segunda-feira, 18 de julho de 2011

Esposa trofeu, eu? Não, obrigada.

Ontem eu fui no cinema assim, meio sem querer, sem altas expectativas em relação ao filme. Claro, fui bem acompanhada e seguindo a dica que uma amiga, que foi junto, e que não costuma dar muito fora. O filme também era francês, o que já me agrada muito. Cinema francês não tem muito mistério (pra mim): ou é algo muuuuuito arrastado, ou é algo muuuito legal e profundo. Então, somando a indicação + o fato de ser francês, a estatística parecia bem favorável. E foi. Eu dificilmente saio assim, no escuro, sem ler antes a respeito. Mas tenho experimentado este tipo de situação e até que tem sido divertido me deixar surpreender. Pra quem casou e não sabia nem a cor das flores da festa, ir ao cinema no escuro é mole. Felizmente, pra fechar com chave de ouro meu domingo super animado, o filme era delicioso. Chama-se "Potiche - esposa troféu" e é um soco no rim das relações. A protagonista, pra ajudar, era a Catherine Deneuve, com o perdão da redundância, deslumbrante. E o seu amante sindicalista era ninguém menos que o Gérard Depardieu, um pouco menos charmoso que antigamente, por conta de alguns bons quilos no corpo. Mesmo assim, estavam belíssimos e intensos na história. A grosso modo, Suzane, a esposa, teve uma vida submissa de dona de casa casada com o marido, que assumiu a fábrica do pai, o dela. Estava tudo bem. Sempre foi assim, durante longos 30 anos. Mais ou menos como a vida de um monte de gente. Tudo igual. Mas não mexe que eu não quero me incomodar. Eis que alguns fatos tiraram o casal de sua fachada e da zona de conforto e, finalmente, a esposa, que era um troféu, saiu da prateleira para mostrar ao mundo a que veio. Parece que o filme é baseado numa peça que fez sucesso nos anos 70 e que, justo por isto, é ainda mais vanguarda. Olhar pra fora hoje e encontrar mulheres com coragem de mudar e assumir novos papeis não é tão inédito assim. Mesmo assim, o filme tem um componente bem bacana. A Suzane, ao assumir a fábrica, não tornou-se um "arremedo" de homem e nem pensou em seguir os passos ditatoriais do maridão. Foi absolutamente feminina e sensível (como, aliás, havia feito o seu pai, idealizador da fábrica), tratou as pessoas como gente (veja só) e conquistou uma legião de admiradores pelo caminho. Melhor, ela nunca fora imaculada ou conformada e teve, de forma sutil e elegante, suas válvulas de escape, mostrando-se muito mais inteligente e menos submissa do que parecia. Não estou pregando a traição de nenhum dos lados nem que tenhamos que ser "mulherzinhas", no sentido bem preconceituoso da palavra (que pena, ele existe), para alcançarmos algo. Mas se soubermos resgatar o feminino das nossas relações, as coisas ficam bem mais leves e fáceis. Eu faço isto meio que o tempo todo. Tenho até um grupo delicioso de estudos para entendermos melhor o assunto. Pelo menos, eu tento. Tem gente que me chama de Pollyana, mãezona demais, romântica. Eu chamo de Andréa. Simples assim. Consigo ser uma esposa, amiga, filha, sócia, chefe e não tenho ninguém por perto tentando me deixar exposta na prateleira. Pelo contrário, as pessoas que me amam de verdade, me ajudam a voar e me esperam bem felizes na volta. E, apesar dos tropeços pelo caminho aqui ou ali, estou bem feliz com a minha escolha. Depois do filme de ontem então, ainda mais animada com esta história de continuar deliciosamente inconformada e animada com a vida. Boa semana!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Em defesa do pobre frio

