quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O diabo em nós

Nos últimos dois dias eu participei de um encontro de Marketing Industrial que, felizmente, se mostrou bem surpreendente. Participo há alguns bons anos e desta vez saí de lá bem transformada. Não que nos outros anos não tenham sido maravilhosos os debates e os temas mas, neste ano, não pergunte por que, a aura tava diferente. Se falou muuuuito de gente. Não aquela gente como “capital humano”, “capital intelectual”. Mas gente de verdade, com carne, osso, alma, medos e limitações. Uma delícia. Eu ali, rodeada de executivos, todos vestidos iguais (99% de terno preto), enxergando de camarote cada um deles se abrir a mostrar um lado bem humano. Falou-se em essência, em confiança, em valor, em meditação e acolhimento. Parece que este jeito feminino de conduzir a vida começa a ser reconhecido. Yes, we can :) O melhor de tudo foi ver aqueles marmanjos todos no palco, abrindo seus corações, falando, se expondo e, pasmem, sendo acolhidos e aplaudidos pelos demais. Ninguém ficou “exposto”, passou por ingênuo ou romântico. Que nada. Parece que todos pensavam a mesma coisa. E alguns tiveram coragem de fazer a leitura do tal pensamento coletivo que estava por lá. Eis que chegou o diabo. Digo. O debate sobre o diabo. Mas antes, só para preparar o terreno, um pouquinho de Deus. Eu aprendi algumas coisas com a vida nos últimos anos sobre a tal presença divina em cada um de nós. Segundo uma história que um indiano me contou, Deus se escondeu da gente e nos deu o desafio de o encontrarmos. Saímos como loucos por aí, nesta busca desesperada e... nada. Na igreja, nos mosteiros, nos cantos todos inesperados da vida. Eis que Deus estava lá, bem confortável e sapeca, escondidinho dentro de nós. O problema é ter a consciência de olhar pra dentro e enxergá-lo. Metáfora linda para explicar que Deus está em nós. Simples assim. Mas como é complicado...
Pois bem. Eis que em um determinado momento começou o tal assunto do ser humano na sua incompletude, com suas fragilidades. Admiti-las e permitir conexões nestas brechas de imperfeições nos faz crescer como pessoas. Pode errar, pode recomeçar. Pena que não nos contaram isto na escola. Só que diferente de errar e se aceitar imperfeito, o que não pode é dividir a alma. E aí entra o diabo, com ou sem tridentde pontudo na mão. você escolhe. Segundo Jean Bartoli, um francês que muda minha vida cada vez que abre a boca, o diabo é simplesmente “aquele que divide, que separa, que quebra”. Ou seja, assim como Deus está em nós (e não é responsabilidade de ninguém, que não nossa, encontrá-lo), a presença do tal diabo nas nossas vidas também é uma escolha nossa. Se deixarmos nossa alma se dividir, estamos diante dele. Se não enxergarmos que a pior pessoa para nós mesmos somos nós mesmos e que temos um potencial destruidor enorme, não há Deus “que salve”. O significado de satanás está também muito próximo disto. É “aquele que acusa”. Ou seja, está presente toda vez que perdemos a noção da nossa completude e acusamos os outros, passamos para fora uma responsabilidade que é nossa. O ser satânico é, ainda segundo Bartoli, aquele que diante do problema acusa, vira membro de uma manada e não assume seu papel de indivíduo consciente. Era tão mais fácil quando havia um ser sagrado lá fora pronto para nos salvar de todos os males. Pois é, parece que ele não existe assim, deste jeito. O ser divino e todo o mal estão dentro de nós, ao mesmo tempo, todo o tempo, num conflito eterno e inacabado. Fechar os olhos e escutar os sussuros desta batalhas pode ser o primeiro passo para nos encontrarmos enquanto indivíduos indivisíveis que somos, tão completos e tão imperfeitos, graças a Deus.