terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sacudindo a poeira

Dia destes eu comentei do quanto me fazem bem rituais que me permitem colocar as ideias em ordem. Arrumar as gavetas, por exemplo. Ontem eu estava em Porto Alegre e fui na casa da mãe de uma amiga buscar umas caixas que eu tinha deixado por lá nesta minha vinda pra São Paulo. Quis liberar o apartamento de lá e as caixas acabaram fazendo aniversário no terraço da mãe da Lu. Voltaram para casa cheias de poeira e de histórias. Uma delícia abrir cada uma delas e redescobrir fotos e bilhetes. Tem uma, bem grande, só com cartinhas e cartões que as pessoas me deram ao longo da minha vida. Achei bilhetinhos de amor jurássicos que eu fiz para o meu pai e pra minha mãe. Encontrei as cartas da própria Lu (esta cuja mãe guardou as encomendas este tempão todo), do tempo em que ela "morava" em Brasilia e começamos a nos conhecer. Como toda criatura de fora de Porto Alegre, passávamos todas as férias e feriados possíveis nas nossas cidades natais. E a Lu tinha a família toda em Brasília. Era meio exótico ter uma amiga de Brasília. Parecia tão longe. Lendo as cartinhas - e as expectativas descritas em cada linha, é bem bacana ver o quanto nossas vidas mudaram e, por outro lado, que muitas coisas continuam exatamente iguais. A Lu sempre romântica, sonhadora, sempre quis ter filhos. Hoje tem o Matheus delicioso. Eu tinha um namorado desde Cachoeira, uma vidinha pacata e sem grandes expectativas. bla bla bla. Hoje, mais de 15 anos depois, muitos furacões passaram por nós (alguns bem marcantes) e continuamos com uma amizade sólida e cheia de cumplicidade. Mudamos fisicamente e já entendemos que o príncipe encantado nem sempre vem num cavalo branco. Mas que ele é possível de outras formas. Mexer nestes sentimentos todos, rever velhas fotos e perceber a minha trajetória sendo modificada é algo animador e um tantinho assustador. Fico pensando na importância das mexidas na vida das pessoas e no quanto isto provoca reações. Tenho conversado com muita gente que está desafiando padrões conhecidos e ousando um pouco mais. Comprando um apartamento novo (pra começar uma vida nova), terminando / assumindo um relacionamento, correndo atrás dos sonhos. Todas estão apavoradas. E igualmente animadas. Tragédias como as que aconteceram (ou voltaram a acontecer) no Rio são metáforas importantes para este tipo de reflexão. Às vezes se as mudanças não vêm por bem, acabam vindo na pressão, com mais dor e sofrimento. E aqueles que conseguirem sacudir a poeira e colar os caquinhos podem começar um novo capítulo e têm a chance ímpar de construir novas histórias bem bacanas, quem sabe em terrenos mais sólidos.

* teria minha tosse a ver com a poeira das caixas ou com com o "pavor" diante das mexidas da vida??? Analisando ainda. hehe