domingo, 2 de junho de 2013

Membrana permeável.

Tenho conversado muito sobre esta história de "construir histórias", e não, simplesmente contá-las. Vale para uma empresa, que constrói sua marca, sua bagagem, seu DNA a partir das inúmeras interações que tem com todos os seus públicos. Não existe a ilusão do controle, de que se faz algo e sai por aí divulgando, como se as pessoas fossem aceitar sem questionar. Vale para as nossas identidades pessoais.
Somos o que somos pelas interações que vivemos, pelas pessoas com quem convivemos, pelos lugares onde estivemos, e assim vai. Mas para que esta construção seja realmente rica e plena em possibilidades, é preciso um exercício de desapego, de libertar-se de algumas amarras, de conceitos pré-concebidos para, então, deixar-se permear por outras influências, culturas, olhares, vivências. Conheço muita gente que roda o mundo e volta praticamente igual. Viaja numa grande bolha, não interage, não vive, não caminha, não experimenta. Vai e volta simplesmente. Casais que se fecham para o mundo, que não têm mais amigos e seguem juntos por absoluta falta de opção. Pena. Tão mais forte olhar lá fora e ainda assim voltar todo dia renovado e seguro de que aquela coisa toda, sim, faz sentido.
Não é preciso ir longe para provocar estas pequenas grandes mudanças. Saber escutar sem contra-argumentar é um primeiro passo bem bacana. Toda vez que eu faço um curso acabo me fundido não só com os conteúdos, mas com as histórias das pessoas. E assim, num verdadeiro efeito borboleta*, conheço gente que me apresenta outras e outras criaturas e que, aos poucos, mexem muito comigo.
Às vezes a vida nos obriga a testar a tal permeabilidade bem cedo. Quem mudou de cidade pra fazer faculdade sabe bem do que estou falando. Minha vinda para São Paulo foi também um pouco assim. Sem esta consciência toda da permeabilidade, entre optar por me queixar ou interagir, fui em busca da segunda opção. Fiz grandes amigos, conheci a cidade. Vivenciei como poucos e, depois de espernear um pouco (ok, um monte), deixei a grande capital se fundir com a minha alma. Aí a coisa fluiu. E não tive que esquecer quem sou, em essência, para fazer o movimento. Pelo contrário. Para que saibamos quem somos de fato, precisamos do contraste do outro como espelho. A beleza de ser está justo em relembrar nossos valores essenciais. Nos reafirmamos todos dia pelo núcleo que temos (da família, dos amigos etc) e pela dança maravilhosa de possibilidades que nossa membrana permeável nos oferece, tornando-nos seres mais leves, completos e, felizmente, mutantes.

* Efeito borboleta: pra quem não conhece e assim, muito simplificadamente, tem a ver com a teoria do Caos e com uma grande mudança desencadeada por um pequeno fenômeno. O bater de asas de uma borboleta pode, segundo a teoria, provocar fenômenos meteorológicos enormes do outro lado do planeta. Tem um filme com este nome (Efeito Borboleta), que fala sobre sobre o tal efeito. Na trama, o jovem, com capacididade sobrenatural, volta ao passado, faz pequenas mudanças, e reescreve sua história várias vezes. 

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