu tinha escondido nas gavetas. Umas coisas foram fora. Algumas criaturas que estavam escondidas, como a Pollyana, a Sofrenilda e a Caótica, foram gentilmente convidadas e darem uma volta sem volta. No espaço que sobrou, tenho colocado novas ideias, novas Andréas e novas perspectivas. Este movimento, meus caros, não é só meu. Não sei se trata-se de uma conjunção astral, mas o mundo das pessoas que compartilham o meu mundo tem mudado - e muito. Vejo que elas (nem todas, ok) estão decididas a mudar, a respirar e a buscar coisas novas para suas vidas. Parece uma onda gostosa que vem lavando o passado e trazendo bons fluidos para um futuro bem leve e sem rugas na testa. Tomara que este mundo externo continue mudando. E que cada um destes ciclos provoque ainda mais a deinha mexida com quem eu estou adorando conviver. Bom fim de semana! (desta vez, com sol) \o/

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Treino sobreviventes

São Paulo é uma terra de sobreviventes. Digo isto porque quem vem pra cá não caiu nestas bandas por acaso. Sabia o que a selva de pedra poderia oferecer e os riscos de se adentrar neste mato. Veio porque de alguma forma já considerava-se forte o suficiente para viver esta experiência. Minha vinda pra São Paulo, não canso de dizer, tem me tornado uma pessoa mais forte e, espero, madura. Assim como o ritual de passagem do interior do RS para a Porto Alegre representou um passo bem importante na minha vidinha, estar aqui tem me feito diferente e me apresentado Andréas que eu, confesso, desconhecia. Fico tentando encontrar a origem destas mudanças todas e achei algumas respostas na fala de uma grande e nova amiga (que também SP me deu), a Mariana. Ela já passou por todas as etapas imagináveis das vidas corporativas. Trabalhou cercada de leões (e de outros tantos bichos), cresceu, aprendeu e decidiu, de forma segura e serena, que aquilo não servia mais. Queria outra coisa, novas perspectivas. Mas enquanto estava vivendo estas experiências, conseguiu sobreviver e, acreditem, viver. Fez isto porque encontrou forças, não sabe bem onde, para treinar sobreviventes como ela. Ou seja, não teve, ao longo destes anos todos, a pretensão de passar a mão na cabeça e carregar no colo marmanjos corporativos. Dizia ela às suas equipes: "eu sou uma sobrevivente e, portanto, treino sobreviventes". Ou seja, se você não sabe bem o que quer, se gosta de se esconder atrás de máscaras ou da velha e conhecida postura de vítima, não tem espaço pra você neste mundo, meu caro. Uma postura dura. Arrogante? Ou honesta? Olhando pra trás, a Deinha de uns poucos anos anteriores a veria como alguém sem sentimentos, dura e exagerada na "dose". Hoje, vejo como alguém que conseguiu fazer várias pessoas crescerem de verdade. Tratou-as como gente, como adultos, afinal, delegou, puxou, desafiou. Pegou pela mão, sim, nas horas difíceis, até porque ela também precisou de um apoio naquele momento. E sabia disto. Nem por isto tornou-se um homem ou deixou de sorrir. Eu diria que ela é uma das pessoas mais femininas, leves e independentes que eu conheço. E isto, acreditem, não é uma incoerência. Tenho certeza de que as "marianas" não têm passado em vão pela minha vida, muito menos neste momento tão revelador. Ao me contar com entusiasmo estas e outras histórias, ela me sacode e escancara o quanto eu cresci e o tanto que eu ainda tenho pra evoluir em relação às pessoas próximas. À família, aos amigos e, claro, a minha equipe, que literalmente sobreviveu comigo à muitas tempestades nos últimos tempos. A Andréa meio mãezona que habitou este corpinho nas últimas três décadas está meio cansada e, espero, deve passar férias permanentes no Cazaquistão. E isto não me tornará mais infeliz ou dura. Pelo contrário. Tem tudo para liberar coisas boas - e, por tabela, me livrar de uma bagagem incrivelmente pesada que tenho carregado nas minhas costas (o, ok, porque eu quis) nos últimos tempos. Minha vida com asas está se mostrando bem mais interessante. E ter ao meu redor, por livre e espontânea vontade,  outros pássaros que não tiveram as asas podadas, ah, isto sim, vale ouro.