sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Entusiasmo.

Tem um monte de gente que eu curto, admiro, gosto de ler, ouvir. O Eduardo Galeano é um deles. Descobri um videozinho recente, direto da Praça Catalunya, na Espanha, onde ele fala, entre outras coisas, sobre o conceito de entusiasmo. Do grego, tem a ver com "ter os deuses dentro". Já comentei por aqui de um indiano que me contou que Deus vive dentro da gente. E já falei sobre "voltar a beber na própria fonte". Tudo a mesma coisa. Tudo faz muito sentido pra mim. Ora, se os deuses vivem dentro da gente, não dá pra tentar enfiá-los "goela abaixo" nos corpos de outras pessoas. Eles já estão lá, adormecidos. Cabe a nós, se quisermos, tentarmos despertá-los. Já nascemos empoderados. Temos todas as ferramentas. Mas a escolha de usá-las ou não é somente nossa.
Nunca vi tanta gente desanimada, reclamando. Também nunca encontrei tanta gente "entusiasmada" por aí. Gente que tem tomado as rédeas da própria vida e recriado suas histórias. Que tem construído legados. Este é outro conceito que eu gosto muito. E que aprendi com o Nuno, um português amigo também já citado em posts anteriores. Segundo o que ele me contou, morremos quando deixamos de ser lembrados. Não quando nosso corpo vai embora. Quando construímos algo tão bacana em vida, que somos citados de forma recorrente em conversas, mesmo quando já não estivermos por aqui.
Nesta semana encontrei uma turma "entusiasmada" de jovens, num projeto lindo de uma empresa de tecnologia. Engenheiros, ex-bancários, todos podiam estar curtindo uma aposentadoria generosa. Mas decidiram empreender. Não contentes com isto, têm criado encontros inovadores dentro da empresa. Fui chamada como "inspiradora" de um deles. Tem a ver com novos modelos de educação e com a descoberta de novos talentos. Colocaram 9 meninos (e uma menina), de 12 a 18 anos, classes sociais diferentes, vivências diversas, numa sala por algumas semanas (uma manhã por semana) para aprenderem alguns conteúdos e para pensarem nos seus futuros. Mostraram o mercado, contaram o bastidor de uma empresa de verdade e os ajudaram a enxergar o futuro. Quem deu as aulas? Os funcionários. Quem ajudou no fechamento? Euzinha. Uma delícia. Fiz com eles uma dinâmica de resgatar, num texto escrito a mão (eles não têm o hábito de escrever), cinco pessoas que foram fundamentais para chegarem ali naquele momento. Criaturas que foram definitivas na construção das suas personalidades. Apareceram, além de mães, pais e amigos, o Bob Dylan, o Steve Jobs, um tio amoroso que sempre jogou videogame com um deles e até a figura do game Pacman. Fiz o exercício mentalmente enquanto eles escreviam. E me revi crescendo e formando quem eu sou. Apareceu, claro, o meu pai, sempre uma referência intelectual pra mim, que me contou que eu escrevia bem, que carregava minhas poesias recortadas na carteira. Nunca morreu na minha memória. Ao mesmo tempo, pegando carona com o Nuno, me pego pensando em como serei lembrada daqui a alguns anos, quando não estiver por aqui. Serei, afinal, lembrada? Por quem? Em que contexto? Nascer e morrer não são escolhas que possamos controlar. Mas com 8 ou 80, temos sempre pela frente todas as possibilidades. Se depender dos meus deuses internos, animados como são, tenho muito trabalho pela frente. Tomara deixar na memória de alguns um pedacinho deste mundo novo que vem aí.

O link pro vídeo do Galeano que comentei. Conta que estamos parindo algo novo". "Hay otro mundo que nos espera", disse :) http://www.youtube.com/watch?v=j2IYgytRs90