segunda-feira, 29 de julho de 2013

Essencial.


Faz dias que eu venho ensaiando muitas coisas pra escrever no blog e nenhuma delas me tocou tanto quanto a questão do "reencontrar aquilo que é essencial na vida da gente." Falei, dia destes, sobre o que o filósofo francês Jean Bartoli comentou sobre "voltar a beber na própria fonte" e isto tem feito muito sentido pra mim. O livro "The artist way" tem que parcela de responsabilidade nesta mexida boa. O fato é que neste mundo cada vez mais caótico e cheio de possibilidades, o difícil é ser simples. Escrever rebuscado é fácil. Quero ver fazer como o Mario Quintana. Serve pra tudo na vida. Enfeitamos demais, esperamos demais das pessoas, planejamos muito e vivemos, de fato, pouco. Parece que perdemos energia demais rascunhando e, parafraseando o Quintana de novo, não dá tempo para passar a limpo. Semana passada eu dei uma palestra para muitos executivos donos de empresas, clientes de um grande banco. Ouviram, atentos, o que poderiam fazer para transformar suas empresas, muitas delas familiares, em grandes marcas. Como fazer sem dinheiro, sem tempo, sem grandes estruturas? Mais fácil ainda, já que o elefante branco ainda é pequeno e fácil de manejar. Complicar nas estruturas empresariais também tem sido uma moeda corrente. Depois, ninguém sabe onde tudo começou e muito menos alguém tem coragem de desatar os nós. Acho que esta é uma boa pista. Começar desmanchando, desfazendo, resgatando, relembrando quem somos, afinal, em essência. Nunca os restaurantes ditos caseiros estiveram tão na moda. Comer em casa virou luxo. E o feijão da avó vale ouro como nunca. Amigos fazem escambo de roupas de bebês, livros, das próprias roupas. Piqueniques nos parques são frequentes em cenas urbanas mesmo nas grandes cidades. O que tem por trás de tudo isto? Um grande inconsciente coletivo em busca daquilo que nos move como seres humanos que somos: contato físico, cuidado, acolhimento, detalhe, memórias auditivas, olfativas e visuais, bilhetes, cartinhas, pequenos mimos personalizados, resgatar o convívio com os vizinhos de porta. Aprendi rccentemente alguns pequenos rituais que ajudam a resgatar parte disto tudo. De jeitos irritantemente descomplicados. Vou contar alguns pra vocês. O primeiro, do livro "The artist way", fala nas "morning pages". Segundo a autora, começar o dia escrevendo, a mão, três folhas inteiras do que vier à cabeça abre um espaço imenso para a criatividade fluir. Assim, sem medo, três folhas e uma caneta na mão, julgamentos de lado, e frases que são libertadas. Segundo o que li hoje no Facebook do Marcelo Ruschel, que palestrou no Tedx Laçador comigo há alguns dias,  "você precisa repetir 21 vezes um gesto para virar um hábito". Pode ser um bom começo. Outra dica que aprendi, desta vez com uma viajante do mundo, foi a de ter um caderninho na beira da cama para todo dia de manhã agradecer 5 coisas bem simples. Todo dia a mesma coisa. Todo dia 5 coisas novas, que não podem ser repetidas. As mais simples e inesperadas, de preferência. Outra criatura, empolgada com o embalo da conversa, ensinou a termos um baú de grandes realizações. Uma vez na semana, no final de semana, por exemplo, dá para escrever no papel o que de bom se viveu naqueles dias que passaram. Toda semana a mesma coisa. Uma frase, uma memória e a data. No fim do ano, perto ao Ano-Novo, como num grande ritual de celebração, o dono do baú abre a caixa mágica e revive, um a um, cada um dos momentos. Estou tentando fazer os três. Não sei se terei disciplina para mantê-los. Tampouco vou sofrer se perder uma ou duas rodadas das "morning pages". O que sei é que tenho tentado me preservar, me proteger e focar a energia em coisas realmente relevantes para minha vida. Os rituais sempre ajudam nestes casos. Se eu mesma não for guardiã da minha fonte, quem irá alimentá-la?

domingo, 21 de julho de 2013

Amigo dos sonhos.

