sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quem nunca.

Dia destes eu assisti num filme um diálogo clássico da filha cobrando a mãe por ter ficado com seu pai apesar dele tê-la traído. Rancorosa, magoada, ela, a filha, comentou que a mãe não tinha o direito de ter feito de conta que nada aconteceu. Que não poderia ter ficado com ele e que se envergonhava por todos saberem da história, menos ela. Eis que a mãe, no auge de sua maturidade (e beleza), conta a ela que optou por ficar com o marido apesar do erro dele, mas acima de tudo porque optou por olhar para tudo de bom que eles tinham construído juntos ao longo de muitos anos. Longe de querer defender as traições e seus traidores (eu acho que são os que mais sofrem), acho muito difícil conseguirmos fazer este exercício. O de olhar o todo justo em situações extremas. Hoje tive uma conversa muito franca com algumas pessoas sobre erros e suas repercussões. Os erros são chatos, destroem nossas auto-estimas e tiram como um tampão toda uma credibilidade que construímos a conta-gotas. Mas, humanos que somos, erramos. Se não aconteceu, vai acontecer. Se já aconteceu, pode acontecer de novo. Ok, de preferência, que sejam erros novos. Repetir o mesmo erro é perder tempo. Na verdade, se fôssemos realmente perfeitos, desconfio que não teríamos motivos para estarmos aqui. Nas nossas pequenas imperfeições moram, às vezes, grandes belezas. A sarda do rosto que alguns tanto odeiam são, muitas vezes, o seu charme. O ponto não é não errar, mas saber o que fazer diante do erro, agindo como gente grande e enfrentando o bicho de frente. Tão fácil se queixar, colocar a culpa no outro, choramingar, fazer de conta que nada aconteceu, esconder-se embaixo da cama. Quantos de nós já não assistiu de camarote crises ocultas intocáveis que, tempos depois, viraram grandes e desastrosas tempestades? Mexer na ferida, conversar sobre o assunto e chegar na sua raiz são males (ou bens) necessários para a nossa evolução. Mas como fazer sem taxar, julgar, machucar ou bloquear? Que atire a primeira pedra quem nunca.