segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ciranda de roda

Já faz horas que o tal círculo vem me perseguindo. Nos encontros mensais das gestadoras, onde falamos sobre o resgate do feminino, nas palavras da Isabel Allende, no livro que estou lendo “La suma de los días”, nas conversas do Humberto Maturana, onde ele reforça que conversar nada mais é do que dançar juntos, dar voltas juntos, numa dança recursiva de colaboração, nos aprendizados do Art of Hosting, onde nos redescobrimos num grande círculo de quarenta pessoas. Muitas metáforas das nossas vidas são circulares, têm começo, meio e fim e recomeçam, com uma grande dança orquestrada e completamente perfeita. Nós é que “enquadramos” demais, pensamos demais e acabamos por entortar aquilo que estava literalmente “redondo”. As tais conversar circulares ancestrais ao redor do fogo e a continuidade delas, hoje, nas nossas mesas de jantar, em família ou com os amigos, nada mais são do que um resgate e uma lembrança daquilo que nos move de verdade como seres humanos que somos: nos alimentamos através do contato com o outro, nos reinventamos quando nos espelhamos nas pessoas, nos religamos com nossas existências cada vez que temos a consciência do quanto somos uma importante parte deste todo. Durante os dois dias em que estive com o Roberto Maturana, em São Paulo, aprendi muita coisa nova, me senti beeem burra em muitos momentos, tamanhas metáforas da biologia que ele utiliza e, mais adiante, quando relaxei e entendi o quão simples eram suas palavras, tive a certeza de que estes e outros ensinamentos não mudam ao longo dos tempos. Somos seres em eterna evolução mas o que nos move de verdade é bem simples e básico. Por trás de tantas teorias e jeitos de enxergar o mundo, buscamos todos as mesmas respostas para perguntas bem básicas: “Gosto do meu viver?”, “Quero o querer que eu quero”, perguntou Maturana. “Estamos dispostos a soltar nossas certezas para nos transformarmos de verdade?” As respostas têm a ver com um simples resgate de nossas famílias ancestrais, seres espontaneamente amorosos que, ao compartilharem o alimento, em círculo, aprendem a doce e difícil arte de conviver. Nas empresas, mudam apenas os nomes. E o resgate é o mesmo. Se não há conversas significativas, se não há prazer em compartilhar com o outro, não há sentido naquele encontro. Tenho experimentado com alguns clientes encontros literalmente circulares com suas equipes. Algo bem simples de fazer e tão esquecido. Quando as pessoas se olham nos olhos parece que a conversa flui e algo acontece. Em casa, tenho insistido em resgatar o ritual do jantar, com mesa bem bonita e uma boa conversa presente. Pode ser um círculo de dois ou, quando vêm os amigos, maior, cheio de boas energias. Sempre tive isto na minha infância. Ponto pra minha mãe, que sem nenhuma teoria e com grande sabedoria, conduzia este grande círculo familiar. Talvez o grande aprendizado deste tal 2012 seja olharmos para trás e resgatarmos as cirandas de roda que sempre nos moveram e que roubamos de nós mesmos nas correrias da vida.