sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mulheres canguru

Estou cada vez mais convencida de que homens e mulheres definitivamente vivem em universos paralelos. Vez ou outra acontece algum fenômeno que os aproxima em entendimento e emoções (como naquele filme do século passado, cujo nome eu não recordo, em que o cara era um lobo e a mulher uma água e um vivia de dia e o outro de noite). Isto não é bom ou ruim. É apenas um fato. E aceitá-lo já facilita boa parte da história. Pois bem, se somos tão diferentes assim, temos, obviamente, rituais que nos representam enquanto espécies. Na forma de dirigir, de encarar os exercícios físicos, no jeito (e no tempo investido) ao falar no telefone, na compra e uso de roupas (com exceção dos metrossexuais, os homens costumam ser beeem práticos neste quesito). Como diz um amigo meu: os homens são simples e até um pouco burros. Tem que falar, explicar, de preferência usando lápis de cor e desenhos. Pra ficar tudo claro e não ter polêmicas depois. Na hora de viajar, idem. Difícil encontrar mulheres que consigam ser tão sintéticas quanto os homens. Conheço uma criatura que passou uma semana na Europa com uma mochila. Nela, exatas 7 cuecas, 7 camisetas, 1 jaqueta (que foi no corpo) e alguns apetrechos de higiene pessoal. A calça e o tênis, claro, foram também já devidamente acoplados ao cidadão. Tudo bem, mulheres viajadas e inteligentes, aprenderam, na marra, a importância da síntese nestas horas. Mas isto é uma questão de adaptação e necessidade. Não é algo natural da espécie. Ok, minha opinião, gente. Respeito sentimentos contrários.

Mas tem um item que é praticamente inquestionável nesta história toda: a relação das mulheres com suas bolsas. Como cangurus, as bolsas são praticamente uma extensão dos seres femininos. Dentro delas, habitam dezenas de objetos que representam suas almas. Não estou nem falando naquelas que trocam de bolsa todos os dias e que não têm mais lugar no armário diante de tanta abundância de cores e materiais. Falo das mulheres como um todo - e me incluo com tranquilidade no grupo - que não têm muita paciência para ficar trocando tudo de lugar a toda hora. Na verdade, para um ser representante das fêmeas, tenho pouquíssimos exemplares. Mas os poucos que tenham, carregam a minha vida. Costumo dizer que tenho autonomia pra passar umas duas semanas fora de casa somente com os itens que carrego na bolsa: cartão de crédito, maquiagem, itens de higiene e beleza, caderninho, caneta, algum dinheiro (em SP não se vive sem dinheiro vivo) e chaves, muitas chaves. Claro, o celular (os celulares), óculos escuros e cartões de visita. Ufa. Este assunto começou a me intrigar porque uma amiga poderosa e ex-colega de mestrado se empolgou com um projeto de bolsas de uma conhecida e resolveu tornar-se empresária junto com a designer. Quase como um hobby (ou uma carreira paralela). Vi o olho da Cris brilhando ao falar sobre as diferentes representações da bolsa na vida das mulheres. Ela mesma, super compenetrada e racional, comprou várias e estava feliz da vida, exibindo suas aquisições como se fossem prêmios. Outra amiga, a Januza, também mega racional, trouxe de sua experiência de um ano na Europa pouquíssimos (e bem escolhidos) itens. E muitas, muitas bolsas. Acho que a bolsa tem um quê de casulo nas nossas vidas. Nela conseguimos resumir nossas personalidades e encontrarmos uma zona de conforto nos ambientes mais impensados. Quase como um retorno ao útero da mãe. Tá tudo ali, "estou em casa". Por isto, meninos, quando suas respectivas amadas comentarem que precisam de uma bolsa nova ou que não podem sair sem bolsa para a rua, simplesmente respeitem. E aceitem. É como o futebol de final de semana ou o sonho de infância de comprar um porsche. Nada racional. Mas que graça teria a vida se não fosse a emoção?

* importante: o projeto das bolsas está saindo do forno. Precisarei de voluntárias para uma leitura sobre seus usos e percepções. Mulheres canguru que estiverem a fim de colaborar com a pesquisa, levantem a mão.