Eu tenho uma amiga meio bruxa, meio fada, toda linda e cheia de boas energias que me contou uma história bem bacana. Ela tem um filhinho que estuda numa escola alternativa em Porto Alegre. As crianças plantam, colhem, têm aulas para a vida e uma professora que as acompanham ao longo de bons anos. Esta amiga foi convidada para uma espécie de workshop com os colegas do filho, onde poderia propor uma atividade qualquer de interação. Aproveitou que chovia para contar às crianças a "história" do sol interior. Segundo ela, quando chove ou quando faz um dia assim bem feio, nublado, é porque o sol foi se esconder dentro da gente. E estes dias são os mais adequados pra exercitarmos o tal "sol interior". Tenho acompanhado a saga de gaúchos e paulistas nos últimos dias em relação ao frio. Me incluo entre eles nesta lamentação / estranhamento. Fazer frio em Porto Alegre até vai. Mas em São Paulo é meio raro. Ainda mais por tanto tempo assim. Pois bem. Está um tal de chega pra lá no frio como eu nunca vi. Então eu resolvi exercitar um pouco do meu "sol interior" e pensar em algumas coisas bacanas que o tal frio traz pra vida da gente. Como tudo, e como nós, ele tem os seus lados sombra e luz. É que às vezes a gente se pega enfatizando justo o lado sombra e esquece de um monte de coisa boa (sim, vale para a vida também e para aquelas pessoas "Sofrenildas" que se queixam o tempo todo e não conseguem enxergar nada de bom. Argh). Bem, falando do tal do frio, tem coisa melhor do que comer no inverno? E dormir? Se for agarradinho, Senhor! Melhor ainda. No inverno, as pessoas ficam mais bonitas. Mulheres usam botas, echarpes e, se forem bem ousadas, um batom bem vermelho pra contrastar com o cinza do tempo. No inverno, o por-do-sol fica mais vermelho e as fotos mais lindas. Quando faz frio, tomamos vinho tinto, chá quente, usamos edredom fofinho pra nos enrolar e pra ver TV. Inverno com lareira e/ou fogão a lenha tem um cheiro indescritível de mato queimado. E de infância. Parece que as pessoas se aninham mais quando faz frio. Fica todo mundo mais carente, dengoso, com bochechas cor de rosa e nariz vermelho. As crianças dão um show à parte quando faz frio. Parecem bonequinhos de neve cheios de roupas e de animação. Pra elas, que vivem num mundo de fantasia, inverno é uma delícia, assim, como o verão. Só que faz mais frio. Tudo bem. Eu sei que no Brasil não estamos preparados para enfrentar o frio como estão os europeus e os nova-iorquinos. Mas quem foi que disse que eles não dá pra ser feliz a menos de 10 graus? Eu conheci um argentino uma vez, um médico aposentado que hoje dedica a vida a jogar polo, pelo mundo, com a família toda. Foi numa tarde gelada (e linda) em Buenos Aires e naquele dia ele me contou que  tem seis filhos. Sabe por que ele fez tantas crianças? Porque fazia frio demais naquelas bandas e, segundo ele, o frio aproxima que é uma beleza! Alguém duvida?

Não abro mão das minhas inquietudes

Esta semana foi uma daquelas beeeeeem legais. De trabalho, de interação com as pessoas, de novidades na minha vida e na de um monte de gente querida. Deve ter a ver com o frio, com os eclipses da lua. Sei lá. O que eu sei é que foi uma daquelas bem mexidas. Tô aqui, tentando organizar as ideias e tudo o que eu vivi nestes últimos dias e começo a lembrar de coisas bacanas que  me tocaram. Uma delas aconteceu durante uma conversa com uma criatura querida bem no começo da semana. Falávamos sobre a formação de massa crítica e do quanto é difícil termos por perto da gente pessoas que pensam, opinam, criticam, questionam. Igualmente, comentávamos que a vida só tem graça quando temos por perto pessoas que pensam, opinam, criticam, questionam. Vale pra tudo. Pra família, pra amigos, pra gente que trabalha com a gente, o que, no fim, é tudo meio que a mesma coisa, felizmente. Eu recentemente fui pro Butão e, agora, uns dois meses depois, começo a entender algumas coisas. Lá, as pessoas são talhadas pra pensar. E o governo, o rei, ou seja lá quem for, prepara a população desde cedo de um jeito bem lúdico e leve: usa a arte. Através dela, pessoas bem simples conseguem se expressar, pensar e construir coisas novas, muitas vezes (oba) bem fora dos padrões "esperados". Fico aqui pensando nos moldes em que fomos educados e no quanto nos forçaram o tempo inteiro a entrarmos numa "caixinha" que muitas vezes não fechava com o tamanho das nossas inquietações. Ninguém fez isto porque era feio ou mau. Simplesmente sempre foi assim. E quem saía um pouco fora dos padrões era logo rotulado de estranho, hiperativo ou um monte de outros palavrões bem cabeludos. Estou doida pra sair um pouco da caixinha, do padrão. Estou feliz da vida porque tenho encontrado pessoas com as mesmas vontades / medos / euforias diante destas possibilidades. Desconfio fortemente que nossa geração é uma super cobaia de um monte de revoluções e que uma delas é a de justamente as pessoas começarem a construir suas próprias identidades, sem necessariamente seguirem padrões assim "tão certinhos." Claro, isto tem um custo. E tem também um bônus bem gostoso pra quem está disposto a pagar pra ver. E você, já se inquietou com alguma coisa hoje? Bom fim de semana :)