Faz três anos e seis meses que "abandonei" meu blog. Chamava-se "Mundo rosa de Deinha" e o título era uma figura de linguagem. Meu mundo tem muitas cores e é nesta riqueza de tons e possibilidades que venho me reconstruindo nestes últimos tempos. Migrei para o Medium. Voltei a escrever no draft. Se quiseres me seguir, aqui estão os caminhos das pedras. Decidi não tirar do ar tudo o que tinha escrito nestes anos de blog porque não dá para apagar o passado. O que escrevi /vivi, sou eu hoje. Só que ampliada.
Te espero.
Um abraço.
http://projetodraft.com/aprendi-tanto-que-seria-um-crime-nao-compartilhar-eis-as-quatro-teorias-que-me-transformaram/
Mundo Rosa de Deinha
domingo, 20 de agosto de 2017
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Férias para a alma.
Esta quem me contou foi o Helio, um amigo querido cheio de
histórias. Ele vai no mesmo barbeiro há anos. Destes bem tradicionais. Um senhorzinho
gente boa, que construiu o salão com base nas relações, esta coisa humana que
andou meio fora de moda e que parece, felizmente, dar sinais de que pode voltar. O
Helio foi para o exterior. E viu numa loja uma tesoura linda, grandona, destas
profissionais. Lembrou do Seu Barbosa. Sim, ele, o barbeiro, se chama Barbosa. Trouxe todo
feliz e, no começo do ano, foi ao salão para entregar ao amigo. Eis que o Seu Barbosa não estava. Tinha tirado férias. "Que coisa
boa", pensou. Não lembrava de tê-lo visto sair de férias nestes anos todos. Alguns dias depois, voltou. Tesoura em punho e um
sorrisão na boca. Encontrou o Seu Barbosa. Mais sorrisos. Ainda mais depois de
receber um presente tão personalizado. Aí a curiosidade o fez perguntar
das férias. Pergunta de praxe. Para onde foi, como foi. Nordeste, uma praia,
montanha? Será que teria se aventurado no exterior, já que está
tão fácil nos dias de hoje? Feliz da vida, Seu Barbosa comentou que teve as
férias mais lindas que podia ter tido. Ficou em casa, com a mulher. Ela está
velhinha. Enxerga pouco. Ele trabalha muito. Se veem pouco. Aí ela pediu para
ele ficar com ela. E ele ficou. Fazendo nada, cozinhando, conversando. Ficaram ali, dias a fio, ali, do lado. Hoje, numa reunião com duas assessoras de
imprensa, falávamos sobre a Medicina. Elas comentaram o quanto os médicos que gostam de gente têm chamado a
atenção. Mas médico não devia gostar de pessoas? Não tem um quê de servir, de
ouvir, de acolher, de cuidar intrínseco à profissão? Parece que andamos
esquecidos de coisas bem essenciais. E os que se aventuram e criam coragem de
voltar às raízes têm dado aula. Sempre comentei que as crianças são grandes
professoras. Elas têm um entendimento do que realmente importa. Acho que
vale para os mais velhos. Na mesma sala de espera da clínica médica, hoje, um
senhor de 87 anos contou suas andanças pela vida. Falou da importância de se
fazer o que gosta, de cuidar do corpo desde jovem. Foi um maestro gentil e
amoroso na condução da conversa. Viveu o poder do agora. Estava inteiro, feliz,
compartilhando suas narrativas pessoais. Tinha todo o tempo do mundo. Desconfio que boa parte do que nos
alimenta como seres humanos tem a ver com nos reconhecermos em
histórias como as destes dois senhores. Com relembrarmos o quanto os médicos de família tinham um papel social ao irem nas casas, ao saberem das histórias de quem se entregava em suas mãos. Amo viajar. Amo a tecnologia. Mas sei que que tem horas que menos tecnologia e mais prosa nos transformam.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Uma questão de tempo.
