segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gente que gosta de gente

Neste final de semana eu acabei vivendo uma rotina atípica. Fiquei algumas horas num hospital, dando conforto psicológico para as familiares de uma paciente que iria se operar. Coisas da vida. Virei a noite com elas, conversando, falando sobre o sexo dos anjos, confortando. Minha única preocupação era deixar aquela espera o mais leve possível. Até porque eu já passei por situações similares e sei bem o quanto os ponteiros do relógio travam em horas como esta. O fato é que eu pude viver uma verdadeira experiência antropológica. Convivi com diferentes personagens e me surpreendi, positiva e negativamente, com as pessoas. Foi num hospital. Mas poderia ter sido num hotel, num restaurante. Só que lá, pela situação, tudo ficou ainda mais delicado. Pois bem, encontrei médicos dedicados e dispostos a colaborarem uns com os outros, que, mesmo virados e morrendo de sono, preocuparam-se em atualizar a família sobre o que estava acontecendo. Mas, contrapondo-se à delicadeza e generosidade da equipe médica, fui (junto com a família) "gentilmente" convidada a me retirar da sala de espera por um segurança 2X1 (2 metros de altura X 1 de largura). Segundo ele, "cumpria ordens" (sabe-se lá de quem) e, como era madrugada, não poderíamos aguardar onde estávamos. Fomos para  o espaço da emergência, junto com os demais pacientes. Luz forte na cara, ar condicionado no neve. No nosso cantinho anterior, estava escurinho, silencioso e, quando o troglodita se aproximou, finalmente a prima da familiar, tida como uma filha, ameaçava cochilar. Não estou questionando as regras nem a organização das instituições. Estou falando em civilidade, sensibilidade, em seres humanos. Se uma enfermeira tivesse se aproximado gentilmente e comentado o caso, teríamos saído e buscado outro lugar para aguardar. Mas não foi o que aconteceu. Pior, a cada troca de turno, tínhamos que nos apresentar de novo e comentar o quão atípica era aquela situação bla bla bla. Saí de lá exausta, sugada, triste, inconformada.Tá faltando comunicação. Tá faltando gente que gosta de gente. Cada vez mais parece que somos números, senhas, códigos. Dia destes eu fui apresentada a um planejamento de design estratégico de uma menina brilhante. Coincidência ou não, ela tinha proposto um plano para, com pequenas medidas, dar mais conforto e tranquilidade a pacientes de um hospital durante a realização dos exames. Coisas simples, mas muito humanas. Será que algum dia alguém vai se dar conta disto? Será que as pessoas voltarão a se falar e a se tratarem como gente de verdade? Viramos máquinas ligadas no automático. Hellooooo! Alguém sabe onde desliga esta coisa?