quinta-feira, 23 de maio de 2013

ACV de mim.


“Diga-me com quem andas que eu te direi quem és.” A máxima que fez parte da minha infância faz bastante sentido na medida em que somos um pedaço dos muitos com os quais convivemos. As pessoas do passado, aquelas com quem eu interajo hoje e as que eu ainda vou conhecer têm muita responsabilidade sobre o “produto” que eu me torno a cada dia, enquanto ente mutante que sou. A “análise de ciclo de vida de produto - ACV”, tão usada nas indústrias nos dias de hoje, traz um pouco este propósito. Sugere que, num recorte do momento, como num exame de sangue, tenhamos detalhados todos os componentes que formam um produto, rastreando, da origem ao seu fim, processos, impactos etc. Com esta análise em mãos, as empresas têm a rara oportunidade de olhar para os dados e definir como aprimorar aquele recorte para, numa segunda oportunidade, construírem produtos e processos melhores, menos impactantes, mais interessantes, rentáveis, bonitos, enfim. Vale pra vida. Um exercício curioso, que pode ser colocado no papel. Lembrar dos meus amigos de infância, dos lugares onde eu estive, dos hábitos que eu cultivei, dos livros que li, do que eu comi, dos esportes que eu pratiquei, das músicas que me embalaram e, claro, do DNA que a minha família me emprestou, tudo isto, somado, me dá, hoje, um retrato da Andréa. Mas eu posso mudar muito disto. Tenho duas pernas para me mover, palavras para me expressar e vontade de promover mudanças, componentes de sobra para um grande laboratório de mim mesma. O retrato que terei em mãos daqui a algum tempo terá, claro, algumas pitadas de destino e do inesperado. Mas muito, muito mesmo, pode ser desenhado de um jeito diferente desde já. Tem a ver com fazer escolhas, com dizer não – e também com dizer sim, com se abrir para o novo, o diferente, com experimentar, experenciar, conhecer gente, se entregar. A essência, aquela que formamos nos primeiros anos, estará lá, intacta, brilhante. E, junto dela, novos “subprodutos” podem nos surpreender. Os pedaços soltos que formam a nossa história estão inteirinhos nas nossas mãos, prontos para serem lapidados e colados, num grande e curioso mosaico que é a nossa existência.