Neste fim de semana eu recebi um
verdadeiro presente do Universo. Na verdade, foram dois. Um
reforçou o outro. Os dois têm a ver com o tempo. Com dar tempo para
que as coisas aconteçam. E com não perder tempo rascunhando a vida,
como já recomendava o grande Mario Quintana.
Faz três meses que eu não escrevo no
blog. Parece que nunca é a hora e quanto mais o tempo passa, menos parece ser o momento de retomar. "Teria que ser algo impactante, relevante", penso, com minha auto-crítica saindo pelos poros. Há três meses eu escolhi ficar mais quietinha, nas palavras,
nas relações, observando mais, agindo menos. Aprendi a não apurar
as coisas e a observar tudo o que semeei ao longo de trinta e poucos
anos para ver o que começaria a brotar. Me tornei até um pouco
estranha pra mim mesma. Menos Pollyana, menos disponível, mais
contemplativa. A jornada do “The artist way”, curso de
criatividade de doze semanas que vivi no fim do ano, certamente,
contribuiu. Um fim de ano que parece que não acabou também. E eu
aos poucos fui espiando tudo o que acontecia, à espera de alguma
pista. Ei-la. Chama-se “About time” ou “Uma questão de tempo”,
um filme que caiu no meu colo na semana passada e que assisti no
sábado à noite. Eu sequer sabia que ele estava no cinema agora, no
fim do ano. Tenho ido pouco ao cinema. Trata-se de um romance
inocente que teria tudo para ser só mais um filme. O fato é que o
enredo me tocou. Não sei quem é o diretor, nem busquei saber do
roteirista. Mas me enxerguei vivendo o dilema do protagonista que,
numa grande brincadeira da vida (um presente que os homens da sua família recebem aos 21 anos), teria o dom de voltar no
tempo e reviver o que quisesse. Assim, quase que um jeito
ilimitado, ele poderia viver o hoje, ousar mais amanhã e ir se
reinventando ao longo dos dias revividos. Até que a
chegada dos filhos muda tudo. E abre, ao mesmo tempo, novas
possibilidades. Alguma semelhança com a vida real? Pois bem, com a
simplicidade de um roteiro bem cotidiano, a narrativa desdobrou
questões bem humanas e trouxe, com a profundidade merecida, a beleza das
relações. Falou de tempo, da falta de tempo, do efêmero e do
quanto pequenos gestos são capazes de mudar o todo. Ainda impactada
pelo filme, recebi outro presente no domingo à noite. A leitura, em
primeira mão, de um texto que se transformará em
uma peça de teatro. Atriz incrível, pessoas incríveis, um texto
rolando e uma noção de tempo infinito justo num domingo à noite,
aquele período que parece sumir do calendário sem deixar nem um
bilhete pelo caminho. Meu fim de domingo durou uma eternidade. E
acabou em segundos. A peça ainda é um desenho. Mas já está
viva no coração da grande atriz que a escolheu. Não posso abrir
mais. Ainda. Mas posso dizer que estes dois textos mudaram minha própria
narrativa pessoal. E casaram como uma luva com meu momento
contemplativo, a ponto de me fazerem ter vontade de voltar a
escrever. Assim, sem rascunhar. Como uma
viagem daquelas que temos vontade de compartilhar com quem a gente
ama, fiquei com vontade de dividir um pedaço da minha experiência
através do filme com uma dezena de pessoas. Como fiquei bem a fim de
levar pela mão amigos queridos à peça, que deve ser parida em
meados de julho. Prometo mandar notícias. Sobre o mundo rosa – e
os outros tons que tenho visto por aí, sobre o que tem me provocado,
sobre a peça, sobre o tempo, sobre a minha desconfiança cada vez
mais forte de que devemos colocar nossas energias no resgate daquilo
que é essencial. E que o essencial é bem simples. Se você tiver
tempo, dedique duas horinhas do seu ao filme. Sozinho ou bem acompanhado, simplesmente vá. Sem mais perguntas, sem planejar muito.
Às vezes as boas surpresas vêm mesmo assim, totalmente despidas de
glamour e expectativas.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Os deuses, os artistas e as crianças em nós.
