quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Medo de escuro

Nós crescemos com o tal mito de que no escuro é que as coisas feias acontecem. Lá vivem os monstros mais horrososos que habitam nossa imaginação. Depois que nos tornamos maiores, o escuro continua nos atormentando. Agora estão na moda os livros que falam do nosso lado sombra. Afinal, somos todos sombra e luz. E geralmente as pessoas têm o dom de colocar o dedo na ferida e nos apontar o que temos de ruim. Nós mesmos fazemos isto o tempo todo. Talvez mais que todo mundo. Ontem eu recebi de uma amiga um texto que desmistificou um pouco de tudo isto. O texto, chamado "Our deepest fear", de Marianne Williamson, fala sobre o quanto é difícil para nós aceitarmos nossa luz. Receber um elogio, saber e ficar à vontade com o que temos de melhor, deixar esta energia boa fluir sem vergonha. É na luz que as coisas se revelam de fato. Não dá pra esconder. As crianças, seres mais puros que existem, aceitam suas qualidades numa boa e sabem retribuir com generosidade um elogio sincero. Por isto são tão radiantes. Mas à medida que o tempo passa, aprendem que isto ou aquilo é feio e aí a luz vai se apagando. Reconhecer o que temos de ruim é um exercício importante. Ter medo do escuro nos ajuda a termos respeito por nós mesmos. Mas na hora de acender a luz, aí sim o bicho pega.

Reciclos

Eu já falei sobre o fim do ano e sobre o simbolismo deste tal recomeçar. Mas tem outros recomeços que estão me intrigando nos últimos tempos. Não sei quanto a você, mas eu tenho a sensação de que tem muita coisa se fechando e muitas novas acontecendo. Não só comigo, mas com várias pessoinhas ao meu redor. Um punhado delas, incluindo algumas bem próximas, está terminando relacionamentos. Separações doloridas, de comum acordo, previsíveis ou não. Muita gente. No campo profissional, muitas criaturas estão questionando o sexo dos anjos e procurando encontrar uma luz no fim do túnel, um novo desafio que ajude a brilhar o olho de novo. Fechamentos de ciclos. E tem novos ciclos começando pra um outro tanto. Tem o ciclo dos bebês. Sim, pelo menos umas dez pessoas ao meu redor tiveram ou estarão tendo bebês nos próximos tempos. Quer símbolo maior de renovação? O mais curioso é que estas pessoinhas não têm um padrão sequer parecido e algumas delas nem pensavam no assunto. Aí aconteceu. Ok, ok, antes que você pergunte, novos amores também estão na lista. Ufa. Algumas pessoas estão se permitindo e investindo. A Cecília Meireles falava que é preciso dos deixar podar para voltarmos inteiros. Acho que os rituais são fundamentais para marcar as passagens nas nossas vidas. Vivemos em ciclos. Senão a gente não aguenta. Há quem diga a doença é uma forma de purificação e que nunca saímos iguais depois de passarmos por ela. Pode fazer sentido porque retornamos mais fortes de uma vivência nova. Pelo menos mais experientes. Recomeçar dá frio na barriga. Mas nos faz crescer. O importante é voltarmos sim diferentes, mas inteiros. Senão não vale.