sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desconecte-se.

Lendo a última revista de bordo da Tam encontrei a reportagem de um artista que cria todo sua arte durante caminhadas. Caminhando, ele faz "grandes viagens", mesmo que sejam ali, na vizinhança. O que ele propõe é um novo olhar sobre aquilo que já conhecemos, com sentidos mais apurados e, desconectados. Segundo ele, "as pessoas estão constantemente em contato com o mundo e prontas para reportar tudo. Tiram fotos para olhar quando voltam para casa ou enviar aos amigos. O jeito que vivemos quebra os momentos." Há 11 anos fizemos um cartão multimídia para os clientes onde, justamente, falávamos que os grandes momentos da vida acontecem assim, num flash. Não dá tempo de ajeitar o cabelo nem de preparar o click. Eles simplesmente vêm e vão, instantaneamente. E ficam guardados na retina. Estou um pouco cansada do excesso de compartilhamento de momentos nas redes sociais. Adoro acompanhar a vida dos queridos, ver fotos de viagens, mas sinto que, muitas vezes, as pessoas não sabem mais como vivenciar experiências sem um iphone por perto. Aí eu recomeço aquele meu exercício "e se" e penso: e se a luz elétrica terminasse? Sem internet, sem tomadas para recarregarmos os celulares, em poucas horas tudo mudaria e, sim, acabaríamos nos reconectando com nós mesmos. Já pensou viajar de novo sem internet, resgatando velhos mapas, fazendo anotações em papel, sem que as pessoas pudessem nos ligar a qualquer hora? E sem culpa por não atendermos assim, on line. Conheço gente que tem tentado. Pessoas que optaram por não acessarem e-mail nos finais de semana e que, por isto, estão sendo massacradas. Parece que o Doutor Google está incorporado na nossa mente, como se não conseguíssemos mais pesquisar nada sem a ajuda dele. É automático, quase uma extensão dos nossos próprios dedos. Os exercícios que o artista propõe (o da revista da Tam) são bem simples. Têm a ver com inventar, percorrer percursos interessantes, improvisar. Com reconhecer o próprio bairro, sair com uns trocados no bolso, propondo-se a passar um dia todo a pé, leve e sem tecnologia. Grandes viagens ao nosso próprio mundo, com olhares curiosos, despidos de próteses artificiais. Quem de nós conseguiria passar um dia inteirinho assim?

Quer saber mais sobre o tal artista? O nome dele é Hamish Fulton, um "walking artist". 
www.hamish-fulton.com