Ontem à noite eu tive mais uma rodada
reveladora na minha vida. Completamente sem tempo, arranjei tempo e
estou participando de dois grupos de estudo à noite. Num deles,
baseado no livro “The artist way”, tento resgatar minha alma
artista. No outro, o de ontem, junto com algumas corajosas mulheres,
estou estudando a mitologia. Mais especificamente, as deusas e sua
influência nas nossas vidas de simples mortais. E agora, como eu
paro tudo isto? Fiquei muito tempo sem escrever também pela falta de
tempo, mas principalmente pela falta de entendimento de tudo o que
tenho observado por aí. Tem paradigmas ditos consolidados se
dissolvendo, fichas caindo por todos os lados, gente se encontrando e
outros tantos se perdendo de um jeito bem sério. As grandes
instituições, as verdades absolutas, as certezas não são mais
assim, tão certas. E um espaço novo se abre. Como todo novo, dá
frio na barriga, mas traz consigo uma intensa possibilidade de
recomeço. Acompanho, de perto, alguns movimentos de entrega. E vejo
também muita gente grande virar criancinha assustada diante de
tantas possibilidades. Eis que ontem, me aproximando da história de
Afrodite, consegui conectar estes mundos que aparentemente não
deveriam se falar. Há pouco mais de um mês levei num fórum de
executivos a mitologia como forma de contar uma história. Ouvindo a
história de 40 decisores do mundo corporativo, cheguei na alma
pessoal de cada um deles (delas) que, sem cargos ou crachás,
trouxeram em suas falas aquilo que os alimenta como seres humanos que
são. Somos movidos por desafios, por projetos. Mas também pela
beleza, pela estética, pelo cuidado. Mais uma vez, não é "ou". É
“e”. Somos Afrodites (ou Vênus) e Marte (ou Aries) e é a soma
destas possibilidades dançando em nós que nos completa e preenche
um grande vazio existencial. Assim como me descubro em cada
encontro um pouco Artemis (livre, selvagem), sei da importância de
chamar uma Atena (intelectual, focada) ou Deméter (amorosa, mãezona)
em diferentes momentos da minha vida. A consciência de que todas
elas coexistem em mim (em nós) é o que liberta e nos reconecta com
nossas essências. O artista é exatamente isto. Tenho convicção de
que nascemos artistas. E o perdemos pelo caminho. Que temos
histórias, sonhos e jornadas muito próximas e que ao ouvirmos a
história do outro, nos escutamos. Ontem, na nossa roda de mulheres,
mais parecíamos menininhas, crianças atentas com olhos enormes e
brilhantes escutando as nossas próprias histórias refletidas
através dos mitos. Dia destes, recebi um vídeo do filósofo Clovis
de Barros no Jô. Já virou meio spam. Todo mundo fala sobre ele. Me
identifiquei em muitas das falas. No nosso papel no mundo de
permitirmos que as plantas das pessoas desabrochem. E no conceito bem
simples de que felicidade é um momento que não queremos que acabe.
Ontem o tempo voou. Desabrochei mais um tanto. E tenho desabrochado
através das histórias que escuto e vivo. E por meio de muitas e
generosas pessoas que dão mais vida e sentido à minha vida. Como
comentei com as meninas, vivo o momento mais exaustivo de todos os
tempos. E o mais intenso e feliz.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Estar-se preso por vontade.
Nunca
a frase do Legião Urbana fez tanto sentido pra mim. Inspirada no
original de Camões, "é querer estar preso por vontade", o
contexto apareceu na entrelinha de uma conversa com um ex-cliente, agora amigo. Ele acabou de se aposentar. E assistiu à
minha palestra no TEDx Laçador. Ficou mexido. Me escreveu. Me
contou coisas da vida, na sabedoria de quem viveu muito e segue
aprendendo. Entre muitas reflexões, falou que esteve recentemente
com ex-colegas do tempo do colégio. Todos na mesma fase da vida, se
reinventando depois de longas jornadas corporativas. Segundo ele, o
grande dilema desta etapa não está no adaptar-se às novas rotinas.
