“Diga-me com quem andas que eu te
direi quem és.” A máxima que fez parte da minha infância faz
bastante sentido na medida em que somos um pedaço dos muitos com os
quais convivemos. As pessoas do passado, aquelas com quem eu interajo
hoje e as que eu ainda vou conhecer têm muita responsabilidade sobre
o “produto” que eu me torno a cada dia, enquanto ente mutante que
sou. A “análise de ciclo de vida de produto - ACV”, tão usada nas
indústrias nos dias de hoje, traz um pouco este propósito. Sugere que, num
recorte do momento, como num exame de sangue, tenhamos detalhados todos os componentes que formam um produto, rastreando, da origem ao
seu fim, processos, impactos etc. Com esta análise em mãos, as
empresas têm a rara oportunidade de olhar para os dados e definir
como aprimorar aquele recorte para, numa segunda oportunidade,
construírem produtos e processos melhores, menos impactantes, mais
interessantes, rentáveis, bonitos, enfim. Vale pra vida. Um
exercício curioso, que pode ser colocado no papel. Lembrar dos meus
amigos de infância, dos lugares onde eu estive, dos hábitos que eu
cultivei, dos livros que li, do que eu comi, dos esportes que eu
pratiquei, das músicas que me embalaram e, claro, do DNA que a minha
família me emprestou, tudo isto, somado, me dá, hoje, um retrato
da Andréa. Mas eu posso mudar muito disto. Tenho duas pernas para me
mover, palavras para me expressar e vontade de promover mudanças,
componentes de sobra para um grande laboratório de mim mesma. O
retrato que terei em mãos daqui a algum tempo terá, claro, algumas
pitadas de destino e do inesperado. Mas muito, muito mesmo, pode ser
desenhado de um jeito diferente desde já. Tem a ver com fazer
escolhas, com dizer não – e também com dizer sim, com se abrir
para o novo, o diferente, com experimentar, experenciar, conhecer
gente, se entregar. A essência, aquela que formamos nos primeiros
anos, estará lá, intacta, brilhante. E, junto dela, novos
“subprodutos” podem nos surpreender. Os pedaços soltos que
formam a nossa história estão inteirinhos nas nossas mãos, prontos para serem lapidados e colados, num grande e curioso mosaico que é a nossa
existência.
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