Eu fiquei quebrando a cabeça para
saber qual deveria ser o primeiro post do resto desta nova jornada,
um ano depois. Ano sabático do blog, coisa forte, nada a ser dito. E
tudo o que eu imaginava como um bom recomeço parecia não ser
relevante o suficiente para a tal “volta”. Daí eu vi que se
continuasse assim, nada seria escrito. E resolvi começar a escrever
nos últimos dias as coisas que me intrigavam justo neste período.
As outras todas, de um ano atrás até aqui, ficaram meio que pra
trás. Fazer o que. Impermanência, desapego, enfim.
Pois bem, uma das coisas que tem me
intrigado nos últimos tempos são as chaves do Oswaldo. O Oswaldo é
um cara bacana que apareceu na minha vida no ano passado e, assim,
acabou ficando. Sorridente, inteligente, generoso, provocador, é o
“cara das redes” e prega, na teoria e na prática, um mundo
compartilhado, mais dividido, menos linear, digamos. Ok, “prega”
é um verbo meio forte, até porque ele não tenta convencer ninguém
a nada. Simplesmente chega e compartilha o que vê, experimenta.
Este papo todo de um mundo mais
co-criado, onde os papeis se auto-regulam (como na natureza) e tudo
flui parece conversa pra boi dormir, como dizem na minha terra. Mas,
não. E há teorias e algumas boas práticas sobre isto, felizmente.
Justo para “experimentar” esta
coisa toda, recentemente o Oswaldo criou uma história muito bacana.
Dividiu em pedaços uma casa super astral, na Vila Madalena (bairro
charmoso aqui de SP) para que diferentes pessoas pudessem se instalar
por lá e, dependendo do número que demonstrasse interesse,
dividissem por igual as despesas do espaço. Mais ainda, estas mesmas
pessoas, que já começaram a surgir – e que toparam a ideia –
têm a missão de se auto-regularem por lá, organizando a agenda do
espaço e decidindo, juntas, o que tem a ver com a casa que tipo de
atividades pode acontecer, quando, como e com quem. Não tem um dono.
Tem um grupo de criaturas ousadas que toparam fazer daquele espaço
um espaço seu – e também “nosso”. A coisa já começou.
Claro, com um empurrão do Oswaldo, mas começou. Para simbolizar
tudo isto, ele, o Oswaldo, tirou muitas cópias das chaves e as
distribuiu para estas pessoas que, a partir de então, são
co-responsáveis pelo espaço. Tão simbólico quanto a entrega das
chaves da cidade para pessoas importantes da sociedade. Alguém
lembra? E não para por aí. As mesmas chaves daqui de São Paulo
serão entregues às pessoas de uma casa com este mesmo espírito que
já existe em Porto Alegre, numa rua, vejam só, chamada Liberdade.
No meio disto tudo, têm surgido situações pitorescas e muito
animadoras. Em algumas das “entregas das chaves”, o Oswaldo
recebeu, em troca, as suas chaves de casa da pessoa. Teve até quem
quis entregar a ele as chaves do carro, num gesto amoroso de “entendi
o seu recado, amigo.”
Quantas vezes nós não temos ideias
assim, tão doidas e maravilhosas? Quantas vezes não imaginamos
espaços abertos com pessoas que fazem sentido, a construção de
novos mundos dentro dos nossos mundos possíveis. E quantas foram as
vezes que nós mesmos desistimos, por vergonha, medo, por não
sabermos, enfim, como começar? Pois bem, graças a alguns corajosos
malucos, vejo pipocar por aí iniciativas impressionantemente simples
e deliciosamente transformadoras. Abrir mão do nosso senso crítico
castrador, vez ou outra, tem tudo para revelar muita coisa linda logo
ali, do outro lado da porta.
que ideia barbara amiga! depois me conta mais. bjao
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