domingo, 8 de abril de 2012

Robert Happe, Maturana e o coelho da Páscoa.

No carnaval passado, estive com o Robert Happe, um holandês “gnomo” que me foi apresentado por alguns anjos na Terra. Ele vive no Brasil há alguns anos e tem um sítio delicioso pertinho de São Paulo, onde organiza uns “retiros” para contar o que pensa sobre a vida. Meses mais tarde, em São Paulo, num encontro numa galeria de arte, descobri o Humberto Maturana, chileno, também bem vivido. Chegou de mansinho e trouxe, através de metáforas da biologia, sua maneira de ver e viver a vida.

No fundo, ambos, tão diferentes, falavam das coisas humanas e, apesar das aparentes distâncias culturais e espirituais, estão focados em entender melhor o que nos move enquanto seres que somos. Não por coincidência, os dois falaram dos nossos medos e do quanto eles nos impedem de sermos quem somos de verdade. Um deles, o Robert, falava das necessidades humanas, enquanto Maturana contou o que, no seu ponto de vista, são nossos direitos universais.

Neste domingo de Páscoa, achei bem oportuno dedicar alguns minutos a reencontrar o que eu vivi com eles e buscar, nas palavras e vivências destes senhores simpáticos de cabelos grisalhos, força e motivação para renascer.

Segundo o Robert, existem cinco necessidades humanas que precisam ser observadas e respeitadas. A primeira, é a necessidade de entendermos o nosso verdadeiro poder. Poder como habilidade irrestrita que temos para agir. O poder individual nada mais é que a nossa conexão com o fluxo divino do livre arbítrio, que faz você saber que deve agir de uma forma livre para preencher suas necessidades. Poder no sentido bem básico, aquele que te dá segurança para saber que você pode cuidar de si mesmo e que pode fazer sua vida funcionar. Se você não se conecta com este poder, todas as suas outras necessidades ficam limitadas. A segunda necessidade humana é a necessidade de liberdade. Ser livre em movimentos e pensamentos. Quando você consegue, você permite que os outros também tenham suas liberdades. Esta liberdade não é negociável. Você precisa ter claro que tem o controle sobre a sua vida, que você depende de você mesmo e que pode ser capaz de pensar por si. E é esta liberdade que te dá a oportunidade de repensar tudo. O tempo todo. Você tem liberdade de ser você mesmo. A terceira necessidade é a de expressar-se de forma criativa. Você precisa, enquanto ser humano, encontrar um jeito único e valoroso de se expressar. Não vale só para músicos e artistas, mas tem a ver com uma expressão criativa de uma pessoa verdadeiramente livre: espontaneidade, senso de alegria. Quando nos expressamos, ficamos felizes. Temos uma necessidade urgente de fazer algo novo. Por isto, precisamos urgentemente desenvolver novas habilidades. É este espírito criativo o que nos motiva a levantar todo dia de manhã. A quarta, é a necessidade de conexão. Temos necessidade de nos afiliarmos, de compartilharmos sonhos. Cooperar é bem mais interessante do que fazer as coisas sozinhos. O jogo é mudar a estratégia da competição pela de cooperação. Adiamos o tempo todo esta nossa capacidade de cooperar, de nos conectarmos, por puro medo, por não reconhecermos o poder que isto tem. A quinta necessidade, finalmente, tem a ver com nossa vontade de encontrarmos significado para tudo, para que este mundo faça sentido para nós, seres naturalmente curiosos. Este é o quebra-cabeça que nos move, são estes jogos de expansão da conciência e auto-desenvolvimento mexem com a gente. Esta necessidade nos ajuda a compreendermos nosso verdadeiro papel no mundo. Pra que eu existo, afinal? Sem significado, a vida é um ciclo de ações sem sentido e cheia de dor. Aí vem o caos. Encontrar significados é uma atividade espiritual.

Necessidades humanas (by Robert Happe):
1) encontrarmos nosso verdadeiro poder
2) necessidade de liberdade
3) nos expressarmos de forma criativa
4) necessidade de conexão
5) encontrarmos significado

O Maturana, sem nenhum viés espiritual da conversa, na verdade totalmente científico, e igualmente sábio e vivido, trouxe um outro olhar bem humano sobre as nossas inquietações. E comentou sobre três direitos humanos. Segundo ele, temos o direito de nos equivocarmos, de mudarmos de opinião e o direito de ir, a qualquer momento. Falou sobre nossas famílias ancestrais, sobre o resgate do prazer de estarmos juntos, da importância dos espaços de bem-estar na convivência. E falou nas conversas, no conviver. “Conversar é dançar juntos, estar com o outro, colaborar.” Todo o viver humano ocorre em redes de conversações. Para Maturana, os processos de transformações culturais acontecem através de pessoas audazes. Não ocorre porque são moda. Mas têm a ver com abrir o olhar e ter coragem de começar. Falou também no tal “medo”, que paraliza, e fez um convite para tentarmos vivermos sem tanto esforço.

O Robert e o Maturana provavelmente nunca se cruzaram na vida. Construíram trajetórias bem distintas, viajando pelo mundo em busca de novas perguntas para suas dúvidas tão mundanas. Não sei se acreditam em coelhos da Páscoa, nem se comemoram a data de hoje com suas famílias, tenham elas o modelo que tiverem. Mas os dois, cada um de sua forma, falam, o tempo todo, sobre o milagre da ressurreição. Eles, a seus modos, acreditam na nossa liberdade de tomarmos nas mãos as rédeas das nossas vidas e vivermos uma vida mais leve, afinal. E de recomeçarmos do zero a hora que tivermos vontade / coragem. Fica o convite para a reflexão e uma tentativa, minha, principalmente, de descomplicar um pouco para exercermos nossos direitos e necessidades de um jeito bem alegre e livre. 
Feliz Páscoa. Ho ho ho.