quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Treino sobreviventes

São Paulo é uma terra de sobreviventes. Digo isto porque quem vem pra cá não caiu nestas bandas por acaso. Sabia o que a selva de pedra poderia oferecer e os riscos de se adentrar neste mato. Veio porque de alguma forma já considerava-se forte o suficiente para viver esta experiência. Minha vinda pra São Paulo, não canso de dizer, tem me tornado uma pessoa mais forte e, espero, madura. Assim como o ritual de passagem do interior do RS para a Porto Alegre representou um passo bem importante na minha vidinha, estar aqui tem me feito diferente e me apresentado Andréas que eu, confesso, desconhecia. Fico tentando encontrar a origem destas mudanças todas e achei algumas respostas na fala de uma grande e nova amiga (que também SP me deu), a Mariana. Ela já passou por todas as etapas imagináveis das vidas corporativas. Trabalhou cercada de leões (e de outros tantos bichos), cresceu, aprendeu e decidiu, de forma segura e serena, que aquilo não servia mais. Queria outra coisa, novas perspectivas. Mas enquanto estava vivendo estas experiências, conseguiu sobreviver e, acreditem, viver. Fez isto porque encontrou forças, não sabe bem onde, para treinar sobreviventes como ela. Ou seja, não teve, ao longo destes anos todos, a pretensão de passar a mão na cabeça e carregar no colo marmanjos corporativos. Dizia ela às suas equipes: "eu sou uma sobrevivente e, portanto, treino sobreviventes". Ou seja, se você não sabe bem o que quer, se gosta de se esconder atrás de máscaras ou da velha e conhecida postura de vítima, não tem espaço pra você neste mundo, meu caro. Uma postura dura. Arrogante? Ou honesta? Olhando pra trás, a Deinha de uns poucos anos anteriores a veria como alguém sem sentimentos, dura e exagerada na "dose". Hoje, vejo como alguém que conseguiu fazer várias pessoas crescerem de verdade. Tratou-as como gente, como adultos, afinal, delegou, puxou, desafiou. Pegou pela mão, sim, nas horas difíceis, até porque ela também precisou de um apoio naquele momento. E sabia disto. Nem por isto tornou-se um homem ou deixou de sorrir. Eu diria que ela é uma das pessoas mais femininas, leves e independentes que eu conheço. E isto, acreditem, não é uma incoerência. Tenho certeza de que as "marianas" não têm passado em vão pela minha vida, muito menos neste momento tão revelador. Ao me contar com entusiasmo estas e outras histórias, ela me sacode e escancara o quanto eu cresci e o tanto que eu ainda tenho pra evoluir em relação às pessoas próximas. À família, aos amigos e, claro, a minha equipe, que literalmente sobreviveu comigo à muitas tempestades nos últimos tempos. A Andréa meio mãezona que habitou este corpinho nas últimas três décadas está meio cansada e, espero, deve passar férias permanentes no Cazaquistão. E isto não me tornará mais infeliz ou dura. Pelo contrário. Tem tudo para liberar coisas boas - e, por tabela, me livrar de uma bagagem incrivelmente pesada que tenho carregado nas minhas costas (o, ok, porque eu quis) nos últimos tempos. Minha vida com asas está se mostrando bem mais interessante. E ter ao meu redor, por livre e espontânea vontade,  outros pássaros que não tiveram as asas podadas, ah, isto sim, vale ouro.