sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cartas na rede

Quando eu tinha uns 15 anos, meu namorado na época foi fazer faculdade em Porto Alegre. Eu ainda morava no interior do RS e falávamos por telefone (eventualmente, porque era caro) e por carta. Sim. Aquele papelzinho branco cheio de palavras a caneta dentro de um envelope, enviado pelo correio. Era bem legal o ritual de esperar a tal carta chegar e saber das novidades. Ainda falando do TEDx Da Luz em São Paulo, "me caíram os butiás do bolso*" com a apresentação de Johanna Blakley, especialista em tendências. Ela falou do fim dos gêneros, do quão defasadas estão as pesquisas que ainda usam categorias demográficas. Hoje, sua faixa etária, faixa salarial e saber quantas geladeiras você tem em casa diz muito pouco sobre você. Mas basta entrar no Facebook para, em alguns segundos, descobrir o que alguém está pensando ou sentindo. Mais ainda, as redes sociais conectam as pessoas de forma quase instantânea. Tenho usado mais o Facebook para "conversar" com pessoas, por chat ou através de comentários que o próprio Skype, telefone ou SMS. Parece que eu estou mais próxima delas quando falo depois de "tirar uma febre" dos seus estados de espírito. Segundo Jaohanna, no TED, nos conectar com pessoas de acordo com nossos interesses faz muito sentido. E a mídia não precisa mais fazer esta conexão. Talvez ela nem sirva mais para este propósito. Nas redes sociais, tem o que eu gosto. Monitorado. As "taste communities" aproximam pessoas por valores interesses compartilhados. E isto fala muito de você. Saber quais as coisas pelas quais as pessoas se apaixonam, o que elas fazem no tempo livre, isto sim faz muito sentido. Talvez não estejamos mais trocando cartas. Eu, como boa nostálgica, ainda tenho o hábito de enviar postais quando viajo, para não perder o hábito. Mas tenho a sensação de que estamos retomando a proximidade com as pessoas simplesmente utilizando novas formas de postar nossos sentimentos. Mudou o meio. Não a nossa necessidade de falarmos. A diferença é que agora temos espectadores acompanhando nossas vidas. O que, para mim, ainda soa meio estranho.

* "me caíram os butiás do bolso" é uma expressão beeeeeeem gaúcha. Butiá, pra quem não sabe, é uma frutinha amarela, pequena, geralmente usada para fazer "licor de butiá". A expressão representa surpresa, espanto. Imagino a cena que deu origem à frase: alguém com os bolsos cheios de butiás tomando um susto tão grande por alguma coisa que deixa todos caírem no chão. A expressão "correta" mesmo é "me caiu os butiás do bolso". Mas dei uma ajeitada pra não ficar assim tão feio :)