Estar-se preso por vontade.
Nunca
a frase do Legião Urbana fez tanto sentido pra mim. Inspirada no
original de Camões, "é querer estar preso por vontade", o
contexto apareceu na entrelinha de uma conversa com um ex-cliente, agora amigo. Ele acabou de se aposentar. E assistiu à
minha palestra no TEDx Laçador. Ficou mexido. Me escreveu. Me
contou coisas da vida, na sabedoria de quem viveu muito e segue
aprendendo. Entre muitas reflexões, falou que esteve recentemente
com ex-colegas do tempo do colégio. Todos na mesma fase da vida, se
reinventando depois de longas jornadas corporativas. Segundo ele, o
grande dilema desta etapa não está no adaptar-se às novas rotinas.
O medo não é o de sentir falta do trabalho, mas o de passar por
privação financeira. "Quanto mais cedo aprendermos que é
possível viver com menos, mais coragem vamos ter para fazer
aquilo que nos dá alegria de viver", contou. Tenho
exercitado mentalmente este conceito de liberdade. E ele é bem maior
que pegar uma mochila a qualquer momento e sair pelo mundo. Tem a ver
com a sensação de ser livre para recomeçar e com imaginar isto
possível todo dia de manhã, ainda que não o façamos. Com estar em
projetos de clientes porque eles também alimentam nossas almas, e
não somente porque precisamos deles para pagar as contas. Com
conviver com pessoas que tiram o melhor de nós e com escolher não
mais estar com outras tantas, que não acrescentam - e ainda
subtraem. Liberdade é um sentimento. Não necessariamente uma ação.
Ainda pensando a respeito das vidas corporativas, enxergo grandes
escravos de luxo por aí, pessoas que não podem sequer questionarem
as próprias carreiras porque jamais conseguirão ganhar nem perto do
que recebem no lugar atual. E têm contas proporcionais à
responsabilidade. Outros, por bem menos, tornam-se também escravos
de carnês.
Não pagar lhes tira a dignidade. Crédito é o seu cartão de
visitas. O dinheiro, meus caros, aprisiona. Nos dois extremos, com
igual crueldade. Mas pode também ser libertador. Falei na mesma
palestra do TEDx sobre o lucro admirável, aquele de empresas cuja
sociedade aplaude quando acontece. Usei como exemplo aquele amigo bacana que vibramos
quando dá certo na vida porque sabemos que fará bom uso do que produzir. Vai viajar, fazer cursos. Vai tornar-se uma pessoa
ainda mais bacana - e ainda compartilhar tudo por aí. Com
dinheiro na mão, o fluxo flui. Ninguém vai para o inferno porque é
capaz de gerar riqueza. Tem a ver com merecimento, com sermos
reconhecidos porque somos capazes de produzir coisas boas. Falando
ainda musicalmente, acho que o Frejat também resumiu muito bem esta história toda: "Eu
desejo que você ganhe dinheiro pois é preciso viver também. E
que você diga a ele pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de
quem."
Pra
quem ainda não viu, segue o link da minha palestra no TEDx Laçador:
http://www.youtube.com/watch?v=3hdznmYhIzE&feature=youtu.be
Muito forte essa frase....."Estar preso por vontade"
ResponderExcluirComo é difícil se dar conta de que desconstruir não é perder e sim, experimentar novas perspectivas....
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