O medo não é o de sentir falta do trabalho, mas o de passar por
privação financeira. "Quanto mais cedo aprendermos que é
possível viver com menos, mais coragem vamos ter para fazer
aquilo que nos dá alegria de viver", contou. Tenho
exercitado mentalmente este conceito de liberdade. E ele é bem maior
que pegar uma mochila a qualquer momento e sair pelo mundo. Tem a ver
com a sensação de ser livre para recomeçar e com imaginar isto
possível todo dia de manhã, ainda que não o façamos. Com estar em
projetos de clientes porque eles também alimentam nossas almas, e
não somente porque precisamos deles para pagar as contas. Com
conviver com pessoas que tiram o melhor de nós e com escolher não
mais estar com outras tantas, que não acrescentam - e ainda
subtraem. Liberdade é um sentimento. Não necessariamente uma ação.
Ainda pensando a respeito das vidas corporativas, enxergo grandes
escravos de luxo por aí, pessoas que não podem sequer questionarem
as próprias carreiras porque jamais conseguirão ganhar nem perto do
que recebem no lugar atual. E têm contas proporcionais à
responsabilidade. Outros, por bem menos, tornam-se também escravos
de carnês.
Não pagar lhes tira a dignidade. Crédito é o seu cartão de
visitas. O dinheiro, meus caros, aprisiona. Nos dois extremos, com
igual crueldade. Mas pode também ser libertador. Falei na mesma
palestra do TEDx sobre o lucro admirável, aquele de empresas cuja
sociedade aplaude quando acontece. Usei como exemplo aquele amigo bacana que vibramos
quando dá certo na vida porque sabemos que fará bom uso do que produzir. Vai viajar, fazer cursos. Vai tornar-se uma pessoa
ainda mais bacana - e ainda compartilhar tudo por aí. Com
dinheiro na mão, o fluxo flui. Ninguém vai para o inferno porque é
capaz de gerar riqueza. Tem a ver com merecimento, com sermos
reconhecidos porque somos capazes de produzir coisas boas. Falando
ainda musicalmente, acho que o Frejat também resumiu muito bem esta história toda: "Eu
desejo que você ganhe dinheiro pois é preciso viver também. E
que você diga a ele pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de
quem."
Pra quem ainda não viu, segue o link da minha palestra no TEDx Laçador:
http://www.youtube.com/watch?v=3hdznmYhIzE&feature=youtu.be
Pra quem ainda não viu, segue o link da minha palestra no TEDx Laçador:
http://www.youtube.com/watch?v=3hdznmYhIzE&feature=youtu.be
sábado, 17 de agosto de 2013
A dor da separação.
Carolina, 9 meses, segue me ensinando.
Desta vez, minha grande professora me deu uma aula sobre a dor da
separação. Tinha lido já a história de que o bebê humano vive 9
meses dentro da barriga e 9 meses fora. Somente então, está próximo
de outro mamífero qualquer recém-nascido. É como se a saída da
barriga fosse só parte do processo da gestação. Totalmente
dependente, quase um apêndice da mãe, o bebê termina de ser
formado fora, mas bem dentro. Pois bem, eis que a minha pequena
começou a apresentar uns sintomas inquietos nas últimas semanas.
Passou a acordar assustada à noite e a choramingar mais a minha
presença. Acabei chegando a alguns artigos que falam na tal “dor
da separação”. A grosso modo, a dor acontece mais ou menos
quando o bebê descobre que ele e a mãe não são a mesma coisa.
Passa a ter medo dela desaparecer. A fusão, antes tão intensa,
começa a se desfazer e ele, o bebê, passa a descobrir que existe
por si, que é um ser humano integral, e não parte da mãe. Isto
dói. Dá medo. Mas faz crescer. É, portanto, uma fase fundamental.
Para a mãe, que tem que estar perto, é preciso passar segurança,
tranquilidade. Para os demais que convivem com a criança, também.
