domingo, 13 de maio de 2012

Mulheres possíveis.


Semana passada eu fui no lançamento do segundo livro da Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro, "Mulheres na jornada do herói - pequeno guia de viagem". Em formato de "diário de bordo, a obra resgata as histórias de mulheres reais do primeiro livro, todo construído com base no modelo mitológico da jornada do herói, de Joseph Campbell. Desta vez, de modo ainda mais simples, elas nos convidam para viagens para a qual somos convidados (as) diversas vezes ao longo das nossas vidas. Viagens para quem quer correr risco e ousar. Geralmente, acontecem de forma inesperada, como uma grande ruptura ou um grande empurrão da vida e nos leva rumo ao desconhecido. Separações, doenças, mudanças pessoais e profissionais, descobertas de novos talentos. Todas estas podem ser possíveis jornadas. E, mesmo com a palavra herói / heroína acompanhando, em tese, os corajosos viajantes, nem sempre o que se vê / vive no percurso é assim tão digno de contos de fadas. Tem dor, um medo que paraliza, mestres, dragões e ameaças, e exige, a cada passo, uma boa dose de disciplina, educação e paciência. Tem a tal estação da "situação limite", um verdadeiro rito de passagem que, segundo as autoras, te faz morrer e renascer, se perder para se reencontrar. Até chegar no bliz, no santo graal, e num espaço novo onde tudo se ressignifica e, então, recomeça. Não tem fórmula nem guia de viagem que sirva para cada jornada. Cada viajante vai construindo o seu, errando, aprendendo, caindo e levantando. E aí é que está a grande beleza do caminho. Eu lembrei demais de muitas mulheres com esta história, principalmente nesta semana tão marcante de "Dia das Mães". Mesmo sem assistir televisão, me vi bombardeada por uma série de mensagens marcantes e lindas que valorizam as corajosas criaturas que colocam ou criam novos seres no mundo. De um jeito bem heróico. Heróico demais, às vezes. Agora que estou entrando para o lado de cá, confesso que me sinto um pouco "impostora" diante deste tal "mundo rosa" da maternidade. Parece que ser mãe é sempre bem igual, sempre lindo de morrer. Todas sentem a mesma coisa, sorriem o tempo todo, estão 100% realizados com esta que foi a única tarefa para a qual foram talhadas na vida. Vejo a maternidade como algo bem heróico, sim. Pela coragem de encarar a jornada. De embarcar neste território desconhecido, com fadas e dragões, e de sair inteira do outro lado, ainda que nem sempre com a maquiagem irretocável. Tenho visto muitos filmes, lido muitos blogs que contam o "lado B" da maternidade, com muito humor e verdade. Nada de terror, calma. Mas muito de um mundo real. De mulheres reais que têm bem mais a ver com as minhas amigas mães do que com as criaturas intocáveis dos contos de fada. Guerreiras que ralam no trabalho, que fazem 1000 coisas ao mesmo tempo, que sentem culpa, têm dúvidas e mil vidas paralelas para administrar. E conseguem, cada uma do seu jeito, levar a vida. Pra mim, mãe tem que ser, acima de tudo, é mulher possível. Isto inclui uma carga grande de medos, de erros, acertos, situações inesperadas e nenhuma fórmula pronta para "guiar a viagem". E é aí que está a grande beleza da coisa. Nem uma criança é igual a outra, assim como nenhuma mãe precisa se encaixar em manuais para "dar certo". Senão perde a poesia e a natureza da coisa. Sei que minha nova jornada está recém começando. Meia dúzia de roupas na mochila e uma leve ideia de para que lado devo seguir. Estou curiosa, ansiosa e ainda me preparando para colocar o pé na estrada, de forma bem feminina e real. Sem abrir mão dos outros percursos que já percorri e dos outros tantos que espero que venham por aí. Enquanto isto, observo, curiosa, as histórias de cada uma destas mulheres corajosas que constroem suas jornadas com seus filhotes, sem manuais e ainda assim com muita maestria. A todas elas, todo o meu carinho e admiração. 

Quer saber mais sobre o livro da Cris e da Bia? http://www.ofemininoeosagrado.blogspot.com.br/