terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Impermanência

Eu fui numa peça de teatro no ano passado que me marcou muito. Chamava-se "A Alma Imoral" e retratava, através de um monólogo, o livro do rabino Newton Bonder. Na peça, a atriz se dizia uma judia budista, ou algo assim. Eu tenho cada vez menos convicção de que religião eu sou de fato. Talvez eu não seja de nenhuma, ou um pouco de todas. Tendo, fortemente, a simpatizar com alguns conceitos budistas. Li alguns livros, conheci pessoas bacanas e visitei alguns templos. Estou até provocada a fazer viagens mais distantes neste mundo desconhecido, no sentido literal da frase. Um dos conceitos budistas que mais me chama a atenção é a questão da impermanência. Fomos "talhados" para acreditar que as coisas duram para sempre. O amor, os amigos, a vida. Se eu descubro quem escreveu a frase "e foram felizes para sempre", juro que eu pego. Ou a pessoa vivia num mundo rosa ou estava sendo bem irônica. Pois bem. Não duram. Na verdade, não nasceram para durar. Estamos aqui para cumprir um ciclo e, de preferência, para sairmos melhores do que entramos ao final dele. Não só na vida, mas em cada uma de nossas relações. Óbvio que amores maduros, que resistem ao tempo com respeito e companheirismo são lindos. Mas são verdadeiros achados. Amigos, idem. Eu tenho muitos conhecidos e poucos amigos de verdade. E tenho conseguido, felizmente, fazer novos diante da impermanência da minha vida nos últimos tempos. Tendo a achar que nos disseram que as coisas eram para sempre para que não sofrêssemos, para que pudéssemos acreditar que se ficássemos assim, quietinhos, embaixo da cama, não seríamos descobertos e continuaríamos numa mesma frequência. Nem mais nem menos. Aliás, eu conheço um monte de gente que tenta viver assim. Mas não adianta. O mundo ao redor do "debaixo da cama" muda, é impermanente. Agora que o fim de ano está chegando (chegou?) eu tenho questionado uma série de coisas. A origem dos rituais natalinos, a impermanência do tempo, que se esvai cada vez mais rápido, e o quanto desperdiçamos nossas vidas. Com bobagens, medos, minhocas da cabeça e sabotando nossa felicidade quando ela está ali, batendo na porta. Podia ser mais fácil. Eu continuo tentando. Alguém me acompanha?