Não dá mais para voltar para o útero. O próximo estágio é ir em
frente, caminhar, descobrir o mundo. Dói mais pra mãe, às vezes.
Esta semana, não por coincidência, estive com algumas mulheres fortes e corajosas. Falamos, por tabela, da tal dor da separação. Uma delas largou a carreira bem sucedida e, aos 40, foi viver um amor de verdade nos Estados Unidos. Largou a estabilidade, a casa bem montada, um emprego de fazer inveja às amigas e foi andar de bicicleta numa cidade pequena onde, claro, empreende com o novo marido. Casou e está recomeçando a viver. Outra, também largou a carreira corporativa e, com filhos pequenos, desenhou um novo negócio que vai colocar em prática a partir do ano que vem. Tudo a ver com ela. O olho brilha quando conta detalhes do projeto. Uma terceira, que conheci ontem à noite, do nada, no aniversário de uma grande amiga, estava em São Paulo para um final de semana relâmpago com o namorado, também americano, que conheceu num congresso meses atrás. Ela do Paraná, terapeuta. Ele psiquiatra. Ela, filhos pequenos. Ele, filhos criados. Ela não falava inglês. Estão aprendendo a se comunicar. E o inglês dela flui que é uma beleza perto dele. Não há planos de futuro. Não há perspectivas. Mas estão vivendo a história em encontros pelo mundo, quando dá. Step by step.
Não são histórias de amor. São, no meu ponto de vista, histórias de pessoas que têm a coragem de viver a dor da ruptura. Que se expuseram para o novo e se libertaram de amarras. Aos 9 meses, passamos pela primeira de muitas destas quebras. A ida para o colégio, a saída da casa dos pais (no meu caso, aos 17 anos), a mudança de cidade, um novo emprego, um projeto que sai do papel. E não precisa mudar de país ou largar o emprego para viver estas quebras. Às vezes, as mudanças são sutis. Ainda assim, intensas e transformadoras. Todas elas carregam em suas essências as estrias do crescimento, o frio na barriga do desconhecido. Mas são graças a elas que temos a infinita capacidade de nos reinventarmos. A descoberta da Carolina de que ela é só é também uma feliz oportunidade de se perceber única. E cheia de possibilidades. Quando descobrimos que somos, de fato, sozinhos, isto nos liberta. Estamos com as pessoas – pelo tempo que for – porque nos enxergamos através delas. São todas bem-vindas. Mas a trajetória é nossa. O dia que descobrirmos que somos nós os verdadeiros amores das nossas vidas, a dor pode doer menos. Ou, se doer, ao menos é uma dor que abre novos caminhos. E não aquela que nos aprisiona como crianças amedrontadas embaixo da cama.
Esta semana, não por coincidência, estive com algumas mulheres fortes e corajosas. Falamos, por tabela, da tal dor da separação. Uma delas largou a carreira bem sucedida e, aos 40, foi viver um amor de verdade nos Estados Unidos. Largou a estabilidade, a casa bem montada, um emprego de fazer inveja às amigas e foi andar de bicicleta numa cidade pequena onde, claro, empreende com o novo marido. Casou e está recomeçando a viver. Outra, também largou a carreira corporativa e, com filhos pequenos, desenhou um novo negócio que vai colocar em prática a partir do ano que vem. Tudo a ver com ela. O olho brilha quando conta detalhes do projeto. Uma terceira, que conheci ontem à noite, do nada, no aniversário de uma grande amiga, estava em São Paulo para um final de semana relâmpago com o namorado, também americano, que conheceu num congresso meses atrás. Ela do Paraná, terapeuta. Ele psiquiatra. Ela, filhos pequenos. Ele, filhos criados. Ela não falava inglês. Estão aprendendo a se comunicar. E o inglês dela flui que é uma beleza perto dele. Não há planos de futuro. Não há perspectivas. Mas estão vivendo a história em encontros pelo mundo, quando dá. Step by step.
