Semana passada eu conheci uma menina
com nome de flor. Falamos sobre a vida, sobre as nossas inquietudes e
sobre nossas vontades de voltarmos a exercitar lados que ficaram
adormecidos. Eu super me empolguei quando ela comentou que participou
de algumas dinâmicas de conversas com tricô na roda. Enquanto se
tricota (e aí desvia-se o cérebro, abrindo um lado criativo e
despretencioso), flui a conversa e surgem conceitos e novas ideias.
Pode ser tricô, origami, desenho, pintura de mandalas. Cada um usa
um jeito. Todos válidos e igualmente lúdicos. Daí surgiu uma fala
dela da vontade de voltar a escrever. Segundo ela, o dom da escrita
era algo bem apurado na infância, até que um dia ela mostrou um
texto para a avó que, muito rígida, disse que estava péssimo. O
que aconteceu? Hoje, 20 anos depois, sua auto-crítica ainda não
permitiu que tenha voltado a escrever. Aquela voz interna da avó
somada ao olhar de repressão simplesmente castrou naquela menina,
agora mulher, toda e qualquer coragem de colocar no papel suas
experiências. Quantas vezes não fizemos isto com nossos filhos,
amigos, com nossa equipe? Eu mesma, com meu jeito brincalhão de falar, já disse para a filha de uma amiga que o desenho dela estava "feio". Claro, ela não entendeu como ironia e não achou nada divertido. Um desastre! Então tá, como não matar as nossas crianças
internas e, ainda assim, trabalharmos em cada uma delas seu senso
crítico, em busca de uma qualidade genuína, que sempre pode ser
melhorada? Uma pista: tem a ver com o jeito de falar, desconfio. E, claro, com o queridíssimo paradigma do cuidado, do Bernardo Toro. Cuidar não custa nada. E vale muito. Assim, fantasmas com potencial de nos atormentarem por toda a vida
podem virar amigos imaginários nos ajudando a exercitar o que temos
de melhor, livres e entregues às nossas verdadeiras vocações. Quem
topa começar?
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