segunda-feira, 27 de maio de 2013

Janelas quebradas.

Eu tenho uma mania meio estranha de organizar o espaço imediatamente ao entrar em um banheiro público. Em aeroportos isto me dá ainda mais aflição. Parece que eu nunca entrei em algum que estivesse realmente "zerado". O mesmo acontece em restaurantes, botecos, museus. Na verdade, criei quase que uma teoria. Quanto mais "metido" o lugar, maior a tendência de o público "chutar o balde" e simplesmente não ter o menor cuidado com o espaço compartilhado. Tem a ver com as pessoas revelarem seu verdadeiro âmago em situações-limite. Vale no trânsito, quando aquela moça simpática e sorridente desce do salto, ou numa partida de futebol, quando o vizinho recatado do 63 grita na janela frases obscenas.  Num seminário que participei há um ano e pouco com grande pensador (público "cabeça" e super preocupado com o planeta, espaço de uma galeria de arte, zona nobre de São Paulo), o banheiro feminino estava um horror. Durante todo o curso. Por mais que as tias limpassem de tempos em tempos, as colegas, que minutos antes interagiam de forma amorosa, sequer davam-se ao trabalho de colocar o papel higiênico dentro do lixinho prateado. Vai ver que é justo porque sabem que "a tia" ia entrar e resolver tudo logo a seguir. Depois falam que os banheiros dos meninos é que são sujos. Não consigo sequer raciocinar quando eu entro e vejo  aquele monte de papel no chão, pia molhada. Me baixa imediatamente a Maria e saio ajeitando tudo. Em 30 segundos, dá pra dar uma boa geral e, assim, olhando de novo, respirar e ir realmente ao que interessa. O contexto é tudo, principalmente quando você está fora de casa. Tem a ver com cuidado, com uma busca de aconchego, de minimamente encontrar fora aspectos gostosos que buscamos e, espero, encontramos nas nossas casas. Custa um restaurante dito familiar colocar um trocador de bebê na parede do banheiro?
Há alguns anos, começou uma onde de preparar com muito cuidado os banheiros femininos durante festas, em casamento, geralmente. Mais que sabonete, pequenos cestos estrategicamente colocados passaram a abrigar fio dental, creminho, remédio pra dor de cabeça, lixa de unha, linha e agulha, lencinhos. Tudo tão simples e acolhedor! Aos poucos, alguns lugares incorporaram a ideia e a ampliaram, dando ao banheiro, até então coadjuvante, ares de protagonismo. Mesmo quem não precisa ir, acaba, seduzido pelos comentários alheios, dando uma voltinha para conferir a parede inusitada, o cheirinho, o jeito divertido que uma bicicleta tornou-se base para a pia. Nunca a teoria das janelas quebradas fez tanto sentido pra mim. O exagerar para entender usado na década de 90 em Nova York, pelo então prefeito Giuliani, e a repercussão positiva que teve, me faz ter ainda mais segurança de que são nos detalhes que moram as grandes mudanças. Quem não cuida do pequeno nunca terá energia para construir o grande.