Não são histórias de amor. São, no meu ponto de vista, histórias de pessoas que têm a coragem de viver a dor da ruptura. Que se expuseram para o novo e se libertaram de amarras. Aos 9 meses, passamos pela primeira de muitas destas quebras. A ida para o colégio, a saída da casa dos pais (no meu caso, aos 17 anos), a mudança de cidade, um novo emprego, um projeto que sai do papel. E não precisa mudar de país ou largar o emprego para viver estas quebras. Às vezes, as mudanças são sutis. Ainda assim, intensas e transformadoras. Todas elas carregam em suas essências as estrias do crescimento, o frio na barriga do desconhecido. Mas são graças a elas que temos a infinita capacidade de nos reinventarmos. A descoberta da Carolina de que ela é só é também uma feliz oportunidade de se perceber única. E cheia de possibilidades. Quando descobrimos que somos, de fato, sozinhos, isto nos liberta. Estamos com as pessoas – pelo tempo que for – porque nos enxergamos através delas. São todas bem-vindas. Mas a trajetória é nossa. O dia que descobrirmos que somos nós os verdadeiros amores das nossas vidas, a dor pode doer menos. Ou, se doer, ao menos é uma dor que abre novos caminhos. E não aquela que nos aprisiona como crianças amedrontadas embaixo da cama.
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Entusiasmo.
Tem um monte de gente que eu curto, admiro, gosto de ler, ouvir. O Eduardo Galeano é um deles. Descobri um videozinho recente, direto da Praça Catalunya, na Espanha, onde ele fala, entre outras coisas, sobre o conceito de entusiasmo. Do grego, tem a ver com "ter os deuses dentro". Já comentei por aqui de um indiano que me contou que Deus vive dentro da gente. E já falei sobre "voltar a beber na própria fonte". Tudo a mesma coisa. Tudo faz muito sentido pra mim. Ora, se os deuses vivem dentro da gente, não dá pra tentar enfiá-los "goela abaixo" nos corpos de outras pessoas. Eles já estão lá, adormecidos. Cabe a nós, se quisermos, tentarmos despertá-los. Já nascemos empoderados. Temos todas as ferramentas. Mas a escolha de usá-las ou não é somente nossa.
Nunca vi tanta gente desanimada, reclamando. Também nunca encontrei tanta gente "entusiasmada" por aí. Gente que tem tomado as rédeas da própria vida e recriado suas histórias. Que tem construído legados. Este é outro conceito que eu gosto muito. E que aprendi com o Nuno, um português amigo também já citado em posts anteriores. Segundo o que ele me contou, morremos quando deixamos de ser lembrados. Não quando nosso corpo vai embora. Quando construímos algo tão bacana em vida, que somos citados de forma recorrente em conversas, mesmo quando já não estivermos por aqui.
Nesta semana encontrei uma turma "entusiasmada" de jovens, num projeto lindo de uma empresa de tecnologia. Engenheiros, ex-bancários, todos podiam estar curtindo uma aposentadoria generosa. Mas decidiram empreender. Não contentes com isto, têm criado encontros inovadores dentro da empresa. Fui chamada como "inspiradora" de um deles. Tem a ver com novos modelos de educação e com a descoberta de novos talentos. Colocaram 9 meninos (e uma menina), de 12 a 18 anos, classes sociais diferentes, vivências diversas, numa sala por algumas semanas (uma manhã por semana) para aprenderem alguns conteúdos e para pensarem nos seus futuros. Mostraram o mercado, contaram o bastidor de uma empresa de verdade e os ajudaram a enxergar o futuro. Quem deu as aulas? Os funcionários. Quem ajudou no fechamento? Euzinha. Uma delícia. Fiz com eles uma dinâmica de resgatar, num texto escrito a mão (eles não têm o hábito de escrever), cinco pessoas que foram fundamentais para chegarem ali naquele momento. Criaturas que foram definitivas na construção das suas personalidades. Apareceram, além de mães, pais e amigos, o Bob Dylan, o Steve Jobs, um tio amoroso que sempre jogou videogame com um deles e até a figura do game Pacman. Fiz o exercício mentalmente enquanto eles escreviam. E me revi crescendo e formando quem eu sou. Apareceu, claro, o meu pai, sempre uma referência intelectual pra mim, que me contou que eu escrevia bem, que carregava minhas poesias recortadas na carteira. Nunca morreu na minha memória. Ao mesmo tempo, pegando carona com o Nuno, me pego pensando em como serei lembrada daqui a alguns anos, quando não estiver por aqui. Serei, afinal, lembrada? Por quem? Em que contexto? Nascer e morrer não são escolhas que possamos controlar. Mas com 8 ou 80, temos sempre pela frente todas as possibilidades. Se depender dos meus deuses internos, animados como são, tenho muito trabalho pela frente. Tomara deixar na memória de alguns um pedacinho deste mundo novo que vem aí.
