domingo, 30 de janeiro de 2011

Corrente do bem

Eu ando bem mexida com as histórias das chuvaradas pelo Brasil. Quase não assisto TV (aliás, não tinha nenhuma até a semana passada, quando herdei um exemplar), mas é impossível passar imune à enxurrada de informações visuais. O que me chamou a atenção nesta tristeza toda foi a capacidade de superação das pessoas diante das desgraças. Parece que surge uma força não sei de onde e os seres humanos, nestas horas, lembram que são gente e que podem se ajudar. Surge uma corrente do bem. Todo mundo reconstruindo, confortando, ajudando. Parece que estamos assistindo a um filme. Mas é real. Em São Paulo, aparentemente, as pessoas não têm tempo pra se ajudarem muito. Talvez nem seja má vontade. Falta tempo e a percepção do quanto pode ser simpático e agradável fazer algo de bom para um vizinho ou mesmo um desconhecido. Mas algumas criaturas nos últimos tempos têm que mostrado que "tem jeito sim", como eu costumo dizer. Dia destes tive problema com meu carro. Em segundos, como se estivessem de plantão dentro dos boeiros, pipocaram pessoas dispostas a ajudar. Tudo muito rápido e espontâneo. A menina de um casal que parou para ajudar cuidou da bicicleta do outro voluntário que apareceu também. No posto de gasolina em que eu aguardava o guincho, fui super paparicada pelos frentistas, preocupados com meu bem-estar pelo calor da tarde. Ontem, espiando apartamentos por aí, um casal super simpático, com dois filhinhos, parou quando nos viu anotando telefones nas portarias de um prédio e comentou que estavam vendendo o apartamento deles. Não sabiam quem éramos nem o que fazíamos. E nos convidaram para subir e expuseram a casa e suas vidas assim, com uma tranquilidade e amorosidade absurda. Noutra casa, fomos praticamente obrigados a tomar um café. As pessoas estavam felizes porque tinham visita. Taxistas do bairro, porteiros, idem. Contentes pela oportunidade de ajudar. Vibrando com o nosso momento. Por outro lado, um senhor sem noção de outro prédio veio tirar satisfações enquanto falávamos com o porteiro para saber quem éramos (leia-se: de que família, que linhagem, que profissão, estirpe, raça, partido político). Comentou que parecia muito estranho um casal sair fazendo perguntas para os porteiros assim, "sem corretor". Pobre homem. Ele até me tirou do sério, eu confesso. Resgatou um pouco da Deinha primitiva e furiosa. Mas só por algum tempo. Colocando na balança estas poucas histórias que acabo de contar, dá até pena de pessoas assim, que não conseguem enxergar a grandiosidade de trocar, interagir, ajudar e reaprender conceitos e experiências através dos outros.

 * Tomei da liberdade de ilustrar este post com a foto de uma jóia que eu curti horrores quando vi. O pingente foi desenhado pela Patrícia Centurion, que tem um atelier de jóias e design divino em São Paulo. Eu a conheci durante o último TED Women e adorei a energia do lugar e das peças que ela desenha. Pra mim, trata-se de uma jóia de verdade por "n" motivos. Por ser exclusiva, simples, clean, por ter sido desenhada por alguém tão especial e, claro, por representar uma flor de lotus, símbolo da elevação e expansão espiritual. Tudo de bom.

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