Faz três meses que eu não escrevo no
blog. Parece que nunca é a hora e quanto mais o tempo passa, menos parece ser o momento de retomar. "Teria que ser algo impactante, relevante", penso, com minha auto-crítica saindo pelos poros. Há três meses eu escolhi ficar mais quietinha, nas palavras,
nas relações, observando mais, agindo menos. Aprendi a não apurar
as coisas e a observar tudo o que semeei ao longo de trinta e poucos
anos para ver o que começaria a brotar. Me tornei até um pouco
estranha pra mim mesma. Menos Pollyana, menos disponível, mais
contemplativa. A jornada do “The artist way”, curso de
criatividade de doze semanas que vivi no fim do ano, certamente,
contribuiu. Um fim de ano que parece que não acabou também. E eu
aos poucos fui espiando tudo o que acontecia, à espera de alguma
pista. Ei-la. Chama-se “About time” ou “Uma questão de tempo”,
um filme que caiu no meu colo na semana passada e que assisti no
sábado à noite. Eu sequer sabia que ele estava no cinema agora, no
fim do ano. Tenho ido pouco ao cinema. Trata-se de um romance
inocente que teria tudo para ser só mais um filme. O fato é que o
enredo me tocou. Não sei quem é o diretor, nem busquei saber do
roteirista. Mas me enxerguei vivendo o dilema do protagonista que,
numa grande brincadeira da vida (um presente que os homens da sua família recebem aos 21 anos), teria o dom de voltar no
tempo e reviver o que quisesse. Assim, quase que um jeito
ilimitado, ele poderia viver o hoje, ousar mais amanhã e ir se
reinventando ao longo dos dias revividos. Até que a
chegada dos filhos muda tudo. E abre, ao mesmo tempo, novas
possibilidades. Alguma semelhança com a vida real? Pois bem, com a
simplicidade de um roteiro bem cotidiano, a narrativa desdobrou
questões bem humanas e trouxe, com a profundidade merecida, a beleza das
relações. Falou de tempo, da falta de tempo, do efêmero e do
quanto pequenos gestos são capazes de mudar o todo. Ainda impactada
pelo filme, recebi outro presente no domingo à noite. A leitura, em
primeira mão, de um texto que se transformará em
uma peça de teatro. Atriz incrível, pessoas incríveis, um texto
rolando e uma noção de tempo infinito justo num domingo à noite,
aquele período que parece sumir do calendário sem deixar nem um
bilhete pelo caminho. Meu fim de domingo durou uma eternidade. E
acabou em segundos. A peça ainda é um desenho. Mas já está
viva no coração da grande atriz que a escolheu. Não posso abrir
mais. Ainda. Mas posso dizer que estes dois textos mudaram minha própria
narrativa pessoal. E casaram como uma luva com meu momento
contemplativo, a ponto de me fazerem ter vontade de voltar a
escrever. Assim, sem rascunhar. Como uma
viagem daquelas que temos vontade de compartilhar com quem a gente
ama, fiquei com vontade de dividir um pedaço da minha experiência
através do filme com uma dezena de pessoas. Como fiquei bem a fim de
levar pela mão amigos queridos à peça, que deve ser parida em
meados de julho. Prometo mandar notícias. Sobre o mundo rosa – e
os outros tons que tenho visto por aí, sobre o que tem me provocado,
sobre a peça, sobre o tempo, sobre a minha desconfiança cada vez
mais forte de que devemos colocar nossas energias no resgate daquilo
que é essencial. E que o essencial é bem simples. Se você tiver
tempo, dedique duas horinhas do seu ao filme. Sozinho ou bem acompanhado, simplesmente vá. Sem mais perguntas, sem planejar muito.
Às vezes as boas surpresas vêm mesmo assim, totalmente despidas de
glamour e expectativas.
Um viva!!! aos seres emocionais que somos. Que as nossas listas não matem o essencial emocional em cada um de nós.
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