O link pro vídeo do Galeano que comentei. Conta que estamos parindo algo novo". "Hay otro mundo que nos espera", disse :) http://www.youtube.com/watch?v=j2IYgytRs90
Nunca vi tanta gente desanimada, reclamando. Também nunca encontrei tanta gente "entusiasmada" por aí. Gente que tem tomado as rédeas da própria vida e recriado suas histórias. Que tem construído legados. Este é outro conceito que eu gosto muito. E que aprendi com o Nuno, um português amigo também já citado em posts anteriores. Segundo o que ele me contou, morremos quando deixamos de ser lembrados. Não quando nosso corpo vai embora. Quando construímos algo tão bacana em vida, que somos citados de forma recorrente em conversas, mesmo quando já não estivermos por aqui.
Nesta semana encontrei uma turma "entusiasmada" de jovens, num projeto lindo de uma empresa de tecnologia. Engenheiros, ex-bancários, todos podiam estar curtindo uma aposentadoria generosa. Mas decidiram empreender. Não contentes com isto, têm criado encontros inovadores dentro da empresa. Fui chamada como "inspiradora" de um deles. Tem a ver com novos modelos de educação e com a descoberta de novos talentos. Colocaram 9 meninos (e uma menina), de 12 a 18 anos, classes sociais diferentes, vivências diversas, numa sala por algumas semanas (uma manhã por semana) para aprenderem alguns conteúdos e para pensarem nos seus futuros. Mostraram o mercado, contaram o bastidor de uma empresa de verdade e os ajudaram a enxergar o futuro. Quem deu as aulas? Os funcionários. Quem ajudou no fechamento? Euzinha. Uma delícia. Fiz com eles uma dinâmica de resgatar, num texto escrito a mão (eles não têm o hábito de escrever), cinco pessoas que foram fundamentais para chegarem ali naquele momento. Criaturas que foram definitivas na construção das suas personalidades. Apareceram, além de mães, pais e amigos, o Bob Dylan, o Steve Jobs, um tio amoroso que sempre jogou videogame com um deles e até a figura do game Pacman. Fiz o exercício mentalmente enquanto eles escreviam. E me revi crescendo e formando quem eu sou. Apareceu, claro, o meu pai, sempre uma referência intelectual pra mim, que me contou que eu escrevia bem, que carregava minhas poesias recortadas na carteira. Nunca morreu na minha memória. Ao mesmo tempo, pegando carona com o Nuno, me pego pensando em como serei lembrada daqui a alguns anos, quando não estiver por aqui. Serei, afinal, lembrada? Por quem? Em que contexto? Nascer e morrer não são escolhas que possamos controlar. Mas com 8 ou 80, temos sempre pela frente todas as possibilidades. Se depender dos meus deuses internos, animados como são, tenho muito trabalho pela frente. Tomara deixar na memória de alguns um pedacinho deste mundo novo que vem aí.
O link pro vídeo do Galeano que comentei. Conta que estamos parindo algo novo". "Hay otro mundo que nos espera", disse :) http://www.youtube.com/watch?v=j2IYgytRs90
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