Ontem eu recebi uma série de mensagens bem lindas sobre o dia do amigo. E fiquei pensando, aqui comigo, no verdadeiro significado destas pessoas na vida da gente. Família a gente não escolhe. Ou melhor, escolhe, em outro plano. E estamos aqui para aprender e para crescer com ela. Mas os amigos, estes são, sim, fruto de nossas escolhas bem terrenas. Assim, pé no chão e com uma boa dose de sexto sentido no pacote. Ontem, justo no dia do amigo, eu tive uma prova de amizade que não tem preço. Fui acolhida, sem julgamentos, por uma grande amiga que apenas me cuidou e me ouviu. Me deixou dormir e esteve ali, inteira, caso eu precisasse. Uma criatura que não mede palavras para me "trazer de volta à realidade" quando eu saio demais da caixa e que sabe me dar empurrões quando estou a um passo de uma grande decisão. Não passa a mão na cabeça, mas sabe dar colo como ninguém. Pra mim, pra minha filha e pro até pro maridão. Fico pensando nos nossos papeis como pais, como amigos. E no quanto dar a real faz parte da construção de homens e mulheres íntegros. Dizer sim sempre, elogiar sempre e achar tudo lindo não é tão lindo assim. Mas qual a medida para mostrar o outro lado sem puxar para baixo, sem desestimular ou bloquear? No curso que eu fiz na semana passada - e que comentei no blog, o "The artist way", falamos sobre isto. Sobre o quão valiosos são os sonhos das pessoas. E de que não temos o direito de julgá-los. Acho que amigo, em essência, tem a ver com isto. Com sonhar com a gente, fazer parte do sonho, ajudar a construir o sonho, vibrar com ele, festejar, compartilhar. E se um dia, por algum motivo, algum deles virar pesadelo, ele vai estar ali do lado pra nos segurar.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

The artist way

Ontem eu reencontrei minha alma artista num delicioso encontro onde corajosos "seres humanos normais" se propuseram a se entregar. Foi mediado por uma menina de nome Flor, cujo olhar brilha ao organizar este tipo de encontro. Alguns bons amigos, curiosos, toparam e também foram. O tempo voou e, quando vimos, eram 23h. A proposta do encontro foi, inspirados no livro "The artist way", experimentarmos algumas situações bem simples de reconexão com nossa alma criativa, sem aquelas vozes críticas tão duras, sem medos e com grande alegria. E assim o foi. Éramos uns 15 e, ao final, foi como se fôssemos centenas, tamanha foi a lembrança que tivemos de pessoas que fizeram - e ainda fazem diferença nas nossas vidas. Aqueles amigos de infância que nos ajudaram a decidir a profissão de hoje, aqueles não tão amigos, que nos bloquearam naquilo que suspeitávamos sermos bons, a família, os colegas e ainda os desconhecidos ali presentes, que trouxeram dicas assim, na hora, e acabaram nos ajudando a desenhar novas rotinas para nossas vidas. A proposta do livro é bem simples: durante 12 semanas o leitor deve se propor a fazer uma atividade diferente por dia para, de forma bem leve, libertar o artista que vive aprisionado nos nossos julgamentos internos. Surgiram momentos únicos e difíceis de descrever. E insights bacanas. Dentre eles, a sutil diferença entre o medo e a curiosidade, a certeza de que todos somos todos gênios e a percepção de que se formos esperar o dinheiro que gostaríamos, talvez não façamos as coisas que sonhamos. "A head full of fears has no space for dreams", dizia um cartaz. Não precisaria um encontro como este para que cada um dos presentes pudesse, com uma boa dose de disciplina, seguir os passos do livro e, ao final de 12 semanas, se redescobrir. Mas, como uma boa defensora das conversas circulares, não tenho dúvida de que aquelas pessoas tinham que estar ali e que o círculo enriqueceu muito as pequenas grandes vivências de cada um dos presentes. Não teríamos conhecido um casal aventureiro que recém chegou de volta ao Brasil, sedento por um boteco com amigos, depois de dois anos de volta ao mundo em busca de sentido pras suas vidas. Não teríamos encontrado meninas inquietas que recém largaram os empregos, nem as que, ainda nos seus, estão a um passo de pedirem pra sair. Não teríamos torcido para a máquina fotográfica de uma moça chamada Diva a acompanhasse com calma nas próximas corridas, em caminhadas relaxadas depois das provas. Nem teríamos descoberto que um engenheiro focado em TI é tão hábil para fazer um origami de papel em forma de pássaro. Não teríamos, juntos, criado mil e um usos para o rolo do papel higiênico, nem brincado com massinha de modelar nem aprendido a colocar numa cestinha, toda sexta-feira todos os grandes feitos da semana. Beber da própria fonte, como disse o querido filósofo francês Jean Bartoli, é fundamental. Mas bebericar em fontes externas é também bem rico e renovador. Um brinde às almas artistas!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Assim, um propósito.

