sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Existe vida após os 30

Neste fim de semana eu vou visitar, junto com uma turma, um dos meus ex-colegas do mestrado. Ele casou com uma menina da minha geração e da minha cidade, que eu já conhecia há anos. Este mundo é mesmo pequeno. Para os amigos, ele chama-se Renatô, assim, com ô fechado no final. O apelidamos assim na França, onde passamos duas deliciosas semanas de estudo e diversão. Daí a pronúncia tão chique. Pois bem, passado mais de um ano do final do mestrado (e da libertação da dissertação), uma boa parte da turma continua unida e ativa. Nos encontramos uma vez ao mês em Porto Alegre (ao menos tentamos) e temos feito algumas viagens pelo Brasil para encontrarmos os queridos colegas. A última foi só para meninas, em Curitiba. Claro, a turma de 30 pessoas se dispersou bastante, mas temos uns bons dez gerreiros que não se entregam. Hoje a Lia e o Du estão em São Paulo, na minha casa. Daqui a pouco chega a Cris. E amanhã pegamos a estrada todos juntos.
Todos eles (e mais alguns queridos) foram achados deliciosos pós-30. Digo, criaturas que eu conheci depois dos 30 anos e que posso considerar amigos de verdade. Eles participaram e continuam participando da minha vida. Saímos, nos telefonamos, mandamos recados, trocamos experiências boas e ruins.
O Renatô, este que vai nos receber em casa amanhã, no dia do casamento, completamente "animado" reuniu o grupo de ex-colegas na recepção. Fez um círculo com os amigos e, abraçado a todos eles, contou emocionado que nós o surpreendemos. E que ele nunca poderia imaginar que conquistaria novos amigos assim, "tão tarde". Não foi bem assim que ele falou, claro, mas este foi o sentido. Ele estava realmente emocionado ao olhar ao redor e ver pessoas tão próximas e tão novas na sua vida. Na verdade, ele meio que tentou expressar um sentimento que é meio comum nas nossas vidas. Parece que amigo de verdade é aquele que correu com a gente na rua na infância. O colega de colégio, o vizinho de porta. E não é só isto. Eu mesma tenho uma amiga (amigoooona) que tem mais de 20 anos de diferença de idade comigo. Eu a conheci com 17 anos, chegando em Porto Alegre, num curso de informática. Hoje, 17 anos depois, eu ainda a visito sempre que vou pro RS. Ela é quase uma irmã mais velha. Na minha vinda pra São Paulo, outras gratas surpresas. E nem por isto eu deixei de lado as antigas amizades. Algumas sim. Por total falta de afinidades. Acontece. Coisas da vida.
O bacana disto tudo é conseguir ver, através de histórias como esta do Renatô, que nunca é tarde para um monte de coisas. Pra estudar (a mãe de uma amiga minha, quase se aposentando do trabalho, terminou o segundo grau e está fazendo faculdade / o Marculino, um pedreiro gente boa que trabalha pra mim em São Paulo, voltou pro colégio há pouco. Mal sabia ler e escrever), para conhecer gente legal, para se apaixonar, viajar, casar, pra recomeçar. Existe vida depois dos 30, dos 30, dos 80 Só precisa ter vida interior e vontade. Alguns chamam de energia vital. Eu chamo de "estar vivo". Vivo de verdade, entende? Bom fim de semana!


* foto de brinquedo escandinavo - www.playsam.com (lindos!)

Desequilibre-se

Eu passei boa parte dos últimos anos tentando encontrar o equilíbrio na minha vidinha. Entre o trabalho, a família, vida amorosa, realizações, esporte, saúde. Pois bem. Eis que surgiu, na maior cara dura, uma pessoinha esta semana que, durante um almoço, me apresentou um outro lado possível para esta moeda. Ele é Físico de formação e lida com gente porque gosta. Trabalhou com isto durante toda sua vida corporativa, no Brasil e fora dele. E teve a ousadia de defender, em um texto recente, a importância de nos desequilibrarmos de vez em quando. Hein? Aham. Foi o que ele disse. Pior, pode ter razão. Ele argumentou com alguns exemplos  da natureza a importância dos desequilíbrios para a construção de histórias mais sólidas e inovadores. Não fosse o desequilíbrio, não haveriam os inventos. Se nossas vidas fossem totalmente equilibradas, viveríamos num marasmo bem sem graça. Eu me dei conta, com a história toda, do quanto eu busco o desequilíbrio na minha vida. Saio direto da minha zona de conforto e, muitas vezes, até exagero um pouco na dose. Aí eu busco refúgio em mim mesma, lambo as feridas e volto pra "lida". Mas as verdadeiras mudanças na minha história são frutos de grandes revoluções e estiveram ligadas à minha saída da rota. A Andréa previsível e certinha demais deu lugar a uma pessoa mais livre e que se permite experimentar e errar. Bom nisto é que quando ela acerta, tem feito de um jeito bem legal e surpreendente. Recentemente, vivi uma história de amor assim "bem desequilibrada". Na verdade, um pouco fora dos padrões ditos normais. Mas, o que é normal? Me permiti ficar na corda bamba, rodopiar e questionar a minha escolha. Mas tive coragem para me ouvir e persistir e encontrei do outro lado da corda os aplausos daqueles que me assistiam aflitos. Não estou fazendo nenhuma apologia ao caos e às drogas. Nada disto. Só resolvi passar e contar que se alguém tão "previsível" quanto eu conseguiu se desequilibrar - e gostar do que viu, você, caro amigo, como um cidadão absolutamente normal, tem tudo na mão pra se permitir também. Se der certo, beleza. Se não der, pelo menos valeu pelos friozinhos na barriga.