sábado, 18 de maio de 2013

As chaves do Oswaldo.


Eu fiquei quebrando a cabeça para saber qual deveria ser o primeiro post do resto desta nova jornada, um ano depois. Ano sabático do blog, coisa forte, nada a ser dito. E tudo o que eu imaginava como um bom recomeço parecia não ser relevante o suficiente para a tal “volta”. Daí eu vi que se continuasse assim, nada seria escrito. E resolvi começar a escrever nos últimos dias as coisas que me intrigavam justo neste período. As outras todas, de um ano atrás até aqui, ficaram meio que pra trás. Fazer o que. Impermanência, desapego, enfim.
Pois bem, uma das coisas que tem me intrigado nos últimos tempos são as chaves do Oswaldo. O Oswaldo é um cara bacana que apareceu na minha vida no ano passado e, assim, acabou ficando. Sorridente, inteligente, generoso, provocador, é o “cara das redes” e prega, na teoria e na prática, um mundo compartilhado, mais dividido, menos linear, digamos. Ok, “prega” é um verbo meio forte, até porque ele não tenta convencer ninguém a nada. Simplesmente chega e compartilha o que vê, experimenta.
Este papo todo de um mundo mais co-criado, onde os papeis se auto-regulam (como na natureza) e tudo flui parece conversa pra boi dormir, como dizem na minha terra. Mas, não. E há teorias e algumas boas práticas sobre isto, felizmente.
Justo para “experimentar” esta coisa toda, recentemente o Oswaldo criou uma história muito bacana. Dividiu em pedaços uma casa super astral, na Vila Madalena (bairro charmoso aqui de SP) para que diferentes pessoas pudessem se instalar por lá e, dependendo do número que demonstrasse interesse, dividissem por igual as despesas do espaço. Mais ainda, estas mesmas pessoas, que já começaram a surgir – e que toparam a ideia – têm a missão de se auto-regularem por lá, organizando a agenda do espaço e decidindo, juntas, o que tem a ver com a casa que tipo de atividades pode acontecer, quando, como e com quem. Não tem um dono. Tem um grupo de criaturas ousadas que toparam fazer daquele espaço um espaço seu – e também “nosso”. A coisa já começou. Claro, com um empurrão do Oswaldo, mas começou. Para simbolizar tudo isto, ele, o Oswaldo, tirou muitas cópias das chaves e as distribuiu para estas pessoas que, a partir de então, são co-responsáveis pelo espaço. Tão simbólico quanto a entrega das chaves da cidade para pessoas importantes da sociedade. Alguém lembra? E não para por aí. As mesmas chaves daqui de São Paulo serão entregues às pessoas de uma casa com este mesmo espírito que já existe em Porto Alegre, numa rua, vejam só, chamada Liberdade. No meio disto tudo, têm surgido situações pitorescas e muito animadoras. Em algumas das “entregas das chaves”, o Oswaldo recebeu, em troca, as suas chaves de casa da pessoa. Teve até quem quis entregar a ele as chaves do carro, num gesto amoroso de “entendi o seu recado, amigo.”
Quantas vezes nós não temos ideias assim, tão doidas e maravilhosas? Quantas vezes não imaginamos espaços abertos com pessoas que fazem sentido, a construção de novos mundos dentro dos nossos mundos possíveis. E quantas foram as vezes que nós mesmos desistimos, por vergonha, medo, por não sabermos, enfim, como começar? Pois bem, graças a alguns corajosos malucos, vejo pipocar por aí iniciativas impressionantemente simples e deliciosamente transformadoras. Abrir mão do nosso senso crítico castrador, vez ou outra, tem tudo para revelar muita coisa linda logo ali, do outro lado da porta.  

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