Há umas duas semanas eu estive com o Marcelo Cardoso que, entre um assunto e outro, falou da importância de se ter um propósito na vida. Disse ele: “se você não tem um propósito de vida, seu propósito pode ser o de encontrar o seu propósito de vida”. Tem um outro ditado bem popular que fala mais ou menos a mesma coisa. "Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve." Tenho acompanhado muita gente sem propósito por aí. Gente que acorda de manhã e não tem a menor ideia do motivo pelo qual está por aqui. Não que seja fácil. Quem dera o fosse. Mas ter uma mínima ideia do que te move parece, ao menos, facilitar um pouco algumas decisões bem simples. Falava com um amigo hoje que me relembrou o quanto o tal propósito ajuda a clarear as nossas ações diárias. Para um estrategista de guerra, por exemplo, saber que o objetivo a ser alcançado era dominar tal território num tempo X dava a ele uma relativa tranquilidade de acordar a cada dia muito focado em conseguir mais um passo daquela jornada, ainda que longa. Mesmo que tivesse que esperar por meses no frio, parado, sabia que fazia parte de um plano maior. Guerras ou conquistas territorialistas à parte, este olhar para dentro e encontrar um rumo, ajuda, e muito, a termos coragem de sair da cama, mesmo naquelas manhãs frias de inverno. Estou bem convencida de que esta vontade que vem de dentro, este drive que move algumas pessoas, não tem a ver com perfil, idade, classe social. Tem a ver com energia vital vibrante. Parece, inclusive, que aqueles que enfrentam muitos obstáculos vêm “de fábrica” com uma dose extra de vontade. Choramingam de menos e realizam muito mais. No dia em que conduzimos a oficina de tricô com redação estávamos todos meio apreensivos com nossa capacidade de tricotar. Eu não o fazia há pelo menos 30 anos. E muitas pessoas nunca haviam tocado em agulhas. Eis que uma menina linda e sorridente deu uma verdadeira aula a todos nós e foi quem puxou a turma a começar o tal treino. Detalhe: ela não tem uma das mãos. E assim, do jeito que dava, contou um truque que aprendera para dar o primeiro laço e iniciar o processo de colocar a linha na tal agulha. Saiu sorrido e tricotando e ainda ajudou todo mundo a derrotar seus medos. Mimimi de menos e propósito de vida demais. Hoje este mesmo amigo que falou comigo sobre os estrategistas, me apresentou a um vídeo que acabou de sair do forno. Um clipe que o pessoal do Fresno fez com atletas com grandes limitações. Físicas, e não emocionais. Chama-se "Maior que as muralhas." Com uma garra de fazer inveja, eles souberam se reinventar e, assim, dia após dia, se superaram e construíram histórias incríveis. Preferiram enxergar a metade cheia do copo. O esporte tem disto. Um objetivo a ser alcançado. Melhor ainda quando tem a ver com superar a si mesmo, e não necessariamente com “vencer alguém”. Vencer nossos inimigos internos é sempre mais desafiador. Ao que parece, o trabalho do grupo tem um quê disto. De apresentar estas e outras histórias a jovens meio “sem propósito”. Espero que estas e outras iniciativas também cutuquem aqueles que não são mais assim, tão jovens. Que, além dos de 20, os de 60 possam se reinventar. E se ainda não encontraram seu propósito, que usem toda sua bagagem acumulada como atalho. Para que possam acordar todo dia de manhã com a energia transformadora dos de 20.

* Ah. O vídeo que comentei sobre atletas que se superaram (foi ao ar ontem): http://www.youtube.com/watch?v=eAaNEMJeC7U

** e o link da já consagrada fala do Marcelo Cardoso no TEDx Laçador, no ano passado. Também fala sobre propósito :) http://www.youtube.com./watch?v=yXKZjbqq_zU

terça-feira, 2 de julho de 2013

Assim, high touch.

"Conversando a gente se entende". Esta frase me acompanha há tempos e tem feito cada vez mais sentido. Não só pela delícia que é um "dedo de prosa", como dizem meus amigos mineiros, mas porque é nas conversas que nos reencontramos conosco. Como quem dá aula e aprende cada vez mais sobre o assunto, quando colocamos nossas ideias pra fora estamos nos enxergando espelhados no outro. Falar sozinho também serviria, não fosse a importância do eco daquilo que sai da gente. Em tempos de redes sociais, nunca me senti tão próxima das pessoas. 
Hoje minha professora de inglês trouxe para nosso bate-papo - com café - um texto muito bacana sobre as redes sociais e seu poder de transformação. O interessante do texto é que ele mostra, com bons argumentos, que o tipo de interação que acontece hoje nos Facebooks da vida nada mais são do que os encontros que sempre aconteceram em cafés. Há tempos pensadores, artistas e criativos costumam promover encontros em lugares públicos para debaterem, trocarem ideias e, quem sabe, "até tomarem um café". As redes sociais são os próprios cafés, só que virtuais. O mesmo tipo de interação que acontece on line continua acontecendo off line. E é aí que mora a beleza da coisa. Não é uma coisa ou outra. É a soma das duas. O José Carlos Teixeira Moreira costuma falar em high tech e high touch (tecnológico ou fofinho, com toque). Pode ser real e virtual, presencial e à distância, o fato é que por mais que as redes articulem ideias, elas só acontecem de fato e "tomam corpo" quando as pessoas se encontram, se enxergam, se tocam, se escutam ressoando nas vozes dos outros. E não adianta fazer de conta que as redes não existem, proibir acesso nas empresas. Se não podemos derrotá-los, nos juntemos. Só que nas redes, as identidades que aparecem têm filtros e máscaras que muitas vezes acabam caindo nas interações de verdade. São perfeitas para encontrar pessoas distantes, espiar a ideia de uma ou outra criatura e até para substituir os noticiários que, afinal, são mais espontâneos e instantâneos nos teclados "facebookianos". Mas há um limite. De caracteres, de tempo, de espaço físico até. Espaço este que se dilui em conversas sem pressa, regadas a cafés, chás e espaços aconchegantes de interação. Vivemos em ciclos e utilizamos a tecnologia como ferramenta para expressar o nosso tempo, felizmente. Mas como seres humanos que somos, precisamos de contato, de olho no olho. Daqui a cem anos, espero, nossos netos também se sentirão assim, aconchegados e reconhecidos quando estiverem reunidos e forem ouvidos, em conversas ao pé do fogo, em rodas de amigos, cafés ou em espaços quaisquer onde possam exercer sua condição atemporal de serem pessoas únicas em essência.

* Ah, o texto que comentei: